Banda Bixiga não se limita à música. Quer Temer fora do governo
A banda brasileira Bixiga, que hoje atua no Festival Músicas do Mundo (FMM), em Sines, não esconde o seu ativismo político e assume que quer Michel Temer fora do governo no Brasil.
© Reuters
Cultura Sines
'Fora Temer' é a primeira frase que sai da boca de Marcelo Autuori - um dos músicos da banda, entrevistada pela agência Lusa antes do concerto, marcado para esta noite, às 00:45, no castelo de Sines - quando se lhe pergunta sobre o momento político e social no Brasil.
"A gente não reconhece o governo do Temer como um governo legítimo e a gente espera que ele se vá embora o mais rápido possível", repete o músico, que toca baixo na banda instrumental composta por dez elementos.
Para não deixar dúvidas, Marcelo diz que o atual governo brasileiro "foi imposto por um golpe de Estado" e "não foi escolhido pelo povo".
A Presidente eleita, Dilma Rousseff, tem o mandato suspenso no Brasil, na sequência de um processo de impugnação, que colocou Michel Temer, seu vice-Presidente, interinamente na chefia do governo.
Dilma Rousseff foi afastada do cargo pelo Senado brasileiro, no dia 12 de maio, para responder à acusação de que cometeu crimes fiscais.
O processo contra a chefe de Estado brasileira está a ser analisado pelos senadores e poderá ser julgado em agosto.
Se for condenada, Dilma Rousseff perderá o cargo de Presidente e não poderá concorrer a eleições para cargos públicos por oito anos.
Décio Cecci, baterista da banda, espera que a população brasileira se consciencialize.
"De uma certa forma, todos são vítimas de uma manipulação da informação", considera. "Que esse período se acabe o mais rápido possível e 'fora Temer'", repete, numa frase já usada pela banda brasileira no concerto de estreia em Portugal, no festival Milhões de Festa, em Barcelos.
O músico recordou ainda que o atual governo "destruiu o Ministério da Cultura" e "não leva em consideração o poder que a cultura tem dentro de uma nação".
Cuca Ferreira concorda que está em curso um "processo de destruição e sucateamento de vários programas que foram implementados, que permitiram à cena cultural do Brasil inteiro crescer muito nos últimos anos".
O saxofone barítono dos Bixiga admite que "está muito difícil ser otimista nesse momento", não conseguindo "vislumbrar uma melhora no curto prazo", porque "todos os cenários que estão colocados são de retrocesso, são cenários de atraso".
O problema - analisa - é que "não se fez uma revolução da educação de base no Brasil quando se teve dinheiro para fazer isso".
E, agora, "estão tentando fazer com que a economia dê uma melhorada, para que isso acalme a população", alerta.
O problema, diz, é que a classe média - relativamente recente e crescente no Brasil - tem como "grande preocupação a perda de poder de consumo e apenas isso".
Por isso, o músico acha que pode levar "gerações" para o Brasil voltar a ter "um momento positivo", mas espera que, quando isso acontecer, se resolvam "as questões fundamentais, de educação, saúde, que ficaram em segundo plano".
Isto porque, nos últimos anos, instalou-se a ideia de que "virar um cidadão, no Brasil, era virar um consumidor, poder comprar um carro ou poder pagar o financiamento de uma casa", diz.
"A gente milita pela liberdade", frisa Marcelo, a dias de um conjunto de manifestações de apoiantes e opositores do governo, marcadas para domingo, no Brasil e noutros países do mundo.
Explicando que é no bairro do Bixiga, "um dos bairros culturalmente mais importantes da cidade de São Paulo, por ter, desde sempre, recebido várias correntes migratórias", onde "nasceu o samba paulista", que fica o Estúdio Traquitana, onde a banda ensaia e grava.
O bairro do Bixiga acaba por ser "um fractal do mundo, dentro de São Paulo", mas que ainda mantém "caraterísticas de bairro", com "crianças jogando futebol na rua".
A banda que reflete "muitas influências" vai apresentar-se em Sines com um espetáculo que junta músicas dos três álbuns já editados.
"A música de São Paulo é a música do mundo. São Paulo recebe tanto imigrantes do país inteiro, como imigrantes do mundo inteiro. A gente tem o privilégio de poder conviver com músicos e músicas de todos os lugares", realça Décio.
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