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David Leite lança nos EUA memórias sobre bipolaridade e gastronomia

O especialista em gastronomia David Leite, um dos escritores de referência nos Estados Unidos, lança esta semana as suas memórias, "Notes on a banana", nas quais descreve como um filho de açorianos, gay e bipolar, aprendeu a aceitar a sua identidade.

David Leite lança nos EUA memórias sobre bipolaridade e gastronomia
Notícias ao Minuto

11:50 - 14/04/17 por Lusa

Cultura Autor

O escritor, cronista de publicações como The New York Times, convidado regular de programas televisivos como os de Martha Stewart, já venceu o prémio Julia Child para melhor primeiro livro e o prémio James Beard de melhor 'site' sobre cozinha, em dois anos consecutivos.

David Leite decidiu escrever as suas memórias depois de partilhar no seu 'site' um artigo sobre a sua doença mental, intitulado "Desordem Bipolar e Julia Child, a minha terapeuta", numa referência à célebre 'chef' norte-americana dos anos de 1950/1960, autora de "Mastering the Art of French Cooking", que o filme de Nora Ephron "Julie & Julia", protagonizado por Meryl Streep, evocou em 2009.

"A resposta que recebi foi extraordinária - é o 'post' mais lido e comentado do 'site'", disse David Leite à agência Lusa. "Mas o 'email' que recebi de uma mulher, dizendo-me que desejava que o filho tivesse lido o texto antes de se ter matado, foi o que me convenceu que tinha de escrever este livro", acrescentou.

Com o título "Notes on a banana: A Memoir of Food, Love, and Manic Depression" ("Notas sobre uma banana: Uma memória de comida, amor e depressão maníaca", em tradução literal), o livro foi apresentado na quinta-feira, na livraria Barnes & Noble de Union Square, em Nova Iorque.

O título da obra vem da sua mãe, que lhe chamava 'banana' e escrevia mensagens nas peças de fruta que o filho levava para comer na escola.

David Leite nasceu no centro da comunidade açoriana de Fall River, em Massachusetts, filho de açorianos, mas cresceu sem orgulho nas suas origens portuguesas.

Mudou-se para Nova Iorque, estudou design, foi ator e publicitário, e só depois dos 30 anos, quando morreu a avó e os pratos tradicionais que cozinhava desapareceram, é que começou a descobrir a sua herança portuguesa.

Aceitar as suas origens, diz, foi "extremamente" importante para aceitar que também era homossexual e que sofria de doença mental.

"Para aceitar que era maníaco-depressivo e gay e não aceitar que era português, significaria que estava a escolher aquilo que quero acolher sobre a minha identidade. E a verdadeira aceitação é uma viagem de tudo ou nada, não existem tons de cinza", explicou à Lusa.

Em 2004, David Leite tornou-se cidadão português e passou um ano em Lisboa, recuperando a ligação ao país que a família perdera, quando o pai abdicara da sua cidadania (na altura, os dois países não aceitavam dupla nacionalidade).

Iniciou-se a escrever sobre comida falando sobre as receitas da sua família e o seu primeiro livro teve por título "The New Portuguese Table: Exciting Flavors from Europe's Western Coast" ("A Nova Mesa Portuguesa: Sabores Excitantes da Costa Ocidental da Europa").

David Leite publica em meios de comunicação como The New York Times, The Washington Post ou Saveur, vários dos seus artigos foram premiados e incluídos em antologias de escrita sobre comida, e é uma presença regular em programas de televisão e rádio como Cooking Today, de Martha Stewart, ou The Splendid Table, da NPR.

Leite ainda lida com doença mental, para a qual começou a ser tratado em criança, mas depois de 30 anos passados em especialistas foi diagnosticado com bipolaridade e tem os sintomas controlados.

Agora, espera que o seu livro ajude outros na sua viagem de autoaceitação.

"Espero muito que isso aconteça. Um dia gostava de receber um 'email' de um gay ou de uma pessoa com doença mental a dizer que, por causa do meu livro, não se matou. Esse seria o mais feliz dos dias", diz.

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