Meteorologia

  • 29 MARçO 2024
Tempo
11º
MIN 8º MÁX 15º

Vencedor do Prémio José Saramago tem "tantas coisas e tão desafiantes"

O romance 'A Resistência', de Julián Fuks, apresenta tantas coisas e tão desafiantes "que, às vezes, parece que a narrativa vai implodir", disse António Mega Ferreira, membro do júri do Prémio José Saramago, hoje atribuído ao escritor brasileiro.

Vencedor do Prémio José Saramago tem "tantas coisas e tão desafiantes"
Notícias ao Minuto

13:02 - 25/10/17 por Lusa

Cultura A Resistência

Na sua declaração, o escritor António Mega Ferreira afirmou que "há tantas coisas neste curto romance, tantas e tão desafiantes, que, às vezes, parece que a narrativa vai implodir". E acrescenta: "Mas não: com mestria literária notável, o autor suspende os momentos suscetíveis de desencadear as catástrofes à beira de qualquer desenlace, porque o romance não deve ser mais cruel do que a vida. Ou, se o é, deve sê-lo de forma implícita, resguardando a privacidade dos seres e a sua capacidade de resistirem ao tempo e aos desvarios da História".

Mega Ferreira acrescentou que o romance de Julián Fuks "é também uma demonstração magistral de como a língua literária portuguesa, aqui no seu modo brasileiro, se adapta bem aos tons sépia de um monólogo despojado, mas impiedoso, recitado 'sotto voce'[a meia voz]".

O júri da edição deste ano do Prémio José Saramago foi constituído pela poetisa angolana Ana Paula Tavares, pela professora de Estudos Portugueses da Universidade Nova de Lisboa, Paula Cristina Costa, pelo crítico literário e ensaísta, doutorado em teoria da Literatura e vice-presidente da Associação Portuguesa dos Críticos Literários, Manuel Frias Martins, e pela investigadora Nazaré Gomes dos Santos, da Universidade Autónoma de Lisboa, além do escritor António Mega Ferreira, de Pilar del Rio, presidente da Fundação José Saramago, e da escritora Nelida Piñon.

Manuel Frias Martins, por seu turno, afirmou: "Estamos perante um excelente romance. Colocando-se no registo de atestação de uma experiência pessoal intensa, Julián Fuks conseguiu alcançar em 'A Resistência' o difícil patamar da contenção discursiva no interior daquele arco simultaneamente emocional e intelectual que define as construções literárias mais cativantes".

Para este jurado, "a construção literária de 'A Resistência' situa-se num plano em que a maturidade da linguagem, a sobriedade de presentificação da estória e o alcance propriamente estético do desenho ficcional se oferecem ao leitor pela memória cultural daquilo que, felizmente, continua ainda hoje a ser valorizado como elevado conseguimento artístico".

Segundo Ana Paula Tavares, "o livro de Julián Fuks é uma história com várias histórias dentro e o ato de narrar desvela o nó das convergências que só se percebe pelo alinhamento da palavra em torno do que diz e do que esconde esse pacto da memória que toda a família transporta e passa de geração em geração".

"Pode-se herdar um exílio como se herda a casa do avô ou a rua onde, estendida ao sol, resiste a esperança", afirma a poetisa angolana.

Nazaré Gomes dos Santos afirma, por seu turno, que, "com este romance, Julián Fuks sabe conciliar com mestria os vários planos da narrativa, utilizando uma linguagem sóbria mas densa (firmeza do vocábulo, a frase certeira/lógica) e um ritmo narrativo extremamente fluente".

A investigadora realça igualmente "o nível de maturidade literária deste romance", que "pode ser visível também pelas marcas de 'distanciamento' que o narrador/autor imprime à narrativa, evitando assim (em função de muitas passagens pungentes) o clima dramático ou mesmo o tom lamechas, enfim, a resistência ao fácil". "Mais simples do ponto de vista formal e conciliando, de forma exemplar, o peso da memória individual com o peso da memória coletiva, o autor não deixa de ampliar as possibilidades de maior legibilidade para a sua obra".

A obra 'A Resistência', de Julián Fuks, publicada em 2015, recebeu, no ano passado, no Brasil, o Prémio Jabuti para o Melhor Romance.

O Prémio José Saramago, com caráter bienal, no valor de 25.000 euros, foi instituído pela Fundação Círculo de Leitores, em 1999, com o objetivo distinguir jovens escritores de língua portuguesa, cuja idade não ultrapasse os 35 anos, quando da publicação da obra.

Nas edições anteriores, foram distinguidos os escritores Paulo José Miranda, José Luís Peixoto, Adriana Lisboa, Gonçalo M. Tavares, Valter Hugo Mãe, João Tordo, Andréa del Fuego, Ondjaki e Bruno Viera Amaral.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório