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Prémio Pessoa: Frederico Lourenço ou o olhar de um cultura imensa

O escritor e filólogo Frederico Lourenço, vencedor do Prémio Pessoa 2016, escreveu, em 'O livro aberto', que a "Bíblia pode ser lida como o mais fascinante livro alguma vez escrito", "independente, porém, de uma questão de fé".

Prémio Pessoa: Frederico Lourenço ou o olhar de um cultura imensa
Notícias ao Minuto

19:26 - 09/12/16 por Lusa

Cultura Escritores

A Bíblia é "um texto que, no seu melhor, é de riqueza inesgotável, de ímpar magnificência expressiva, que a mente humana alguma vez terá conseguido imaginar", escreveu o autor, no prefácio 'O livro aberto - Leituras da Bíblia', publicado em 2015, quando já tinha encetado a tradução da chamada 'Bíblia Grega'.

Foi exatamente a investigação das raízes clássicas da cultura ocidental, e a oferta "à língua portuguesa das grandes obras de literatura clássica", como 'Odisseia' e 'Ilíada', de Homero, as tragédias de Eurípides, a poesia grega atribuída a Álcman e Teócrito ou os textos da Bíblia, que o júri do Prémio Pessoa realçou como "traço singular" do escritor e filólogo português.

Frederico Lourenço nasceu em Lisboa, em 1963, é licenciado em Línguas e Literaturas Clássicas na Universidade de Lisboa, onde fez o doutoramento com uma tese sobre os cantos líricos de Eurípides ('The Lyric Metres of Euripidean Drama'), e onde lecionou, de 1988 a 2009, antes de assumir o lugar de professor associado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde se mantém.

Dedicou-se ao estudo e tradução de clássicos, com destaque para Homero, mas também Eurípides ('Íon' e 'Hipólito') e, ao longo dos anos, alargou as áreas de investigação a Platão e Camões, aos estudos bizantinos, à germanística, assim como à história da dança e ao cinema, já presentes em muitas das colaborações com a imprensa escrita, que mantém desde a década de 1980, em títulos como Público, O Independente, Expresso ou Diário de Notícias.

Na sua obra literária conta-se a trilogia 'Pode um desejo imenso', Prémio PEN Clube, que se completou com os títulos 'Curso das Estrelas' e 'À Beira do Mundo', publicados entre 2002 e 2003.

Suceder-se-iam 'Amar não acaba' (2004), 'A formosa pintura do mundo' (2005), 'A máquina do Arcanjo' (2006), 'Caracteres' (2007) e os livros de poesia 'Santo Asinha e outros poemas' (2010) e 'Clara suspeita de luz' (2011).

Da obra ensaística fazem parte os títulos 'Grécia Revisitada' (2004), a organização da coletânea 'Ensaios sobre Píndaro' (2007), 'Novos Ensaios Helénicos e Alemães' (2008), 'Estética da Dança Clássica' (2014).

As traduções de Homero deram-lhe o Prémio D. Diniz da Casa de Mateus e o Grande Prémio de Tradução/PEN Clube. Recebeu o Prémio Europa -- David Mourão-Ferreira, em 2006, pelo conjunto da obra. Adaptou 'Don Carlos', de Friedrich Schiller, 'Ifigénia na Táurida', de Goethe, 'Íon', de Eurípides, 'Filoctetes', de Sófocles, com Luís Miguel Cintra, do Teatro da Cornucópia.

Colaborou com a Cinemateca Portuguesa, na programação, e na edição de vários catálogos dedicados a realizadores como James Whale, George Cukor, Frank Capra, Ernest Lubitsch, Anatole Dauman e Bernardo Bertolucci.

Na infância, viveu no Reino Unido, com a família, quando o pai, o filósofo Manuel S. Lourenço, foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, em Oxford.

No regresso a Portugal, nos anos de 1970, frequentou o Liceu Francês Charles Lepierre, estudou alemão no Goethe Institute, dedicou-se ao estudo de música - canto e piano, em particular -, tendo frequentado a Academia dos Amadores de Música, o Conservatório Nacional e a Escola Superior de Música de Lisboa.

Em 2007, reuniu em 'Valsas nobres e sentimentais' (2007), título que foi buscar ao compositor Maurice Ravel, crónicas, escritas para a imprensa e textos inéditos, que cruzam os seus gostos e inquietações na literatura (Camões, Sophia de Mello Breyner Andresen, Agustina Bessa-Luís, Thomas Mann, António Franco Alexandre), na música (Mozart, Domenico Scarlatti, as cantoras Maria Callas e Elisabeth Schwarzkopf), na cultura helénica e na herança bizantina.

São textos que "combina com pequenos esboços ficcionais e autobiográficos, assim como as interrogações, bem conhecidas dos [seus]leitores, sobre a difícil convivência da homossexualidade com a fé católica", como adiantou a editora Cotovia, que publicou quase toda a obra de Lourenço.

No ano passado, levou mais longe o cruzamento de referências e de memórias de carater pessoal em 'O Lugar Supraceleste'.

O seu olhar está também patente no humor satírico de 'Caractéres'. Frederico Lourenço inspira-se no original grego de Teofrasto, que Jean de La Bruyère revisitou no século XVII, e traduz a atualidade, através de "figuras-chave" que vão da "pata brava" ao "poeta mundano", do "gay homofóbico", ao "surfista", ao "política de direita", ao "monárquico de esquerda" e à "pintora chique".

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