A poucos dias da estreia da segunda temporada da série de Augusto Fraga, no dia 17, na plataforma Netflix, Helena Caldeira explicou que é muito mais do que a atriz que se tornou popular por interpretar aquela rapariga de cabelo cor-de-rosa que quer fugir de uma vida desestruturada.
Aos 29 anos, Helena Caldeira soma mais de uma década na representação, é cofundadora da estrutura artística Bestiário, acabou de filmar a sua primeira curta-metragem, está em ensaios para uma peça no Teatro da Trindade, em Lisboa, e prepara um álbum a editar em 2026.
Sobre 'Rabo de Peixe', que se estreou na Netflix em 2023 e tem já filmada a terceira temporada, Helena Caldeira recorda o tempo que lhe deram, a ela e ao elenco, para ensaiar, errar e experimentar.
"Esse tempo é mesmo importante e aconteceu porque havia um orçamento maior. Infelizmente nem os orçamentos da DGArtes - fazendo a ponte para a minha estrutura - nem nós, enquanto sociedade, estamos a trabalhar para o tempo, com o tempo. Os processos são cada vez mais acelerados e isso vai resultar em projetos, provavelmente, um pouco mais superficiais ou direcionados. Porque é preciso tempo para aprofundar as coisas", defendeu.
Sobre Sílvia Arruda, a personagem que interpreta, Helena Caldeira apenas adianta que vai sofrer uma grande transformação, numa história em que reparte protagonismo com os atores José Condessa, André Leitão e Rodrigo Tomás, compondo o quarteto de amigos que encontra no tráfico de droga uma oportunidade de mudar de vida.
"Esta temporada é considerada pelo Augusto [Fraga] a temporada cinzenta, mais negra, todos os personagens vão passar por umas tormentas internas e, no caso da Sílvia, vai ser muito evidente e potenciada por estar grávida", disse.
Helena Caldeira, alentejana que cresceu em Montemor-o-Novo e que estudou representação em Évora e em Lisboa, admite que 'Rabo de Peixe' deu uma reviravolta na sua carreira e que está a "pôr devagarinho as cartas na mesa", a preparar-se para um possível percurso internacional.
"Não estou interessada em fazer um 'ultra-esforço' só para ter essa presença internacional. O que me interessa é fechar os projetos que tenho aqui e depois focar-me noutra coisa. 'Rabo de Peixe' ajudou bastante, mas a vida não acaba aqui", assegurou.
E entre esses projetos está 'Cantadeiras', a primeira performance que Helena Caldeira escreveu, encenou e interpretou, pela estrutura artística Bestiário, que cofundou em 2018 com um grupo de amigos.
'Cantadeiras' surgiu de um apoio à criação por parte da RTP e de uma residência n'O Espaço do Tempo, em Montemor-o-Novo, e nele Helena Caldeira canta, dança e representa a partir de memórias e histórias do Alentejo.
"Foi muito importante, foi o primeiro em que fiz direção total, encenação, direção musical, texto. Ramificou-se para outras coisas. Criei músicas originais para o espetáculo, que estão a ser gravadas e produzidas para um álbum, com Samuel Martins Coelho e FOQUE", contou.
De uma das músicas do espetáculo, intitulada 'Vizinhas', Helena Caldeira decidiu fazer uma curta-metragem, já filmada em Montemor-o-Novo, e que conta estrear em festivais.
"Não acho que vá fazer mais 'curtas'. O projeto 'Cantadeiras' é que me deu vontade de fazer mais coisas porque era polivalente", explicou.
Essa polivalência é estendida à identidade da Bestiário, uma estrutura artística independente que nasceu por necessidade, depois de ter estudado na Escola Superior de Teatro e Cinema.
"Não havia audições para teatro, então tens uma leva de atores a saírem da escola. Ou tu crias o teu próprio projeto ou entrares no meio é mesmo difícil. [...] Depois, para termos dinheiro, precisamos de concorrer a apoios, para concorrer precisamos de uma estrutura, foi uma questão de necessidade financeira e de ter o nosso próprio trabalho", recordou.
Para Helena Caldeira, isto demonstra que o panorama do teatro e das artes performativas em Portugal ainda é "muito precário".
"Temos oito anos de estrutura e ainda somos considerados uma companhia emergente! Já emergimos há oito anos e mesmo quando estamos a concorrer a apoios estamos a concorrer a patamares mais baixos. [...] Olhamos para os nossos colegas e estamos a tentar angariar o máximo de parcerias possíveis e ainda assim poucos de nós trabalhamos com outras estruturas artísticas, porque não existe esse espaço", exclamou.
A atriz lembra que tudo o que consegue aprender e experimentar é para levar para a Bestiário, enquanto criadora.
"Todos os projetos estão relacionados com as ciências sociais, temas antropológicos e queremos pesquisar sobre o que é ser humano e não queremos cumprir regras estéticas. É um lugar de experimentação onde há várias linguagens que se uniram numa. [...] O corpo é o veículo das nossas ideias", definiu.
Além da estreia da nova temporada de "Rabo de Peixe", Helena Caldeira está em ensaios para a peça "Menina Júlia", de Strindberg, com encenação de João de Brito, com estreia para 27 de novembro, no Teatro da Trindade.
A 01 de novembro, com apresentação única, Helena Caldeira vai interpretar 'Cantadeiras', com um coro feminino, no Teatro Curvo Semedo, em Montemor-o-Novo.
Em março, estará a filmar a série luso-espanhola 'Águas Passadas', de Bruno Gascon, a partir de um romance de João Tordo, depois de este ano ter já entrado na série "Irreversível", do mesmo realizador.
"Por mim, escolhia um ou dois projetos de ficção por ano, que me interessassem mesmo muito - cinema, ficção -, e fazia projetos da Bestiário. E estar no teatro", resumiu.
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