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Refugiados, Guantanamo e terrorismo em exposição de portugueses

Dois artistas portugueses inauguram hoje em Berlim a exposição conjunta 'Orange', que relaciona a cor laranja dos uniformes prisionais nos Estados Unidos com as túnicas das vítimas do Estado Islâmico e os coletes salva-vidas usados pelos refugiados.

Refugiados, Guantanamo e terrorismo em exposição de portugueses
Notícias ao Minuto

07:34 - 30/09/16 por Lusa

Cultura Berlim

"Foi a constatação da cor-de-laranja como uma espécie de recorrência estranha, como a cor do nosso tempo, inquietante", disse Ângelo Ferreira de Sousa, em entrevista à agência Lusa em Berlim, referindo que a cor funciona como ponto de partida para uma exibição que questiona os temas da atualidade política mundial.

"Primeiro, há uma espécie de diálogo nos uniformes dos Estados Unidos, sobretudo em Guantánamo, que se tornaram muito conhecidos (...). Inclusivamente, os membros terroristas do Daesh, chamado Estado Islâmico, quando executam as pessoas, usam também essas túnicas cor-de-laranja em resposta simbólica e mediática às túnicas prisionais dos Estados Unidos. Portanto não é uma casualidade", sustentou Ângelo Ferreira de Sousa, que preparou a exposição em conjunto com a artista Isabel Ribeiro.

A cor volta a chamar a atenção dos artistas quando surge em imagens associadas aos refugiados que chegam à Europa por mar, abandonando os coletes salva-vidas nas praias europeias que "muitas vezes são falsos porque as máfias, que se encarregam de transportar as pessoas dos territórios em guerra para a Grécia, vendem os produtos adulterados, que, na verdade, não têm segurança nenhuma", disse.

A exibição junta pintura, vídeo e fotografia, procurando criar "uma atmosfera entre o poético e o político", usando a recorrência da cor laranja "para fazer as pessoas refletirem sobre a situação do mundo atual, sobre estes acontecimentos que marcam a atualidade".

A instalação em vídeo conta a história de um migrante em Marrocos que atravessa o Estreito de Gibraltar a nado com ajuda de uma boia construída com garrafões de água vazios, acabando por ser repatriado pelas autoridades assim que chega a Espanha.

"Quando o conheci em Marrocos, ele dizia que estava à espera que o verão chegasse para tentar outra vez a travessia. Eu fiquei muito impressionado com esta ideia da pessoa que tenta uma e outra vez, da precariedade da questão da boia. O vídeo fala desta quimera, do chegar à Europa, do passar o Mediterrâneo, do fugir, do começar uma nova vida que, muitas vezes, não é mais do que isso: uma quimera", explicou o artista.

Já a secção de fotografia da exposição aborda o trabalho dos fotojornalistas e a forma como as notícias sobre estes temas são tratadas na comunicação social, questionando a informação que chega até à audiência.

"Há algo de inverosímil no fotojornalismo e o que nós fizemos foi levar esse inverosímil mais longe. São imagens estranhas, de guerra, mas que foram manipuladas, nesse caso pelos artistas, sabe-se lá se pelos próprios jornalistas antes de nós a termos utilizado", explicou o artista natural do Porto.

A exposição é hoje inaugurada na capital alemã e está patente até 15 de outubro na galeria de arte Rosalux, um espaço gerido por um artista português radicado em Berlim.

Ângelo Ferreira de Sousa e Isabel Ribeiro voltam a trabalhar conjuntamente em 'Orange', apresentando-se em Berlim, na Alemanha, pela primeira vez.

Ferreira de Sousa, natural do Porto, vive e trabalha em Paris. Nascido em 1975, o artista foi um dos fundadores do espaço artístico independente Caldeira 213, tendo passado por residências em Barcelona, Marselha, Roterdão e Paris.

Isabel Ribeiro nasceu na Covilhã em 1976 e reside em Lisboa. A artista esteve associada à criação do Salão Olímpico e do Projeto Apêndice, espaços geridos por artistas na cidade do Porto.

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