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'São Jorge' vendido para distribuição na China e talvez em França

O filme português 'São Jorge' foi vendido para distribuição comercial na China, devendo seguir-se "provavelmente" França, afirmou hoje o realizador Marco Martins, em Macau, onde a longa-metragem faz a sua estreia asiática.

'São Jorge' vendido para distribuição na China e talvez em França
Notícias ao Minuto

13:05 - 11/12/16 por Lusa

Cultura Filmes

'São Jorge', que valeu a Nuno Lopes o Prémio Especial de Melhor Ator na secção 'Orizzonti' do Festival Internacional de Cinema de Veneza em setembro, é um dos 12 filmes da categoria de competição do primeiro Festival Internacional de Cinema de Macau, que decorre até terça-feira.

A exibição do filme -- que conta a história de um pugilista desempregado que trabalha em cobranças de dívidas para sobreviver -- tem lugar hoje à noite, na Torre de Macau, mas a venda para distribuição comercial para China foi 'fechada' ainda antes de chegar à Região Administrativa Especial, logo em Veneza, indicou o realizador em conferência de imprensa.

"O facto de ter sido vendido para distribuição na China deixou-me muito contente e curioso sobre a perceção que o filme teria aqui", afirmou, quando questionado sobre as expetativas relativamente ao público chinês.

Apesar de 'São Jorge' estar focado num "período específico" da história portuguesa, Marco Martins considera que a longa-metragem percorre uma narrativa universal.

"Quando faço um filme tento que seja absolutamente universal e percetível por qualquer cultura, faixa etária, que seja absolutamente universal independentemente do país em que seja visto e, nesse sentido, acho que o filme fala de sentimentos que são universais. Há um pano de fundo que é a crise -- sim --, mas depois é a história de um pai que tenta manter a sua família junta", realçou.

Marco Martins descreveu ainda a génese do filme, contando que foi um pouco por "acaso" que entrou no submundo dos cobradores de dívidas, porque a ideia original era fazer um filme sobre um pugilista amador.

A surpresa chegou quando começou a fazer a pesquisa nos ginásios de boxe -- onde "pensava que ia encontrar o cliché habitual dos que trabalham em empresas de segurança ou em discotecas ou em estabelecimentos prisionais", e acabou por encontrar uma série de boxers que trabalhavam em empresas de cobranças -- umas legais e outras legais.

"A partir do momento em que percebi qual era o trabalho que faziam, isso tornou-se mais importante que o boxe em si e foi ganhando um peso na história bastante grande", relatou Marco Martins, explicando que face às dificuldades, por serem "empresas e esquemas muito fechados", a pesquisa sobre esse mundo das cobranças difíceis foi feita nas entrevistas com os pugilistas que explicavam o processo.

Neste âmbito, descreveu também a intensa preparação do ator Nuno Lopes para vestir a pele do protagonista: a física, ao longo de cerca de um ano e meio, e ao nível da própria personagem e do acento específico da margem sul de Lisboa, por exemplo.

A inclusão de elementos de documentário -- com conversas sobre a situação política e social em Portugal -- também foi "ganhando importância", dado que inicialmente o guião era "muito clássico", explicou o cineasta. "Essas conversas eram mais interessantes do que estava originalmente no guião e, portanto, houve a vontade de trazer esse lado mais documental para o filme.

"Todas aquelas pessoas que vivem nos bairros - alguns dos cobradores, alguns dos devedores - são pessoas com quem as quais me fui cruzando ao longo da pesquisa", pelo que surgem "pequenos excertos de grandes diálogos" dessas pessoas que Marco Martins foi levando para o filme, fazendo com que elenco tivesse cada vez mais atores não-profissionais.

"Um aspeto também interessante foi que a ideia era fazer um filme social sobre a crise, quase como um filme mosaico sobre aquele período da 'troika' em Portugal, mas quando o universo das cobranças entrou de repente assustei-me porque tinha um filme de género na mão -- era de facto, quase um policial negro", relata, indicando que esse "cruzamento de géneros" ou "híbrido" lhe despertou o interesse para trabalhar "esses dois materiais muito distintos entre si".

Além disso, 'São Jorge' foi uma estreia para Marco Martins por ser o seu primeiro filme em digital, o que marcou uma "grande mudança" na linguagem: "Fizemos uma série de testes e o que nos pareceu mais interessante foi esta ideia de um filme passado de noite", algo, "de facto, fantástico".

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