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Pinturas, fotos e desenhos mostram em Lisboa impacto da Grande Guerra

Fotografias, desenhos e pinturas, alguns deles inéditos, alusivos à participação portuguesa na Grande Guerra, vão estar expostos na Gulbenkian, em Lisboa, a partir de sexta-feira, guiando o visitante através das vivências e experiências da participação portuguesa naquele conflito.

Pinturas, fotos e desenhos mostram em Lisboa impacto da Grande Guerra
Notícias ao Minuto

14:59 - 29/06/17 por Lusa

Cultura Gulbenkian

Intitulada "Tudo se desmorona", a exposição vai buscar o nome ao poema "The Second Coming", de poeta irlandês William Butler Yeats, escrito em 1919, quando a Irlanda - e a Europa - vivia à sombra dos tumultos do rescaldo da Primeira Guerra Mundial, e que a certa altura diz "things fall apart", numa alusão à ausência de estratégia nas sociedades europeias.

A explicação foi dada hoje aos jornalistas por Pedro Aires Oliveira, um dos curadores da exposição, que acrescenta que esta imagem é a que preside a esta "exposição abrangente e ambiciosa nos materiais", que mostra os impactos sociais e culturais da guerra.

Trata-se de uma mostra "muito documental e variada, com muita informação histórica e vários artefactos, da pintura, ao desenho, da banda desenhada ao fotojornalismo", acrescentou.

Há um conjunto de textos de sala com a cronologia que acompanha a exposição, bem como um jornal da exposição, e que começa com o início da guerra e o "ano complicado" de 1917, da partida do Corpo Expedicionário Português para França, do descontentamento crescente, dos abastecimentos afetados, dos açambarcamentos, dos circuitos comerciais interrompidos e das revoltas de fome.

A mostra termina no pós-guerra, com a tentativa de resgatar a memória da participação portuguesa no conflito.

Entre as obras expostas alusivas a todo este período, encontram-se algumas pertencentes a coleções privadas, maioritariamente do exército, que são aqui tornadas públicas pela primeira vez, como é o caso de um conjunto de gessos de Teixeira Lopes, um tríptico do pintor José Joaquim Ramos ou o retrato de um soldado ferido na guerra, desenhado a carvão por Adriano de Sousa Lopes, que era o pintor oficial do Corpo Expedicionário Português.

Dividida em seis núcleos, a exposição abre com uma área designada "Guerra cultural e mobilização cívica", alusiva à forma como os escritores e os artistas primeiro se mobilizaram face à guerra iniciada em 1914.

Nessa sala encontram-se fotografias da partida das tropas para África, por Joshua Benoliel, uma caricatura de Portugal e da Alemanha, por Cristiano Cruz, que mostra um Zé Povinho, frente à Alemanha, com o saco das "colónias" às costas.

Jornais da época, como "A Lucta", revelam colunas em branco devido à censura, fotografias mostram a presença das mulheres nas fábricas, nomeadamente na Fábrica da Pólvora, em Chelas, e outras fotos, de Arnaldo Garcez, retratam a presença de mulheres na guerra, como as enfermeiras ao serviço da Cruz Vermelha.

O segundo núcleo é dedicado ao "ano crítico" de 1917, em que "a situação do país está volátil" e em que, uma vez mais, fotos de Joshua Benoliel mostram o embarque das tropas para França e Sidónio Pais com revolucionários, lado a lado com páginas de jornais que noticiam as vagas de assaltos a padarias e mercearias, e os motins resultantes da "carestia de vida".

O terceiro núcleo é dedicado às "visões artísticas" e abre com um "ex-líbris de Amadeo de Souza-Cardoso", um quadro sem título, no qual se lê a palavra "entrada", tido inicialmente como dadaísta e sem significado histórico, que foi alvo de nova leitura em 2010, enquanto alusão pictórica da entrada de Portugal na Grande Guerra, explicou Ana Vasconcelos, também curadora da exposição.

Nesta sala tem também grande destaque um conjunto de desenhos a carvão sobre papel de cenas da guerra de Adriano Sousa Lopes, que deixou um testemunho da guerra, através de desenhos feitos em registo de diário gráfico da guerra.

No quarto núcleo, "cuidar dos vivos", ganha notoriedade o trabalho fotográfico de Arnaldo Garcez sobre os portugueses em França, e mostra-se a organização da sociedade civil para receber os soldados que regressavam, muitos prisioneiros, outros mutilados.

O penúltimo núcleo é dedicado aos "antagonismos e mudanças sociais" no pós-guerra, das quais se destacam a emancipação das mulheres, o novo-riquismo -- ilustrado por Jorge Barradas - e os 'night clubs', como o "Bristol" e o "Regaleira".

A exposição encerra com "a disputa pela memória", que traduz a necessidade de sarar as feridas da guerra, e em que, sobretudo através de livros e de cartazes, se evoca a dupla dimensão da participação portuguesa, entre os que a tentam legitimar e os que a condenam.

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