Teresa Cristina, que canta desde 1998, disse à Lusa que "é a primeira vez" que vem a Portugal, vontade que "tinha desde criança".

"Quando me tornei cantora de samba julguei que um dos primeiros países que ia visitar seria Portugal, que fazia todo o sentido, e acabou por não acontecer", disse a cantora para quem "a língua portuguesa fez toda a diferença para aquilo que é hoje a música brasileira".

"A força da língua portuguesa fez a nossa música e a nossa musicalidade tão diferentes, com mistura de músicas portuguesa, africana e indígena, e isso é que deu a música brasileira", asseverou, em declarações à Lusa.

Teresa Cristina garante a primeira parte dos espetáculos de Caetano Veloso, que se realizam nos dias 06 e 07 de setembro, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, em que vai apresentar o seu mais recente trabalho discográfico, totalmente constituído por composições de Angenor de Oliveira (1908-1980), conhecido como 'Cartola'. 

"O Cartola é magia, tem tudo, a música, a intemporalidade dos temas, a forma como letra se enquadra na música, e é o mesmo Brasil, talvez o que tenha mudado para hoje é o morro, a favela que o Cartola conheceu", disse Teresa Cristina à Lusa.

"Quando Cartola fala 'alvorada lá no morro que beleza, ninguém chora, não há tristeza, ninguém sente dissabor' [da canção 'Alvorada'], hoje, com tantas incursões policiais nas favelas, fica um pouco difícil de dizer que ninguém chora nem sente tristeza, mas ele fala do amor de uma maneira muito singular", sentenciou.

"Por mais que o Brasil de Cartola tenha mudado, o que ele falou sobre as sensações e os sentimentos ainda existe", rematou.

A cantora vai interpretar, de Cartola, temas como 'O mundo é um moinho', 'Acontece', 'As rosas não falam', entre outras, seguindo-se, no palco do Coliseu, com o seu violão, Catano Veloso, a quem Teresa Cristina se junta no final, "para interpretar quatro ou cinco canções de Veloso".

Em palco, a cantora vai ser acompanhada por Carlinhos Sete Cordas, que foi fundamental, segundo a cantora, para "Caetano Veloso se encantar" com o seu espetáculo, "além de Cartola" e da forma como o interpreta.

Sobre Caetano Veloso, com quem trabalhou pela primeira vez no espetáculo "Obra em progresso", a cantora elogiou a postura "atenta" à cena cultural atual, e "o interesse genuíno pelos mais novos".

"O Caetano [Veloso] tem uma postura muito singular, pois ele é um 'monstro', uma pessoa grandiosa, um artista muito influente aqui no Brasil, e ele tem um olhar muito sereno com quem está começando, com quem está em volta dele, ele tem sempre uma opinião sobre cada artista", afirmou.

"Ele ouve tudo, ele vê tudo o que é novo, tudo o que apareceu, ele tem a opinião dele, mas ele já viu, já ouviu, já procurou saber, informar-se, ele vai aos espetáculos, e não fica naquele castelo de cristal olhando-se ao espelho, ele vai aos lugares, vai ver os artistas novos, e só isso justifica ele estar com a cabeça tão boa, cada vez compondo melhor - oiça-se o disco que fez para a Gal Costa, 'Recanto'", referiu.

Para Teresa Cristina, esta maneira de estar de Caetano Veloso "só aumenta" a sua responsabilidade como cantora, "tanto mais que é uma estreia numa sala que dizem ser muito bonita e emblemática".

De Portugal, Teresa Cristina conhece e aprecia Amália Rodrigues, gosta muito de Mariza, conhece o trabalho de Carminho e António Zambujo, e vai conhecendo a cena musical portuguesa através de Pierre Aderne, que "está morando em Lisboa e vai mandando músicas e referindo nomes", mas "queria conhecer mais a fundo a música portuguesa, nomeadamente o fado".

Do que já viu em dois documentários, fado que é interpretado de forma espontânea, que acha "muito próximo do 'partido alto', que se faz no Brasil, que é samba de improviso".

O CD de Teresa Cristina, que canta exclusivamente temas de Cartola, é editado em Portugal na sexta-feira, 2 de setembro, como anunciou a discográfica Warner Music.

Caetano Veloso, por seu turno, que se apresenta apenas acompanhando-se ao violão, nos concertos de 06 e 07 de setembro, no Coliseu de Lisboa, celebra os 35 anos da sua estreia nesta sala, na rua das Portas de Santo Antão, na baixa da capital portuguesa.

O espetáculo de Caetano faz parte da digressão internacional do cantor e compositor baiano, que passará por Paris, nos dias 02 e 04 de setembro, Seul, no dia 3 de outubro, Osaka e Tóquio, respetivamente nos dias 05 e 09 de outubro, e Nova Iorque, no dia 12 outubro.

Caetano Veloso atuou nos coliseus de Lisboa e Porto, no passado mês de abril, num espetáculo em parceria com Gilberto Gil.