A editora de Grass na Alemanha, a Steidl, anunciou que o escritor faleceu hoje numa clínica de Lübeck, na Alemanha, sem adiantar pormenores.
Nascido a 16 de outubro de 1927, na antiga Danzig - tornada Gdansk na atual Polónia, onde detém o título de cidadão honorário - estudou naquela cidade até aos 16 anos, tendo-se alistado na juventude hitleriana.
Ferido e detido em 1945 na Checoslováquia, foi libertado no ano seguinte e voltou ao estudo das artes, instalando-se em Paris como escultor e escritor e, em 1956, publicou o primeiro livro, "O Tambor", que obteve sucesso mundial.
O livro seria adaptado ao cinema pelo realizador Volker Schloendorff, que recebeu uma Palma de Ouro em Cannes e o óscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Neste livro e noutros, Günter Grass confrontou a Alemanha com o seu passado nazi, dizem os críticos, levado pela própria má consciência, que viria a ser assumida no livro auto-biográfico "O Descascar da Cebola" - lançado em 2006, e editado em Portugal no ano seguinte - quando revelou ter pertencido às Waffen SS, a tropa de elite de Hitler, aos 17 anos, alistado à força.
Esta militância viria a tornar-se uma das polémicas da sua vida, embora o autor tenha reiterado que se tinha fascinado, como muitos jovens, pelos submarinos, e não pelas forças de elite.
Na Alemanha, depois da guerra, associou-se politicamente aos escritores antifascistas do "Grupo 47" e ao social-democrata Willy Brandt, e mais tarde ao chanceler Gerhard Schroeder, aos ecologistas, e contra o presidente norte-americano George W. Bush.
Pai de quatro filhos, vivia em Lübeck, e escreveu cerca de trinta obras ao longo da carreira, a partir dos anos 1950, quando se dedicou à literatura, desde romances, poemas, peças de teatro, entre eles, "O Cão de Hitler" (editado em Portugal em 1966), "O Gato e o Rato" (1968), "O Linguado" (1977), "Em Viagem de uma Alemanha à outra" (1990).
Em 2012 a sua vida ficou marcada por outra polémica, depois de ter criticado Israel publicando um poema, acusando o país de "ameaçar a paz mundial", e o Estado israelita declarou-o então ´persona non grata´.
Entre outros, recebeu, em 1993, o Prémio Georg Büchner, e em 1999 foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, tendo a Academia sueca sublinhado que as "divertidas e negras fábulas de Grass retratavam uma face esquecida da História".
Günter Grass tinha uma casa no Algarve, e frequentava o Centro Cultural de São Lourenço, em Almancil, onde chegou a expor algumas obras na área das artes plásticas, como as aguarelas que acompanharam o livro "O Meu Século".