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Morreu "o melhor tradutor para inglês" de Lobo Antunes e García Márquez

O tradutor para inglês de autores como como António Lobo Antunes, Jorge Amado e Gabriel García Márquez, o nova-iorquino Gregory Rabassa, morreu esta semana, aos 94 anos, em Branford, Connecticut, anunciou a sua família.

Morreu "o melhor tradutor para inglês" de Lobo Antunes e García Márquez

© Reuters

Lusa
17/06/2016 16:42 ‧ há 9 anos por Lusa

"Foi o melhor tradutor para inglês que tivemos", disse hoje, à Lusa, Domício Coutinho, presidente e fundador do Brazilian Endowment for the Arts (BEA), em Nova Iorque. "Pode ser que haja alguém que esteja a fazer um trabalho à sua altura, com uma filosofia tão bem estabelecida, mas eu não conheço".

Domício Coutinho conheceu Rabassa em 1972, quando era estudante de português na Universidade de Queens, em Nova Iorque.

"Ainda antes de entrar na sua sala, vi, através da porta, que estava meio aberta, uma fotografia do Pelé abraçando o Garrincha. Nunca mais me vou esquecer disso", lembrou à Lusa o responsável daquele fundo para as artes, em Nova Iorque.

Os dois homens iniciaram então uma amizade que durou mais de quatro décadas.

"Falava muito bem português. Tinha uma voz gutural. Fazia pausas para ter a certeza de que usava as palavras corretas", lembra o investigador brasileiro, a propósito do tradutor.

Rabassa participou sempre nos eventos da BEA, a instituição que Coutinho criou para promover a literatura em português, nos Estados Unidos.

"Quando fizemos uma conferência sobre Machado de Assis, foi o primeiro a confirmar que participava. No mês passado, quando organizámos um evento sobre Jorge Amado, já não o consegui contactar. Soube depois que já estava no Connecticut, doente, onde acabou por morrer", disse.

Rabassa nasceu em Nova Iorque, filho de pai cubano e mãe norte-americana, e licenciou-se na Universidade de Dartmouth, onde aprendeu francês, latim, russo e alemão, além de português e espanhol.

Durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou como criptógrafo.

Trabalhou depois como professor de inglês e português. Era isso que fazia, em 1963, quando uma editora o contatou para traduzir uma obra de Julio Cortázar.

Acabaria por traduzir mais de 60 livros de autores consagrados, como Mario Vargas Llosa, Miguel Ángel Asturias ou Clarice Lispector.

No total, traduziu obras de quatro vencedores do prémio Nobel de literatura: García Márquez, Vargas Llosa, Octavio Paz e Miguel Ángel Asturias.

A obra mais célebre que traduziu para inglés foi 'Cem anos de Solidão', de García Márquez.

O escritor colombiano disse de Rabassa que era "o melhor escritor latino-americano em língua inglesa."

Coutinho diz que Rabassa tinha um entendimento semelhante sobre a cultura brasileira. "Tinha um extraordinário sentido de humor e entendeu a 'psique' brasileira de forma bem original", diz.

O americano recebeu muitos prémios, como o National Book Award, em 1967, o PEN Prize, em 1977, e o prémio Gregory Kolovakos, em 2001.

As suas memórias, 'If This Be Treason: Translation and Its Dyscontents' ("Se isto é traição: tradução e o seu descontentamento", em tradução livre), publicadas em 2005, também receberam o prémio PEN.

De Portugal, Rabassa traduziu 'Fado Alexandrino' e 'As Naus', de António Lobo Antunes.

O tradutor morreu na passada segunda-feira, 13 de junho.

"Quando se traduz, traduz-se o pensamento do escritor, não o seu texto. E, então, as palavras correspondentes afloram. E ele isso fazia melhor do que ninguém", conclui Coutinho.

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