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Crise económica vai ser "lugar emocional de ficção" no futuro

O escritor João Tordo acredita que a crise económica vai ser temática de produção literária, mas não para já, enquanto o país e os escritores estão "no epicentro da tempestade a tentar percebê-la".

Crise económica vai ser "lugar emocional de ficção" no futuro
Notícias ao Minuto

10:30 - 25/03/15 por Lusa

Cultura João Tordo

"Quando tocas num assunto que se está a passar hoje, a tua tendência é relatá-lo, expores a tua fúria, expores indignação. Um escritor tem de recuar um bocadinho porque, se não, deixa que o seu ego entre no jogo e escreve um panfleto", disse João Tordo, em entrevista à agência Lusa, justificando a tímida presença da crise na literatura atual.

"Acho que a crise vai ser muito lugar emocional de ficção. Julgo que já é usada, mas vai ser muito mais, à medida que os anos passarem, tal como a guerra colonial - Deus queira que não seja preciso tanto tempo", comentou o escritor, que se encontra em Macau para participar no festival Literário Rota das Letras.

É preciso esperar, considera. "Estamos nela ainda [na crise], estamos no epicentro da tempestade a tentar perceber a tempestade", justificou.

João Tordo, que se considera uma pessoa de "imensa sorte", por ter conseguido cumprir o seu sonho de infância de ser escritor, lamenta que as livrarias portuguesas não façam uma distinção entre literatura e outros livros - estão todos juntos nos escaparates, o que engana o leitor e coloca todas as obras no mesmo plano, acredita.

"Em Portugal temos esta coisa de todas as celebridades e apresentadores de televisão escreverem livros. Mas não são escritores e isso não tem que ver com quantidade ou persistência. Ser escritor é uma vocação, não é uma coisa que se procure mas algo que te procura", sublinhou.

João Tordo encontra evidências no seu próprio percurso: "Não há razão nenhuma para um miúdo de cinco anos se pôr a escrever histórias. Fui um miúdo completamente metido para dentro, sem amigos - hoje tenho imensos amigos e uma vida ótima, mas naquela altura foi assim e por alguma razão. Não dependia de mim".

Para o autor de "Anatomia dos Mártires" e "Biografia involuntária dos amantes", um verdadeiro escritor pode ser identificado pela sua voz.

"Pegas num livro que é literatura, como Gonçalo M. Tavares, David Machado, José Luís Peixoto, Eça de Queiroz, Saramago. E depois pegas num livro que não é literatura, e o que se percebe é que, no livro que não é literatura, não há uma voz. Isso sente-se e basta uma página, às vezes. É uma voz que salta dali e diz 'Ouve-me, escuta-me'", apontou.

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