Meteorologia

  • 19 ABRIL 2024
Tempo
15º
MIN 14º MÁX 21º

'Cartas da Guerra' é "uma história de amor e isolamento"

O realizador do filme 'Cartas da Guerra', Ivo M. Ferreira, disse que a longa-metragem, que teve estreia mundial hoje à tarde no Festival de Cinema de Berlim, fala sobre uma história de amor mas também de isolamento e sobrevivência.

'Cartas da Guerra' é "uma história de amor e isolamento"
Notícias ao Minuto

20:15 - 14/02/16 por Lusa

Cultura Cineasta

sobretudo uma história de amor e isolamento e de como um Estado pode privar mais de um décimo da população das suas vidas, contaminando um país inteiro. É uma declaração de amor e uma questão de sobrevivência", explicou em declarações à agência Lusa em Berlim.

A longa-metragem inspirou-se no livro 'D'este viver aqui neste papel descripto - Cartas de guerra', que inclui as cartas que António Lobo Antunes escreveu à primeira mulher, entre 1971 a 1973, durante o tempo que esteve em Angola a servir pelo exército na guerra colonial.

O cineasta referiu que, apesar de se focar num tema importante da História de Portugal, como é o caso da Guerra do Ultramar, o filme não deve ser entendido como "didático".

"Não é um filme didático mas o fato de se tratar os assuntos e tirá-los das prateleiras é positivo para gerar conversas à volta do assunto, que ainda é tabu. Depois do 25 de Abril, foi atirado para o caixote das histórias más. Em 1971, no período em que o filme se passa, já toda a gente tinha consciência política de que aquilo era um disparate e uma agonia", declarou o cineasta em Berlim.

A voz narrativa de Margarida Vila-Nova, atriz que interpreta Maria José e casada com o cineasta, está presente em grande parte da película, uma vez que que é ela que lê os aerogramas escritos por António Lobo Antunes e que serviram de inspiração a esta longa-metragem rodada a preto e branco.

"A minha vontade de fazer o filme surge quando a Margarida estava grávida e, ao chegar a casa, vejo-a a ler as cartas para a barriga. Houve uma ressonância bastante forte", relembrou Ivo M. Ferreira.

A terceira longa-metragem de Ivo M. Ferreira, a competir pelo Urso de Ouro do festival Berlinale, conta com um elenco com mais de quarenta atores, entre os quais Miguel Nunes, Margarida Vila-Nova, Ricardo Pereira, João Pedro Vaz e Simão Cayatte.

Miguel Nunes, no papel de António, referiu que gravar em Angola foi um "confronto com a realidade e um choque de culturas", quer a nível profissional, quer pessoal.

"A minha família nasceu em Angola e mudou-se para Portugal com o 25 de Abril. Por um lado, achei que aquela terra também me pertencia de alguma forma, como eu ouvia falar de Luanda e de Sá da Bandeira. Chegar lá e perceber que nada daquilo é o que me tinha sido contado foi uma perceção imediata", referiu o ator.

Miguel Nunes afirmou que interpretar o papel do alferes médico António Lobo Antunes foi "um grande desafio", servindo-se "de um retrato emocional de Angola muito bem descrito no livro" para se aproximar do personagem.

"Não tive encontros com ele porque o António decidiu assim. Foi uma postura muito cordial, a qual respeito muito porque ele não desejava que eu, de alguma forma, me sentisse vigiado", adicionou o ator.

Depois da estreia mundial em Berlim, 'Cartas da Guerra', produzido por O Som e a Fúria, será exibido no Festival Literário de Macau em março e deverá estrear-se nos cinemas portugueses no segundo semestre deste ano.

Para esta 66.ª edição do festival de cinema de Berlim, que encerra no próximo dia 21, foram selecionados oito filmes de produção portuguesa, três dos quais para a competição oficial.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório