"Seiscentos anos depois da aventura de D. João I e de seus homens, o que resta da presença portuguesa em Ceuta? A bandeira da cidade, igual à de Lisboa, as armas, que são as mesmas que Portugal teve até 1910, enfim, o reconhecimento de um passado comum com Portugal por parte dos seus simpáticos habitantes", afirma Drumond Braga na obra "Uma lança em África. História da conquista de Ceuta".
A praça norte-africana deixou de ser portuguesa "na prática em 1640, formalmente só em 1665", e Portugal foi paulatinamente deixando as outras praças africanas, "Tânger que veio a ser entregue aos ingleses em 1661" e "Mazagão, que D. José I mandou evacuar em 1769".
Encerrado este ciclo luso-marroquino, "abria-se um novo, com a assinatura, em 1774, de um tratado de paz entre Portugal e Marrocos", que estabeleceram as relações que ainda se mantêm entre os dois Estados.
A obra "Uma lança em África. História da conquista de Ceuta", editada pela Esfera dos Livros, divide-se em seis capítulos, das razões da conquista de Ceuta, em agosto de 1415, à "hora de perder Ceuta", afirmando o historiador que a sua manutenção "conduzia a gastos exagerados por parte da Coroa".
A sua conquista, para Drumond Braga, foi um "evidente retomar da Reconquista e da longa guerra entre a Cristandade e o Islão", concordando com o historiador de Luís Filipe Thomas, que aponta a expedição de Ceuta como "muito mais um derradeiro episódio da história medieval que o primeiro episódio da história moderna".
Ceuta era "uma peça menor de um império" que Portugal foi construindo, tendo transferido para cidade "a organização das cidades portuguesas da época".
"Os que voluntária ou involuntariamente ali viveram, souberam o que era estar numa urbe rodeada de inimigos, mas não deixaram de ficar imunes ao meio envolvente em termos, por exemplo, de alimentação e vestuário", sentencia Drummond Braga.
O historiador inclui nesta obra diversos anexos, designadamente o rol de capitães e governadores de Ceuta, de 1415 a 1661, dos bispos de Ceuta, e desde 1570, dos de Ceuta e Tânger, até 1680 e ainda dos prelados do Concento a santíssima Trindade de Ceuta de 1580 a 1640, além de várias imagens e uma extensa bibliografia e notas de investigação.
Paulo Drumond Braga é doutorado em História dos Descobrimentos Portugueses e da expansão, pela Universidade Nova de Lisboa, investigador do Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade da Universidade do Porto.
O investigador é autor de várias obras, entre elas, "D. Pedro II, uma biografia", "D. Maria, uma infanta no Portugal de quinhentos, "A rainha discreta. Mariana vitória de Bourbon, e "Causas de morte de soberanos portugueses".