Piano em chamas para reinterpretar o silêncio

O artista português João Onofre reinterpreta, com um piano em chamas, uma peça musical do compositor norte-americano John Cage, trabalho que estreia na terça-feira, numa exposição em Londres, a primeira individual que faz na capital britânica.

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Lusa
17/11/2014 16:15 ‧ 17/11/2014 por Lusa

Cultura

João Onofre

"Tacet" é o nome da obra, um vídeo de sete minutos e quarenta segundos, que materializa a "performance" concebida por João Onofre, protagonizada pelo pianista João Aboim, que deita fogo ao instrumento no início da peça.

A palavra em latim, que significa "estar em silêncio" ou "isto é silêncio", é também a única instrução de John Cage para a sua peça intitulada "4'33"", cuja partitura determina a duração de tempo - exatamente quatro minutos e trinta e três segundos - ao longo da qual nenhum instrumento pode ser tocado.

Os únicos sons que se escutam no vídeo são os movimentos do pianista a caminhar ou a mexer na tampa do teclado e o crescendo das chamas, das quais João Aboim, sentado no banco, só se afasta após acabar a duração da peça.

"É uma obra-prima", disse o diretor da galeria Marlborough Contemporary, Andrew Renton, à agência Lusa. "É uma interpretação e uma crítica de uma obra fundamental, que seria aborrecida se não fosse esteticamente tão impressionante", acrescentou o galerista.

João Onofre contou à Lusa que este trabalho envolveu meses de preparação, com uma equipa de 30 pessoas, incluindo a colaboração com pirotécnicos, para estudar o progresso do fogo, e profissionais de cinema que filmaram a atuação, com câmaras de alta definição.

"Era importante ter um pianista profissional, por causa da postura", vincou o artista, que quis explorar neste trabalho uma relação entre o som, o fogo e o tempo.

Além de "Tacet", o artista contemporâneo português vai ter em exposição mais três trabalhos inéditos, incluindo uma gravura a aquatinta de grande formato, criada a partir da tradução em código binário da Declaração Universal dos Direitos Humanos e de uma imagem indiscriminada, além de uma fotografia da Assembleia da República, com texto gravado em relevo.

A exposição fica patente de 18 de novembro a 10 de janeiro, no espaço da galeria Marlborough Contemporary em Londres, onde João Onofre - nascido em 1976, em Lisboa, onde vive e trabalha - apenas tinha mostrado trabalhos em mostras coletivas, com outros artistas.

Em junho tinha apresentado na cidade a obra "BOX Sized Die", no âmbito do festival Sculpture in The City, um cubo de aço fechado com 1,83 metros de altura, comprimento e largura à prova de som e hermeticamente fechado dentro do qual tocou uma banda de "death metal".

João Onofre participa este ano em exposições coletivas na Fundação Eugénio de Almeida, em Évora, e no Centro Cultural Oi, no Rio de Janeiro, e em 2015 na exposição de abertura do Centro Botin, em Santander.

No próximo ano, terá exposições individuais em Munique e em Estocolmo.

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