Organização do Festival Literário da Madeira faz balanço "positivo"
O diretor do Festival Literário da Madeira (FLM) fez hoje um balanço "positivo" da iniciativa, desdramatizando a ausência da escritora bielorrussa Svetlana Aleksievitch, Nobel da Literatura 2015.
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Cultura Iniciativa
"Começou de uma forma bastante dificultosa mas, apesar disso, o balanço é positivo", disse o diretor do FLM, Francesco Valentini, à agência Lusa.
O início do FML estava marcado para terça-feira com a presença da jornalista e escritora bielorrussa Svetlana Alexievich, mas acabou por ser adiado para o dia seguinte, porque o avião que transportava a Nobel da Literatura de 2015 não conseguiu aterrar na Madeira, devido ao vento forte.
"Foi um grande desgaste mas ela foi muito amável e comprometeu-se a voltar consoante a possibilidade da sua agenda", adiantou Francesco Valentini, gracejando que o "evento literário" se tornou no "vento literário".
Organizado pela Eventos Culturais do Atlântico (EÇA), o FLM foi este ano dedicado ao tema "Literatura e a Web - entre o medo e a liberdade" e decorreu o Teatro Municipal Baltazar Dias, no Funchal.
Esta manhã, no último dia do FLM, Viriato Soromenho-Marques e Frederico Lourenço foram os primeiros convidados a intervir numa 'conversa' sobre "Tudo me é permitido, mas não deixarei ser controlado por nada", tendo escolhido os temas da liberdade e do medo.
O professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Viriato Soromenho-Marques, fez a apologia do medo enquanto "estrutura dos seres humanos" e "expressão da finitude da condição humana", considerando que, nessa medida, pode ser um instrumento de contenção da "liberdade sem constrangimentos".
"O medo ajuda a perceber que há outros no mundo, que partilham o nosso tempo e o nosso espaço e que o mundo não é infinito e que, portanto, também temos de ter regras na forma como nos relacionamos com as coisas e com os outros e com uma coisa com a outra", explicou.
O escritor e filólogo, vencedor do Premio Pessoa 2016, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e tradutor da Bíblia do grego para português, Frederico Lourenço, observou, por seu lado, que, nos autores do Novo Testamento, na versão grega, "a palavra que é vista mais negativamente é a palavra liberdade e a palavra que é vista como tendo um potencial positivo é a palavra medo".
No novo Testamento, sublinhou, a palavra liberdade "só ocorre 11 vezes" e "nunca é posta na boca de Jesus".
"Na questão da liberdade e do medo, o medo é um conceito que não é necessariamente negativo; a liberdade é um conceito, na perspetiva do Novo Testamento, que não é necessariamente positivo, antes pelo contrário", referiu.
A sessão de encerramento teve a participação de Adam Johnson, Prémio Pulitzer 2013, e de Miguel Sousa Tavares.
Ao falar da influência da Internet na literatura, Adam Johnson revelou que escreveu sobre a Coreia do Norte "a partir de casa, na Califórnia por causa da Internet" lamentando, contudo, que as novas tecnologias tenham substituído, em muitos casos, o contacto pessoal no relacionamento entre as pessoas.
Pelo contrário, o jornalista e escritor Miguel Sousa Tavares manifestou-se "alérgico" às redes sociais porque "uma vez lá dentro já não se sai mais".
"Aquilo que vejo no futuro é que cada vez haverá menos leitores, mas serão melhores", vaticinou, elogiando quem nos aeroportos, na praia ou nas piscinas, lê livros.
"É uma pessoa especial mesmo que esteja a ler as "50 sombras de Grei". É melhor que nada", concluiu.
O FLM encerra à noite com o espetáculo Musical «O Horizonte» com Teresa Salgueiro, no Teatro Municipal Baltazar Dias.
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