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"Não era expectável vencer com uma canção que é mais incómodo que escape"

Samuel Úria acaba de vencer o Globo de Ouro de Melhor Canção com '2000 A.D.', um tema que "renega o presente". Com o prémio na bagagem (e a surpresa também), o artista português vai agora atuar em duas das mais emblemáticas salas de espetáculos do país: o Coliseu dos Recreios e o Coliseu Porto Ageas. O primeiro concerto realiza-se já hoje.

"Não era expectável vencer com uma canção que é mais incómodo que escape"

© Arlindo Camacho

Natacha Nunes Costa
11/10/2025 09:01 ‧ há 9 horas por Natacha Nunes Costa

Surpresa foi o sentimento que dominou Samuel Úria ao ouvir o seu nome na última gala dos Globos de Ouro para subir a palco e erguer o galardão de Melhor Canção.

 

'2000 A.D.', o tema vencedor, traz-nos, como o próprio artista já descreveu, "uma reflexão algo distópica da realidade socio-política vivida atualmente". Talvez por isso - e por "renegar o presente" -, a vitória tenha sido tão inesperada.

"Sinto surpresa, acima de tudo. A escolha da temática tem que ver com a premência de todos esses fatores em que estamos mergulhados e, nesse sentido, não era expectável vencer com uma canção que tem mais incómodo do que escape para oferecer", admite o músico em entrevista ao Notícias ao Minuto.

Samuel Úria não tem "nenhuma relação consciente com o 'mainstream'". Quando escreve canções, isso não lhe "surge como qualquer fator da equação". "Se alguma vez uma composição minha se tornar absurdamente popular, será por razões que me escapam. Acredito até que se me esforçasse para cair num goto mais generalizado, ou até genérico, não seria por esse esforço consciente que o sucesso se garantiria", realça.

'2000 A.D' usa o imaginário da viragem do milénio como ponto de partida para falar da realidade atual. "É um quarto de século que passa desde 2000, altura boa para rescaldos. E no um quarto de século de século antes de 2000 (ou seja, há 50 anos), davam-se os primeiros passos da democracia em Portugal – mais rescaldos se justificam. Para além disso, há todas as questões simbólicas, imaginárias e idealizadas em torno do ano 2000, das viragens de século e milénio", explica Samuel Úria na mesma entrevista.

No seu discurso nos Globos de Ouro o músico, nascido em 1979, em Tondela, reiterou que "o presente não está fixe", que "cheira mal". Questionado sobre estes problemas e sobre os ideais que estão a "esmorecer", Samuel Úria fala de manipulação, de projetos que o "assanham", dos "medos e mentiras" que se têm criado nos últimos temos e do "afrouxamento" que se vive.

"Há 50 anos, em Portugal, havia disputas ideológicas violentas e lutas impetuosas pelo poder, mas a vontade de construir uma democracia sem erros tocava no coração da maioria absolutíssima dos portugueses. Estávamos escaldados com a inegável falta de liberdade que antecedeu esse período. Hoje o escaldão parece sentir-se menos, e já não se ambicionam objetivos comuns sem erros. O pior de tudo é a clara manipulação da verdade em quaisquer que sejam os projetos de poder. Claro que alguns desses projetos me assanham mais, até por se apoiarem no recrudescimento manipulativo de medos e mentiras. Mas nenhum dos outros lados tem estado isento de falseamentos, afrouxamentos e manipulações. A falta de compromisso com a verdade anula a ideia de que vamos ser julgados pelos lados certo e errado da História, antes pelos lados muito mentiroso ou ligeiramente aldrabão da História", atira.

Espetáculos nos Coliseus a 11 e 17 de outubro

Com o Globo de Ouro na bagagem, o foco vira-se agora para duas das mais emblemáticas salas de espetáculos do país. Hoje, sábado, dia 11 de outubro, Samuel Úria atua no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. No dia 17 sobe até à Invicta, para agraciar os portuenses (e não só) com um concerto no Coliseu Porto Ageas.

"Assim que as minhas músicas são publicadas, a fidelidade que lhes devo é a de não as reproduzir maquinalmente. As canções nos discos são representadas quase como numa fotografia, de um dia em que podem estar mais maquilhadas, mais desmazeladas, mais gordas, mais magras. Nos palcos apresentam-se no estado em que estão nesse dia específico também, permeáveis à luz e ao local, ao público que as fotografa. Para os Coliseus vão entrajar-se de acordo com a expectativa dessa sala. Já o alinhamento, embora seja em torno do álbum '2000 A.D.', tem também a preocupação de tirar mais coelhos das cartolas dos convidados especiais", revela o artista que soma sete álbuns.

Com Samuel Úria vão assim subir ao palco "os 12 Ao Todo, a Carol, a Gisela João, a Manuela Azevedo, a Margarida Campelo, a Milhanas e as Velhas Glórias".

Já um futuro trabalho é, para já, uma página em branco. "A minha ideia para o próximo disco está só na palavra 'próximo'. Ainda nada está a ser alinhavado, a não ser a noção de que tão cedo não vou querer parar de fazer discos subsequentes", nota.

Os bilhetes para os espetáculos estão disponíveis na BOL, Ticketline e nos locais habituais com valores entre 23 e 35 euros.

Leia Também: Estes são os grandes vencedores da gala dos Globos de Ouro

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