Os curadores Filomena Oliveira e Miguel Real disseram à agência Lusa que, pela primeira vez, vão ser mostradas ao público fotografias de Saramago em Mafra, na altura em que se preparava para escrever a obra.

Intitulada 'Era uma vez um rei devoto, um padre que queria voar e uma mulher com poderes', a exposição dá também a conhecer as capas das primeiras edições de "Memorial do Convento", assim como edições traduzidas em várias partes do mundo, tais como China, Israel, Polónia, Noruega ou Rússia, já depois de ter recebido o Prémio Nobel da Literatura, em 1998.

Patente até final de maio, a mostra integra sete das 35 telas inspiradas no enredo de 'Memorial do Convento', de autoria do designer e artista plástico José Santa Bárbara, autor de intervenções plásticas em várias estações do Metropolitano de Lisboa.

As 35 telas constituíram a exposição 'Vontades. Uma leitura do 'Memorial do Convento', que esteve patente em agosto de 2001 na Biblioteca Nacional e que veio dar "expressão pictórica" ao romance, levando Saramago nessa ocasião a admitir que teria descoberto, através dos quadros, o rosto de Blimunda.

A mostra documental integra ainda espólio de José Saramago destinado à escrita do romance, cedido pela respetiva Fundação, de que são exemplos as fichas de leitura de livros consultados pelo autor na Biblioteca Nacional, as anotações datilografas e manuscritas, um desenho seu da passarola de Bartolomeu de Gusmão, padre e cientista brasileiro que é também personagem da obra, ou as provas revistas da primeira edição de 1982.

A exposição mostra um conjunto de notícias e entrevistas de jornais a propósito da publicação de 'Memorial do Convento', um vídeo da peça de teatro inspirada na obra, que há dez anos a companhia Éter leva à cena no Palácio de Mafra e cuja adaptação da obra à peça é de autoria de Filomena Oliveira, e outro vídeo da representação da ópera 'Blimunda', no Teatro Scalla de Milão (Itália), em 1990.

Dividida em quatro núcleos temáticos, dedicados a D. João V, rei que mandou construir o palácio, a Mafra e seu palácio, a 'Memorial do Convento' e a José Saramago, a exposição afirma-se também pela estética da sua apresentação, a cargo de Jorge Silva e Marta Anjos.

Para os curadores, 'Memorial do Convento' "terá sido um dos romances mais importantes publicados em Portugal no último quartel do século XX", em que Saramago "libertou o romance de espartilhos clássicos, abrindo-o a uma liberdade criativa, daí em diante seguida por inúmeros autores".

A mostra documental integra-se nas comemorações dos 35 anos após a publicação de 'Memorial do Convento' e dos 300 anos do lançamento da primeira pedra do Palácio Nacional de Mafra, que se prolongam até 17 de novembro de 2017.

As comemorações são uma organização da Direção-Geral do Património Cultural/Palácio Nacional de Mafra, Câmara Municipal de Mafra, Escola das Armas, Paróquia de Mafra e Tapada Nacional de Mafra.

O programa prevê, ao longo do ano, conferências, visitas à Tapada Nacional, lançamento de livros, concertos a seis órgãos, encenação de uma peça de teatro baseada no "Memorial do Convento", de José Saramago, visitas subterrâneas a locais vedados ao público, exposições e espetáculos de 'videomapping' com fogo-de-artifício.