Este é um projeto que apresentou pela primeira vez, em setembro do ano passado, em Almeirim, no Ribatejo, "agora ampliado", como disse o fotógrafo à Lusa.

No total são 31 fotografias de 40X70 centímetros "de corpos envolvidos em ingredientes culinários, que se movem em torno do universo que cada modelo escolheu, naquele momento, para o tempero da sua carne", afirmou.

"O seu olhar, a expressão do rosto, das mãos, do corpo são a apresentação de um ser feito alimento", reforçou o artista.

"Num espaço branco como uma janela de luz, cada um e cada uma sente a sua pele - toca-lhe, cheira-a, prova-a. Com ela combina odores, texturas, sabores que a temperam e a transformam num objeto novo, sedutor ou apenas provocador, manchado ou abjeto, mas sempre sensual", explicou o fotógrafo, de 28 anos.

A exposição desenvolve-se em torno dos sabores e alimentos do dia-a-dia, procurando "chamar à atenção, de uma forma artística, para todos desperdícios alimentares no mundo".

Na composição das fotografias foram utilizados alimentos como leite condensado, caldo verde, borras de café, mostarda, puré de batata, etc..

Todos "os alimentos utilizados estavam fora do prazo de validade", realçou o fotógrafo à Lusa.

"O projeto 'Flavors' começou a ser desenvolvido em janeiro do ano passado com pessoas de vivência comum que se mostraram disponíveis para fazer algumas experiências", recordou.

"Numa tentativa de quebrar barreiras, convidei duas pessoas com deficiência auditiva para fazer parte do projeto - para mim foi um desafio e uma experiência inesquecível poder fotografar essas pessoas e perceber que a arte pode ultrapassar qualquer forma de linguagem", contou Saavedra.

Passado mais de ano e meio sobre o início deste projeto, o fotógrafo tem atualmente, um olhar diferente: "cresci noutros sentidos, desenvolvi outros interesses, mas 'Flavors' continua a ser um conceito forte".

"Vi as pessoas reagirem das maneiras mais diversas -- da adoração à repulsa. 'Flavors' correspondeu assim à ideia original e foi sugerindo aos visitantes da exposição uma série de sentimentos fortes e íntimos, tal como eu pensei", disse.

"Ainda tenho vários convites para levar esta exposição a outras salas e galerias, mas, para já, estou a trabalhar em novos projetos em diferentes áreas, e também pretendo no próximo ano levar o meu trabalho até a minha terra natal, Itamaraju, no Estado da Bahia, no Brasil", rematou Bruno Saavedra.

Saavedra, em 2010, a convite da Casa de Portugal em Macau, colaborou com a instituição nas programações cultural e artística, e, no ano seguinte, começou a estudar fotografia com o fotógrafo António-Mil-Homens.

Regressado a Portugal em 2014, e depois de uma formação em maquilhagem, na Make Up School, começou a desenvolver vários projetos artísticos.

Em maio do ano passado desenvolveu o projeto artístico para o espetáculo de homenagem à fadista Argentina Santos, "Gosto da Parreirinha", levado à cena no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Depois de Almeirim, apresentou "Flavors" em fevereiro último, na Boutique da Cultura no Espaço Bento Martins, em Carnide, também na capital.