O nome Enoque ainda permanece algo desconhecido no panorama musical português. No entanto, quem segue os HMB de certeza que já se cruzou com a voz deste jovem de 24 anos, que colabora frequentemente com a banda de Héber Marques.
Antes de apostar na sua carreira a solo, o percurso de Enoque foi marcado pela colaboração com diversos artistas, bem como pela produção musical. Mickael Carreira ou Áurea são alguns dos nomes com os quais trabalhou nos últimos tempos. Além disso, escreveu também o tema ‘Naptel Xulima’ dos HMB, no qual também empresta a sua voz.
Nascido em Belo Horizonte, no Brasil, chegou a Portugal com três anos. Rodeado pela influência da cultura brasileira, foi no seio familiar, primeiro, e no coro da Igreja, depois, que ganhou paixão pela música.
Depois da experiência que ganhou na composição, Enoque passou o último ano a trabalhar no seu disco, o primeiro álbum de originais, com lançamento previsto para 2018.
Até ao momento, são conhecidas duas músicas: ‘Nunca é Bom Demais’ e ‘Jura’, este último com participação de Anselmo Ralph. Em entrevista ao Notícias ao Minuto, Enoque fala sobre o seu crescimento enquanto músico, as suas influências e os seus projetos para o futuro.
Para quem não o conhece, quem é o Enoque?
Nasci no Brasil e vim para Portugal com três anos. Acabei por ser um cruzamento destas duas culturas, porque os meus pais trouxeram um pouco da cultura deles e eu cresci neste mix de Portugal/Brasil. Cresci rodeado de muita música e foi a partir daí que ganhei a paixão. Mais tarde, na adolescência, por volta dos 15/16 anos, comecei a cantar com o Héber Marques [dos HMB], num projeto gospel. Depois, comecei a tocar ao vivo com a banda e de há uns tempos para cá, mais pelo desafio de outras pessoas, fui empurrado a procurar a minha identidade e a desenvolver-me enquanto artista. Foi a partir daí que comecei a escrever canções.
Até agora tem trabalhado sobretudo com outros artistas. O que o levou a querer lançar uma carreira a solo?
Inicialmente, tive várias oportunidades para escrever para outras pessoas, mas faltava aquele lado que eu queria passar, mais meu, e acho que fui descobrindo, através da música, maneiras diferentes de me expressar, expressar o que vivia e o que pensava. Foi um pouco assim que ganhei vontade de escrever as minhas próprias canções, falar de coisas íntimas. Quando escrevia para outras pessoas não era tão ligado aquilo que é o Enoque.
Que papel é que a experiência na produção musical assumiu no seu crescimento enquanto músico?
De certa forma, foi um estágio. Escrever canções com outras pessoas, com mais experiência, foi uma aprendizagem para mim, poder ver como as coisas funcionam, o que realmente passa para as pessoas quando escrevemos uma canção, o que as faz identificar com aquilo de que estamos a falar. Foi importante para escrever e expressar-me melhor nas minhas canções.
Acredito que um artista pode ser bastante eclético naquilo que apresentaColabora frequentemente com os HMB. De onde surgiu esta colaboração?
Inicialmente, eu cantava com o Héber [Marques] num projeto gospel, de música evangélica. Depois, em 2012, os HMB procuravam algumas vozes para a banda e comecei a acompanhá-los, quando lançaram o primeiro disco. Já em 2014, convidaram-me para participar numa música, que acabou por ser a ‘Naptel Xulima’, que significa ‘não percas tempo a chupar limão’ [risos].
Agora que está a começar uma carreira a solo, a colaboração com os HMB será para continuar?
Neste momento, estou a fazer as duas coisas. Só o futuro vai dizer se vou continuar com eles ou não. Enquanto conseguir, sim.
Quem são as suas principais referências musicais? Como é que essas influências se traduzem na sua música?
Lembro-me de ser muito novo e ver MTV. Ficava fascinado com o Justin Timberlake e com o Michael Jackson. Foi uma estética que me fascinou e que, ao longo do meu crescimento, foi influenciando a minha música. Também gosto bastante de Stevie Wonder e Marvin Gaye, e recentemente também ganhei uma paixão nova pelo Frank Ocean.
Quero apresentar a minha identidade a solo, e nisso acho que vai haver sempre uma coerênciaO estilo de música dos nomes que refere são muito diferentes entre si. Sente que consegue cantar diversos géneros musicais?
Sim. Acredito que, hoje em dia, um artista pode ser bastante eclético naquilo que apresenta, o que é bom, pois faz sentido haver um cruzamento de vários géneros e identidades musicais. Há cada vez mais liberdade para fazê-lo. Identifico-me a fazer uma balada mais romântica como o Stevie Wonder ou o Frank Ocean, ou ter uma música mais dançável, como o Justin Timberlake.
Mas em que género musical se sente mais confortável?
Talvez por estar mais ligado à Igreja, acho que a música soul faz parte da minha identidade. Mas também no R&B ou no Hip-Hop. Estou aberto a experimentar tudo o que puder, a liberdade é algo de muito bom na música. Quero apresentar a minha identidade a solo, e nisso acho que vai haver sempre uma coerência. Mas com outros artistas, porque não experimentar?
Recuemos até ao momento em que se juntou a um coro religioso. Foi um momento importante para aperfeiçoar a sua voz?
Foi uma fase muito importante para mim para começar a cantar em público.
Toda a cultura brasileira acaba por ser algo que faz parte de mimA religião assume um papel muito importante na sua vida. Essa religiosidade reflete-se no seu dia a dia, mais particularmente enquanto músico?
Acredito em Deus e essa é a essência de tudo. A minha crença influencia a minha maneira de estar, a minha maneira de viver, as escolhas que faço. Reflete-se em todas as áreas da minha vida, desde a área profissional à pessoal.
De que forma é que a cultura brasileira está presente na sua música?
Nos últimos tempos, talvez não esteja tão ligada, foi algo que esteve mais presente na minha infância. Enquanto eu morava com os meus pais, havia sempre música brasileira em casa e, de certa forma, isso faz parte da minha identidade, do meu gosto pelos ritmos quentes. Toda a cultura brasileira acaba por ser algo que faz parte de mim. Não sei explicar muito bem, mas sei que ela está em mim.
Em 2016, saiu o seu primeiro single, ‘Nunca é Bom Demais’. Fale-me um pouco sobre esse tema.
Foi um dos primeiros temas que escrevi em toda a minha vida. O refrão veio-me à cabeça, a música ainda não estava muito completa, e acabei por completá-la meses depois. Também a produção foi um processo complicado, porque o caminho que estávamos a seguir ainda era incerto, eu próprio ainda estava a descobrir a minha identidade enquanto artista.
Mas, basicamente, é uma música que fala sobre boa disposição, sobre não estarmos preocupados com as expectativas dos outros. Se nunca é bom demais para ti, olha, paciência [risos].
Quando é que a música lhe vem à cabeça pela primeira vez?
Devia ter uns 19 ou 20 anos. Há quatro anos.
Vai ser o meu primeiro álbum e estou a ser muito meticuloso. Quero ter orgulho naquilo que vou lançarComo é que se consegue manter uma música durante tanto tempo na cabeça? Acaba por ser reflexo do seu crescimento musical.
Fazer música é sempre um processo diferente. Pelo menos para mim, não existe a fórmula de sentar à mesa e escrever uma canção. Nem sempre a canção em si fica completa, e o processo leva, por vezes, mais tempo. Depois há também todo o processo da produção musical, que tanto pode ser rápido como lento.
Falemos agora do segundo single, ‘Jura’, que conta com a participação do Anselmo Ralph. Conte-me mais sobre esta colaboração.
Foi muito bom trabalhar com ele. Conheci o Anselmo [Ralph] depois de lançar o ‘Nunca é Bom Demais’. De alguma forma, ele teve acesso à música e gostou muito. Eu já tinha o ‘Jura’ e ele quis participar na canção. A participação dele acabou por trazer um sabor muito especial à música, elevou-a para outro nível, e fiquei muito orgulhoso do resultado final.
O lançamento do álbum está previsto para o início de 2018. Como está o processo criativo?
Vai ser o meu primeiro álbum e estou a ser muito meticuloso com tudo, porque é a primeira vez e quero fazer as coisas bem e ter orgulho naquilo que vou lançar. Neste momento, tenho o álbum quase completo, que deverá ter entre 10 a 12 músicas. Talvez falte terminar uma ou duas músicas. Em princípio vamos ter álbum no início de 2018, se tudo correr bem. Esperemos que sim [risos].
Se a minha música fizer o dia a alguém já é uma vitóriaAté lá, o que podemos esperar do Enoque? Novas colaborações? Novos singles?
Quem sabe, quem sabe… [risos] Em princípio ainda vão ouvir um bocado mais do disco, provavelmente uma música, antes de o álbum sair.
Qual é o seu principal objetivo neste momento?
Quero que as pessoas conheçam as minhas canções e o meu disco. Gostava mesmo que se ligassem ao que eu canto. Se a minha música fizer o dia a alguém já é uma vitória.
Como tem sido o feedback até agora?
Tem sido muito bom ver que as pessoas gostam daquilo que estou a fazer. Muitas pessoas só agora descobrem quem é o Enoque, porque começam a ouvir falar deste rapaz. Em breve, espero começar a tocar ao vivo [a solo]. Mas, para já, estou focado em terminar o disco e só depois vou focar-me nos concertos.