O autor e ilustrador brasileiro Daniel Condo trouxe ao festival o seu mais recente trabalho, 'Eletricista', escrito em parceria com Augusto Massi, e que considera estar a proporcionar aos leitores do Fólio, em Óbidos, "uma experiência literária revolucionária, pensada para tornar a leitura verdadeiramente acessível a todos".
A obra, editada em formato convencional, vem acompanhada de um código digital que dá acesso a uma plataforma interativa. Nela, o leitor encontra o livro traduzido integralmente para linguagem gestual, uma narração completa em áudio e até um passeio tridimensional pela narrativa --- uma imersão em realidade virtual, que permite "entrar" na história através de óculos 3D.
"É uma inovação que está a acontecer no Brasil e que entendemos trazer ao festival que tem o tema 'Fronteiras', demonstrando que as fronteiras, na leitura, podem ser ultrapassadas, atraindo mais leitores que neste projeto encontram, em complementaridade ao livro, um momento de diversão", disse Daniel Condo à agência Lusa.
A tecnologia está a ser desenvolvida pela editora brasileira ELO que, além deste título, tem disponíveis "mais vinte títulos neste formato" e pretende, "aumentar para cerca de 300 livros, sobretudo infantis", explicou o administrador da editora, Marcos Araújo.
"A tecnologia é um suporte, não só para tornar o livros mais inclusivo, mas também para atrair novos leitores, que num primeiro momento podem não ser atraídos pela leitura mas que, com este método, acabam atraídos pelo livro em si, experimentam outros que já estão disponíveis e acessíveis com um toque de dedos e acabam por ler cada vez mais", acrescentou.
No Brasil, onde estes livros estão a ser facultados em centros educativos, "observou-se que as crianças no espetro do autismo foram as que mais aceitaram esta tecnologia. Entre estas crianças, as que usam óculos, ficam 'assistindo' todos os livros que existem na biblioteca da aplicação", disse o mesmo responsável.
Autor e editor estão a estudar a possibilidade de "trazer esta tecnologia para Portugal" e incluir na coleção "livros de autores portugueses", disse Daniel Kondo, autor que em Portugal tem livros publicados pela editora Alfarroba e que recebeu ao longo da carreira prémios como Jabuti de Melhor Livro Infantil (2022), Prémio Cátedra Unesco de Leitura, Prémio João-de-Barros e o prémio Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil .
A leitura para todos vai estar em destaque no Seminário Internacional de Inclusão, que integra a programação do Fólio e durante o qual será apresentada a obra "Entre símbolos, sons, texturas e imagens: Um guia para livros infantis multiformato", entre outras iniciativas que visam tornar a leitura mais inclusiva.
O Fólio, que decorre em Óbidos até ao dia 19, conta nesta edição com três laureados com o prémio Nobel da Literatura: a escritora bielorrussa Svetlana Aleksiévitch, o sul-africano J. M. Coetzee e o húngaro László Krasznahorkai, entre mais de 460 iniciativas, incluindo mais de uma centena de conversas entre autores e o público, 15 mesas de autor, tertúlias, seminários, lançamento de livros, concertos e entregas de prémios.
Organizado pelo município de Óbidos, em parceria com a empresa municipal Óbidos Criativa, a Ler Devagar e a Fundação Inatel, o Fólio realiza-se desde 2015 na vila classificada como Cidade Criativa da Literatura pela UNESCO.
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