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'Justiceiro': Produção da Netflix e Marvel expõe 'nervo' dos EUA

Plataforma de streaming libertou ao Notícias Ao Minuto os episódios da nova série, que estreia esta sexta-feira.

Notícias ao Minuto

11:00 - 14/11/17 por Raquel Lima

Cultura Séries

'Justiceiro' é como um nervo exposto dos Estados Unidos. A personagem criada como o antagonista da banda desenhada  número 129 de 'Homem-Aranha', em 1974, e agora adaptada pela Netflix, tem contornos demasiado reais para um país que contabiliza 53.328 incidentes com armas. Os números são relativos apenas a 2017, conforme os registos da organização sem fins lucrativos Gun Violence Archive.

A sexta produção resultante da parceria Marvel/Netflix, cujos 13 primeiros episódios ficarão disponíveis a partir desta sexta-feira (17), viu a sua divulgação atrasada em outubro, após o ataque que fez 58 mortos em Las Vegas. A plataforma de streaming decidiu, à data, que não era “o momento apropriado” para lançar 'Justiceiro' e cancelou, entre outras, a participação na New York Comic Con.

Ao contrário dos outros “heróis urbanos” da editora de Stan Lee, o fuzileiro naval Frank Castle não foi vítima de nenhum acidente químico, como Demolidor ou Jessica Jones, nem de uma experiência como Luke Cage. Totalmente fora da órbita de um herói, o Justiceiro é um superatirador com código de honra próprio e que se recusa a abandonar a culpa, o luto ou a sede de vingança por ter tido a família assassinada. “Felicidade é um pontapé nos testículos à espera de acontecer”, apregoa num dos diálogos.

Além da pontaria apurada, da habilidade em combate e em táticas de infiltração e guerrilha, Castle é empoderado, nos episódios libertados com antecedência pela Netflix ao Notícias Ao Minuto, por Jon Bernthal.  O ator sabe a dimensão da personagem, e parece não sair dela. Ao entrar num hotel na Argentina, em março de 2016, para a primeira conversa com a imprensa latina sobre o papel, estava sisudo, concentrado, e lembrou que muitos soldados norte-americanos pintavam a caveira que é símbolo da personagem nos próprios equipamentos de combate.

Naquela época, o veterano de guerra que matava mafiosos era apenas um convidado especial da segunda temporada de 'Demolidor'. A repercussão à chegada da personagem foi tanta que Castle ganhou uma série própria. “Achei que a caracterização estava incrível”, elogia o criador da série, Steve Lightfoot. A atuação orgânica e realista de Bernthal confere camadas à personagem que os predecessores do cinema não conseguiram.

O argumento de Lightfoot é amarrado e fluído e apresenta Castle exatamente após 'Demolidor', quando cobrou com sangue a vida dos que mataram a mulher e os dois filhos. Tecnicamente, as sequências de ação continuam com ritmo de cinema; as cenas de luta são muito bem coreografadas por Thom Williams, coordenador de duplos. Como nas outras séries da Marvel, uma equipa de realizadores reveza-se nos episódios de tons escuros e frios, entre eles, os premiados Andy Goddard e Dearbhla Walsh.

Num dos mais violentos livro de quadrinhos da Marvel, adaptado pela Netflix com classificação indicativa de 18 anos, a banda sonora também é marcante. Clássicos como 'Buffalo Blues', de Neneh Cherry , ou ainda 'Ain't That a Kick in the head', na voz de Frank Sinatra, pontuam cenas em que Castle acaba coberto de sangue.

No périplo de vingança, esbarra em agências como Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos, a CIA, o FBI. Completam o elenco, Ebon Moss-Bachrach, como David Linus Lieberman. Ben Barnes também tem um papel de destaque. É Billy Russo, amigo que serviu ao lado de Castle no Afeganistão e que agora ganha a vida como dono de uma empresa de segurança. Amber Rose Revah é uma agente com passado também em campo de batalha, assim como Jason R. Moore.

Enquanto decide o quão longe está disposto a ir na missão à qual se impôs, Castle encara o quão longe já foi no passado. Como em 'Wish It Was True', hit de The White Buffalo, ouvido numa cena que faz jus à banda desenhada: “Pátria, fui soldado por ti/ Fiz o que me pediste/ Foi errado, e tu sabias”.

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