Acabada de chegar às livrarias numa edição da D. Quixote, a obra, lançada hoje, "foi pensada para dar ao leitor uma imagem multifacetada das teorias e das práticas que orientaram o Império Russo, a URSS e a Federação da Rússia nas várias fases do seu desenvolvimento", escreveram José Milhazes e João Domingues na introdução.

O objetivo era também "ajudar a compreender mais profundamente o que levou e leva os dirigentes do maior país do mundo a agirem de uma ou de outra forma, tanto no interior do país como no campo da política externa, por via da sua interação com os povos e culturas vizinhos", indicaram.

Por se tratar de "um país com quase mil anos de uma história muito intensa", tiveram de fazer uma seleção, pois sabiam ser "tarefa impossível reunir num só livro textos de pensadores russos que espelhassem de forma completa e cabal as suas reflexões sobre problemas fulcrais do passado e do presente do país, acerca da relação da Rússia com o mundo, sobre a correlação entre o desejo de assimilar os valores espirituais e culturais universais e a vontade natural de manter a sua identidade nacional e histórica".

A seleção feita pretendeu traçar "um quadro variado e multicolor desse pensamento, não só porque ele, direta ou indiretamente, está presente na vida intelectual e política internacional, mas também, e principalmente, porque merece particular atenção em períodos de crise, de viragem na vida da sociedade russa, quando surge a necessidade de proceder a transformações radicais das estruturas económicas, sociais, políticas e ideológicas, quando se coloca a questão da via de desenvolvimento do país".

"E a Rússia encontra-se hoje num desses períodos fulcrais de procura do seu lugar no mundo", segundo os autores desta obra.

Assim, ao longo de cerca de 400 páginas, o leitor embarca numa viagem desde a origem do pensamento russo, com o cronista Nestor, até à atualidade, com as propostas para o futuro do atual Presidente russo, Vladimir Putin, e do último dirigente da União Soviética, Mikhail Gorbatchov.

Pelo meio, estão os eslavófilos e os ocidentalistas (entre os quais se conta Dostoievski), o populismo, anarquia e socialismo russos, as vésperas das tempestades revolucionárias (sobre as quais escreveram autores como Tolstoi), o pensamento marxista (com Lenine, Trotski e Estaline), o eurasismo da emigração russa e as dissidências de Soljenitsin e Sakharov, entre outros.

José Milhazes e João Domingues salientaram ainda "a diversidade técnica" com que se depararam.

"Abarcámos estilos de escrita tão diversos como aqueles que eram regra no primeiro século do ano 1000 d.C. e os que são atualmente vigentes [e], sempre que possível, procurou-se a fonte mais fidedigna dos autores, traduzindo diretamente das línguas russa e francesa", explicaram.