O prémio Nobel da Literatura foi atribuído ao escritor húngaro László Krasznahorkai, anunciou o secretário permanente da Real Academia Sueca de Ciências, Mats Malm, esta quinta-feira.
"O prémio Nobel de Literatura de 2025 é atribuído ao autor húngaro László Krasznahorkai 'pela sua obra cativante e visionária que, no meio do terror apocalíptico, reafirma o poder da arte'", escreveu o organismo, na rede social X (Twitter).
A Real Academia Sueca de Ciências destacou que o livro 'Herscht 07769', – que chega às livrarias nacionais a 13 de outubro, pela Cavalo de Ferro –, é encarado "como um grande romance alemão contemporâneo, devido à sua precisão ao retratar a agitação social do país".
"Em 'Herscht 07769', não nos encontramos num pesadelo febril nos Cárpatos, mas sim num retrato credível de uma pequena cidade contemporânea em Thüringen, na Alemanha, que, no entanto, também é afetada pela anarquia social, homicídios e incêndios criminosos. Ao mesmo tempo, o terror do romance desenrola-se tendo como pano de fundo o poderoso legado de Johann Sebastian Bach. É um livro, escrito de uma só vez, sobre violência e beleza 'impossivelmente' conjugadas", complementou.
Ainda segundo a academia, László Krasznahorkai "é um grande escritor épico na tradição da Europa Central, que se estende de Kafka a Thomas Bernhard, e é caracterizada pelo absurdo e pelo exagero grotesco. Mas ele também olha para o Oriente adotando um tom mais contemplativo e cuidadosamente calibrado. O resultado é uma série de trabalhos inspirados pelas impressões profundas deixadas pelas suas viagens à China e ao Japão".
O autor, que tem publicado em Portugal apenas o seu primeiro romance, 'O Tango de Satanás', editado pela Antígona, estará presente no Festival Fólio, em Óbidos.
A crítica americana Susan Sontag definiu-o como o "mestre do apocalipse" da literatura contemporânea, julgamento a que chegou depois de ter lido o seu segundo livro da autora 'Az ellenálás melankóliája' ('A Melancolia da Resistência', em tradução livre).
László Krasznahorkai nasceu em 1954, em Gyula, no sudeste da Hungria, perto da fronteira com a Roménia. A Real Academia Sueca de Ciências apontou, inclusive, que "uma zona rural remota semelhante é o cenário do primeiro romance de Krasznahorkai, 'Sátántangó', publicado em 1985, que foi uma sensação literária na Hungria e a obra que marcou a consagração do autor".
BREAKING NEWS
— The Nobel Prize (@NobelPrize) October 9, 2025
The 2025 #NobelPrize in Literature is awarded to the Hungarian author László Krasznahorkai “for his compelling and visionary oeuvre that, in the midst of apocalyptic terror, reaffirms the power of art.” pic.twitter.com/vVaW1zkWPS
Recorde-se que as apostas colocavam autores asiáticos entre os favoritos, depois de a sul-coreana Han Kang ter arrecadado o galardão, em 2024. Kang foi, inclusive, a primeira autora da Coreia do Sul a receber um prémio Nobel da Literatura.
O agregador das casas de apostas Nicer Odds tinha dado conta de que as preferências deste ano recaiam sobre o escritor indiano Amitav Ghosh, o japonês Haruki Murakami e a chinesa Can Xue, precedidos apenas pelo húngaro Lázlo Krasznahorkai, que liderava o favoritismo.
Seguiam-se a mexicana Cristina Rivera Garza, o espanhol Enrique Vila-Matas, o australiano Gerald Murnane e o romeno Mircea Cartarescu, nomes que têm surgido em posições de destaque nas apostas todos os anos.
Han Kang began her literary career in 1993 as a poet, later turning to novels and short stories. Across her works, she confronts historical traumas and the often invisible rules that shape our lives, revealing the fragility of human life.
— The Nobel Prize (@NobelPrize) October 9, 2025
Later today, we will announce the 2025… pic.twitter.com/N9UK8NKChD
Sublinhe-se que Portugal teve, até ao momento, apenas um autor distinguido - José Saramago, em 1998 -, apesar de o nome de António Lobo Antunes figurar sistematicamente na lista dos preferidos pelas casas de apostas, mas nunca em lugares cimeiros.
José Saramago foi, também, o único escritor de língua portuguesa a vencer o Nobel da Literatura, apesar de ao longo dos anos terem aparecido propostas e apostas para escritores africanos de língua portuguesa e, sobretudo, brasileiros.
Este ano, na lista das casas de apostas surgiam António Lobo Antunes, além dos moçambicanos Mia Couto (um nome repetente entre os favoritos) e Paulina Chiziane, assim como dos brasileiros Adélia Prado e Milton Hatoum.
Outras línguas estão há vários anos afastadas dos prémios, como é o caso do italiano, cujo último vencedor foi Dário Fo, em 1997; o árabe, cujo único vencedor foi o egípcio Naguib Mahfouz, em 1988; o grego, que levou pela última vez o galardão em 1979, pelas mãos de Odysséas Elýtis; e o hebraico, em 1966, graças a um prémio atribuído ao escritor israelita Shmuel Yosef Agnon 'ex-aequo' com a escritora alemã Nelly Sachs.
O Nobel da Literatura é um prémio concedido anualmente, desde 1901, pela Academia Sueca a autores que fizeram notáveis contribuições ao campo da literatura, e tem um valor pecuniário superior a 900 mil euros.
O prémio Nobel da Literatura tinha distinguido até à data 121 escritores, dos quais 103 homens e 18 mulheres. Apesar da grande predominância masculina, os números têm vindo a equilibrar-se, verificando-se nos últimos 10 anos um exato número de vencedores de cada género.
[Notícia atualizada às 13h43]
Leia Também: Prémio Nobel da Literatura 2025 anunciado hoje em Estocolmo