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Cinema: "Há que ser paciente e implacável num mundo desigual"

A cineasta húngara Ildikó Enyedi, que está em Lisboa a propósito do Lisbon & Sintra Film Festival, admitiu à agência Lusa que ainda há desigualdade de género na produção e realização cinematográfica.

Cinema: "Há que ser paciente e implacável num mundo desigual"
Notícias ao Minuto

06:18 - 25/11/17 por Lusa

Cultura Ildikó Enyedi

"No meu trabalho, o que eu tento fazer é ser paciente e implacavelmente convincente", para tentar esbater essa lacuna entre homens e mulheres na indústria cinematográfica, e facilitar o caminho para novas gerações.

Ildikó Enyedi recorda que, no mundo ocidental, "ainda está tudo muito fresco", com pouco mais de um século de luta pelos direitos das mulheres, e que, por isso, é preciso "ser paciente e ser forte": "Faz as tuas coisas, mostra-as, luta por elas", disse.

Com 62 anos, Ildikó Enyedi lutou mais de uma década para conseguir fazer "Corpo e alma", uma estranha história de amor e compaixão, passada num matadouro, com laivos de realismo mágico, que só se estreia nos cinemas portugueses no dia 21 de dezembro.

A história tem mais de dez anos e foi escrita num ápice, a partir da ideia de duas personagens vulneráveis - que no sono partilham exatamente o mesmo sonho - e de um sentimento muito forte de compaixão que a cineasta disse querer partilhar.

"Esse era o objetivo: mostrar os tesouros escondidos, a vulnerabilidade, que as pessoas sejam um pouco mais pacientes umas com as outras, e curiosas sobre o que está por baixo da superfície", disse.

Distinguido em fevereiro com o Urso de Ouro e com o prémio da crítica do festival de Berlim, "Corpo e alma" é o primeiro filme de ficção da realizadora, em 18 anos, depois de "Simon Magus" (1999). Pelo meio ainda trabalhou para a HBO Europe, mas não conseguiu fazer nenhuma ficção por falta de financiamento.

Ildikó Enyedi recordou que o sistema húngaro de apoio público ao cinema colapsou e que só se reergueu há seis anos, com a criação de um novo fundo financeiro.

"Como todo o cinema europeu, também o cinema húngaro depende de fundos públicos", reconheceu a cineasta, sublinhando que a produção cinematográfica na Hungria vive agora "um momento muito forte", porque não existe uma só corrente ou perspetiva.

"O que eu acho único é que todas estas pessoas que trabalham lado a lado, que representam abordagens profundamente distintas ao cinema, têm conseguido financiamento", explicou.

O Urso de Ouro de Berlim abriu-lhe portas em vários países, onde tem apresentado "Corpo e alma" com bastante aceitação do público - disse -, ao mesmo tempo que prepara uma nova longa-metragem de ficção, "The story of my wife", que deverá ser rodada no próximo verão.

O Lisbon & Sintra film Festival, que mostrou "Corpo e alma" fora de competição, termina no domingo.

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