Museu do Chiado fala de "desigualdades de género que se mantêm"
Um conjunto de obras de 14 artistas portugueses está a partir de hoje no Museu do Chiado, em Lisboa, para abordar as questões de "desigualdades de género que se mantêm na sociedade", de acordo com as curadoras.
© Facebook/Museu do Chiado
Cultura Exposição
Aida Rechena, diretora do Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, e Teresa Furtado, numa visita guiada para jornalistas, sublinharam a importância de lançar a reflexão sobre esta temática, tomando como base as obras expostas.
"Queríamos avaliar a forma como a arte portuguesa está a tratar estas questões, e, para isso, convidámos estes artistas de várias gerações, que se pronunciam sobre a identidade e o género, construções socioculturais, mas que também são, cada vez mais, uma opção pessoal", disseram à agência Lusa.
Intitulada "Género na Arte. Corpo, sexualidade, identidade, resistência", a exposição abre ao público na sexta-feira, permanecendo no Museu do Chiado até 11 de março de 2018, e conta com criadores como Alice Geirinhas, Ana Pérez-Quiroga, Ana Vidigal, Carla Cruz, Cláudia Varejão, Gabriel Abrantes, Horácio Frutuoso, João Gabriel, Maria Lusitano, Miguel Bonneville e Vasco Araújo.
As curadoras selecionaram obras criadas sobre esta temática, a partir de 2000 até à atualidade, sendo algumas inéditas. Duas foram encomendadas à artista Ana Pérez-Quiroga e à dupla João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira.
Uma das obras inéditas, intitulada "Stereotype poof! Is gone", de Ana Pérez-Quiroga, consiste numa instalação com 37 fotografias de mulheres assumidamente lésbicas, dentro do Museu do Chiado.
"São mulheres de várias idades e condição social que se ofereceram para ser fotografadas e dar a cara pela sua identidade sexual, como pessoas", explicou a artista à Lusa, acrescentando que o objetivo foi "desmistificar a imagem estereotipada que a sociedade tem das lésbicas".
João Pedro Vale, que, em conjunto com Nuno Alexandre Ferreira, criou a instalação inédita baseada na 'performance' "Palhaço rico fode palhaço pobre", sublinhou à Lusa a importância de abordar a questão da diferença, e da forma como é olhada pela sociedade.
"No século XIX, as mulheres tatuadas apareciam em feiras de aberrações, e hoje as tatuagens banalizaram-se, também entre mulheres", comentou, sobre a importância dos símbolos e da sua aceitação social e cultural.
Thomas Mendonça apresenta a peça, também inédita, "Resting P(A)lace", com um conjunto de cerâmicas e desenhos inseridos numa instalação completada com objetos, mobília e fotografias da infância.
"Tive uma infância muito livre quanto aos objetos com os quais queria brincar, fossem carros ou bonecas", comentou, também em declarações à Lusa.
João Gabriel, um dos artistas finalistas do Prémio EDP Novos Artistas deste ano, apresenta no museu um conjunto de pinturas inéditas.
Questionado pela Lusa sobre a pertinência de participar numa exposição com esta temática, disse: "O mais importante é que os artistas se reúnam para abordar estas questões que têm atualidade, e sobretudo fazê-lo num museu".
Na mesma linha, a diretora do Museu do Chiado, Aida Rechena, disse à Lusa que, com a outra curadora, tem acompanhado o trabalho de vários artistas nesta área, "que continua a ser premente e pertinente de abordar".
Deu como exemplo uma retrospetiva sobre as questões de género na arte, na galeria Tate Modern, em Londres, que foi muito visitada.
Por outro lado, recordou o caso de um museu do Rio Grande do Sul, no Brasil, onde uma exposição sobre o mesmo tema foi fechada 15 dias após ter aberto, devido à pressão de grupos que se manifestaram contra a iniciativa, nas redes sociais.
"As questões de género ainda não estão muito resolvidas no plano social e cultural, daí que seja tão importante focá-las", defendeu.
Sobre a hipótese de esta exposição no Museu do Chiado possa provocar polémica, disse: "Se isso acontecer é bom, porque os museus não têm de ser neutros".
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