"Continuarei, claro, muito atenta à decisão do conselho de administração da RTBF [radiotelevisão pública belga], caso esta tome uma decisão semelhante à das suas homólogas espanhola e neerlandesa. Seria um gesto forte e coerente com as decisões adotadas contra a Rússia", referiu a ministra Elisabeth Degryse, citada pela agência espanhola EFE, numa resposta escrita lida no parlamento belga por um colega de executivo, uma vez que a ministra estava numa viagem.
As declarações da ministra da Cultura foram feitas em resposta a uma deputada socialista, que questionou a governante sobre a decisão de Espanha e dos Países Baixos de não participarem no Festival Eurovisão da Canção em 2026, caso Israel faça parte do concurso.
Elisabeth Degryse recordou que não cabe ao Governo tomar essa decisão ou mandatar a RTBF, tendo em vista a reunião a União Europeia de Radiodifusão (UER) marcada para o início de novembro.
Os membros da UER vão reunir-se para decidir sobre a participação de Israel no Festival Eurovisão da Canção, após apelos de vários países europeus para um boicote.
A UER é a primeira aliança mundial de meios de comunicação de serviço público e organiza todos os anos o Festival Eurovisão da Canção.
Eslovénia, Espanha, Irlanda, Islândia e Países Baixos já anunciaram que não participam na competição a realizar em Viena, em maio de 2026, caso Israel seja admitido como concorrente.
Em 16 de setembro, o conselho de administração da televisão pública espanhola, RTVE, aprovou "por maioria absoluta" o boicote à próxima edição, se Israel participar.
Espanha é o primeiro país do grupo conhecido como 'Big 5' a anunciar este boicote. Os 'Big 5' são Espanha, Reino Unido, França, Alemanha e Itália, os maiores contribuintes da organização, e as suas canções têm acesso direto à final em cada edição.
Nos Países Baixos, a associação de radiodifusão pública Avrotros justificou a decisão citando as "graves violações da liberdade de imprensa" cometidas por Israel em Gaza.
A Avrotros acusa ainda Israel de ter cometido "interferência comprovada durante a última edição, envolvendo-se em manipulação política do evento", numa referência à segunda posição obtida pela cantora israelita Yuval Raphael, através da votação telefónica, na edição deste ano do concurso.
Os boicotes devem-se aos ataques militares de Israel no território palestiniano da Faixa de Gaza, nos dois últimos anos, classificados como genocídio por uma comissão internacional independente de investigação da Organização das Nações Unidas.
Quando as intenções de boicote foram conhecidas, o diretor do Festival Eurovisão da Canção, Martin Green, disse à agência de notícias AFP que cada membro da UER pode decidir livremente se quer ou não participar no concurso e que essa decisão será respeitada.
O Festival Eurovisão da Canção é organizado pela UER, fundada em 1950, em cooperação com operadores públicos de mais de 35 países, entre os quais a Rádio e Televisão de Portugal (RTP).
O concurso realiza-se anualmente desde 1956 e já houve países excluídos, caso da Bielorrússia, em 2021, após a reeleição do presidente Aleksandr Lukashenko, e da Rússia, em 2022, após a invasão da Ucrânia.
Israel foi o primeiro país não europeu a poder participar, em 1973, e ganhou quatro vezes.
Na edição deste ano, em maio, em Basileia, Suíça, a presença de Israel foi contestada por artistas que já participaram no concurso e por países como Espanha e Finlândia.
A representante escolhida por Israel, Yuval Raphael, é uma das sobreviventes do ataque do grupo extremista islamita Hamas em solo israelita, em 07 outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns, e após o qual teve início a atual ofensiva militar israelita sobre Gaza.
Desde então, já morreram mais de 65 mil pessoas na Faixa de Gaza, na maioria civis, segundo números das autoridades locais controladas pelo Hamas que a ONU considera fidedignos.
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