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A poesia de Rui Knopfli regressa com duas antologias

A poesia de Rui Knopfli regressa às livrarias portuguesas com duas novas antologias, "Uso Particular" e "Nada Tem já Encanto", que reúnem perto de 200 poemas, dos oito livros do escritor, publicados entre 1959 e 1997.

A poesia de Rui Knopfli regressa com duas antologias
Notícias ao Minuto

12:56 - 12/10/17 por Lusa

Cultura Livros

'Nada Tem já Encanto' sai na sexta-feira, tem pouco mais de 130 poemas, escolhidos por Pedro Mexia, prefácio do ensaísta Eugénio Lisboa, que privou com Knopfli, e chancela da Tinta-da-China. 'Uso Particular', publicada pela editora Do Lado Esquerdo, reúne 112 poemas "bastante representativos" (65 em comum com a anterior), "numa escolha muito pessoal" dos editores Maria Sousa e Nuno Abrantes, com prefácio do escritor António Cabrita.

Os dois volumes congregam pouco mais de metade da produção poética de Rui Knopfli, surgem quando passam 85 anos sobre o nascimento do escritor, em Moçambique, e 20 sobre a sua morte, em Lisboa, ocorrida depois de quase duas décadas de vida em Londres, num exílio iniciado muito antes, já patente na obra de estreia, 'No País dos Outros'.

De acordo com Eugénio Lisboa, trata-se aliás de um "duplo exílio", constantemente vivido por Knopfli, expresso na obra, relacionado com a infância, a sua perda, e com a lucidez com que identificou as transformações em curso no continente africano.

O "exílio existencial, talvez o mais poderoso, porque mais incurável", prende-se com "a sua expulsão definitiva do paraíso da infância", lugar da "única felicidade possível", recorda Eugénio Lisboa, citando a intensidade da luz de África, das praias, dos sons e dos cheiros, na escrita do autor.

Quanto ao "exílio geográfico", sublinha o ensaísta a capacidade de Knopfli de olhar o inevitável, sem "eufemismos alusivos", como aconteceu logo na obra de estreia, com o seu "céu de chumbo e baionetas caladas", que já entendia como inevitáveis, cinco anos antes do início da guerra em Moçambique.

O escritor António Cabrita chegou a este país anos depois de Knopfli ter partido, e reconhece só então ter percebido "uma sensibilidade à flor da pele", capaz de traduzir, "melhor do que todos os outros", o mal-estar "do fim de época".

Knopfli nasceu em Inhambane, em agosto de 1932, pouco antes de a família se mudar para Lourenço Marques, atual Maputo. Foi delegado de propaganda médica, até 1974, mas, acima de tudo, foi escritor, primeiro em publicações como Itinerário, depois nos suplementos literários de A Voz de Moçambique e A Tribuna (que chegou a dirigir), a par da publicação dos livros: "O País dos Outros" (1959), "Reino Submarino" (1962), "Máquina de Areia" (1964), "Mangas Verdes com Sal" (1967), "A Ilha de Próspero" (1972), obra sobre a Ilha de Moçambique, com textos e fotografias do poeta.

"São livros notáveis", escreve António Cabrita, que recorda igualmente os cadernos "Caliban" (1971-72), fundados com o poeta João Pedro Grabato Dias, mobilizando escritores como Jorge de Sena, Herberto Helder, António Ramos Rosa, Fernando Assis Pacheco, José Craveirinha.

Knopfli distinguiu-se igualmente como tradutor de T.S. Eliot, William Blake, Sylvia Plath, Dylan Thomas, W.B. Yeats, Robert Lowell, Ezra Pound, René Char, Apollinaire, Edward Albee.

Após a saída de Moçambique, em 1975, fixou-se em Londres, onde, durante 22 anos, foi conselheiro de imprensa da Embaixada de Portugal.

Surge então 'O Escriba Acorrentado' (1978), um dos "dois livros meditativos", a par de 'Máquina de Areia', que a antologia 'Nada Tem já Encanto' reproduz na íntegra. No percurso do poeta seguiram-se 'O Corpo de Atena' (1984), Prémio PEN Clube de Poesia, e o derradeiro, 'O Monhé das Cobras'.

Rui Knopfli morreu em Lisboa, no dia de Natal de 1997.

Foi uma vida "devorada pela depressão", "pelo desgaste quotidiano", "uma vida vastamente fracassada", escreve Eugénio Lisboa, que reconhece no entanto ser essa a grande vocação das vidas, "fracassarem".

"Como dizia o grande poeta Philip Larkin, um bom poema sobre o fracasso é um triunfo'". Por isso, o triunfo de Rui Knopfli é esse: "Um avultado punhado de bons poemas", conclui Eugénio Lisboa.

"Memória Consentida" (1982) foi a primeira coletânea, publicada pela Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM), a única surgida em vida do escritor, que inclui "um magro punhado de poemas (...) do 'Livro Melancólico de Tao Li'", que criara para a revista Poesia Nova.

"Obra Poética", de 2003, também da INCM, reúne os oito livros de Rui Knopfli e serviu de referência às duas antologias agora publicadas. Está incluída no Plano Nacional de Leitura e encontra-se esgotada.

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