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Teatro do Bairro estreia 'Cimbelino', encenado por António Pires

O Teatro do Bairro estreia na quarta-feira 'Cimbelino', de Shakespeare, numa encenação "em que se joga com as memórias", disse à Lusa o encenador António Pires, que seguiu o seu instinto quando leu a peça.

Teatro do Bairro estreia 'Cimbelino', encenado por António Pires
Notícias ao Minuto

09:06 - 02/08/16 por Lusa

Cultura Shakespeare

"De alguma forma quando eu estava a ler o texto, a estudá-lo e a analisá-lo, uma das coisas que me saltou à vista foi estar sempre achar que estava a reconhecer aquilo de algum sítio; tão depressa parece que estamos a ver uma cena do 'Romeu e Julieta' como do 'Otelo', como do 'Hamlet'", contou António Pires.

Sendo um texto do período final de William Shakespeare (1654-1616),o dramaturgo "joga com o próprio trabalho dele", disse o encenador, referindo que sendo personagens desta trama dramatúrgica, têm reminiscências de personagens de outras peças suas, "não sendo uma colagem de textos, como é óbvio".

A peça baseia-se na história de Cunobelino, rei da Britânia, durante a ocupação romana da região. "Um rei, cego pelo fogo de uma paixão não correspondida por uma rainha sem escrúpulos e incapaz de amor, esquece o seu dever e deixa que a sua terra adoeça, mergulhada na mentira, corrompida pelo dinheiro e pelos jogos de poder", adianta em nota o Teatro do Bairro.

Para a escritora Luísa Costa Gomes, que partilha a autoria da versão cénica com António Pires, "o que, primeiro, intriga em 'Cimbelino' é a descomplicação da linguagem e a vertiginosa sucessão das cenas; parece uma peça em peças: agora é 'Romeu e Julieta', daí a pouco parece um 'Otelo', há ali 'Timão de Atenas', valentes batalhas como nos Henriques, uma rainha que é uma caricatura quase ubuesca de uma Lady Macbeth, algum 'Sonho de uma noite de verão'".

Por outro lado, realçou António Pires, "é um texto muito aberto, que tão depressa estamos em comédia, como estamos em tragédia ou drama. De repente há um ambiente que parece um conto de fadas, seguido de outro totalmente diferente, de drama ou comédia"

"Uma característica de grande liberdade do autor é também uma quase ausência de um tempo naturalista ou realista, se quisermos, tão depressa as personagens estão na Britânia, como estão em Roma, ou no País de Gales e de uma forma muito rápida, quase como se fosse uma montagem cinematográfica, há uma característica cinematográfica muito engraçada no texto, mas que não é comum em Shakespeare".

"O que as personagens dizem está completamente ligado à ação, e quando se entra na ação já está instalado o conflito", acrescentou.

"O texto é muito concreto, em que se percebe tudo o que é dito, e é muito divertido", acrescentou.

Há aqui um jogo contínuo com a própria cultura ou com a memória cultural dos espetadores" e foi aqui que António Pires se inspirou para ir buscar referências à pintura, à música, nomeadamente para os figurinos desenhados por Dino Alves.

"Eu amplifiquei este jogo de memórias, por exemplo no trabalho com o Dino Alves, há duas meninas que parecem 'Las meniñas', do Velásquez, o doutor tem a cabeça cheia de cobras, que faz lembrar a 'Medusa', do Caravaggio, e na música há uma certa sonoridade que nos lembra qualquer coisa que já ouvimos ou que nos assemelha a algo", contou.

António Pires afirmou que em algumas cenas procurou seguir o exercício de Shakespeare e recuperar por memória algumas cenas de espetáculos seus.

Outro fator decisivo foi o espaço onde se monta o cenário, as ruínas do convento do Carmo, "o facto de estar ao ar livre, esta cor, o céu, a organicidade da pedra está muito ligada ao texto, e com que sonhei para esta encenação".

Adriano Luz lidera um elenco que inclui João Araújo, João Barbosa, Ricardo Aibéo, Rita Loureiro e ainda atores da Act School, designadamente Aine Mar, Anna Knipper, Carolina Crespo, Carolina Santarino, Catarina Lima, Diogo Velez, Duarte Jardim, Filipa Matos Rosa, Graciano Amorim, Joana Luz, João Harrington Sena, José Pimentão, Lara Silva, Margarida Alves de Brito, Margarida Ramirez, Mariana Rei, Paulo Morais, Rui Ferreira Macedo, Sandra Rosário, Sara Almeida e Vera Lagoa.

"Cimbelino" é, na perspetiva de António Pires, "uma peça muito livre, mesmo. Parece que Shakespeare já não está com preocupações".

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