De acordo com a programação hoje divulgada, além deste filme da franco-tunisina Erige Sehiri, retrato íntimo de três mulheres da Costa do Marfim, o festival de cinema árabe de Lisboa, a decorrer na Culturgest e na Cinemateca Portuguesa até 04 de outubro, inclui outros filmes distinguidos pelos principais certames.
É o caso de 'Happy Holidays', do palestiniano Skander Copti, prémio de Melhor Argumento no Festival de Veneza 2024, centrado numa família de Haifa, e 'Aisha Can't Fly Away', do egípcio Morad Mostafa, que encerra o festival, sobre uma mulher sudanesa e a afirmação da sua liberdade, selecionado para Cannes, nomeado para a Camera d'Or e melhor filme em Yerevan.
'From Ground Zero', que reúne 22 curtas-metragens de cineastas de Gaza sobre o impacto da guerra, é outra obra anunciada. Coordenada pelo cineasta palestiniano Rashid Masharawi, é uma coprodução entre a Palestina, França, Jordânia, Qatar e Emirados Árabes Unidos, vencedora da edição deste ano do prémio Cinema for Peace, atribuído pela fundação de Berlim com o mesmo nome.
Ao todo, o festival programa 16 filmes, em duas secções, a maioria em antestreia nacional.
Na Culturgest, na Secção Principal, serão exibidos 12 filmes recentes, premiados ou selecionados por festivais como os de Berlim, Marrakech, El Gouna, Red Sea, Malmo, Cannes e Veneza, que "abordam questões sociais cruciais, como a liberdade, a emancipação, os direitos humanos e a migração".
Na Secção Retrospectiva, na Cinemateca Portuguesa, serão projetados quatro clássicos libaneses e tunisinos, que marcam a história do cinema árabe.
Entre eles destacam-se dois filmes da cineasta Heiny Srour: 'Leila and The Wolves' (1984), vencedor do Grande Prémio do Festival de Mannheim-Heidelberg; e o documentário histórico 'The Hour of Liberation Has Arrived' (1974), na altura nomeado para a Palma de Ouro de Cannes, que é o primeiro filme realizado por uma mulher libanesa.
Esta obra documenta a guerra civil de Omã, através da ação de um movimento guerrilheiro, democrático e feminista, que lutava contra o Sultanato.
Os dois outros filmes da retrospetiva estreiam novas cópias digitais, restauradas pela própria Cinemateca: 'Seuils Interdits' (1972), do tunisino Ridha Behi, e 'La Noce' (1978), pelo Novo Teatro de Tunis, a partir de 'A Boda dos Pequenos Burgeses', de Bertolt Brecht.
Entre os filmes da Secção Principal, contam-se ainda 'The Burdened', do iemenita Amr Gamal, sobre a sobrevivência de uma família do seu país, em plena guerra civil; 'The Insult', do libanês Ziad Doueiri, sobre um confronto judicial; 'A Son', do tunisino Mehdi Barsaoui, com a história de uma criança ferida numa emboscada terrorista; 'Thank you for Banking with Us', da palestiniana Laila Abbas, em que duas irmãs confrontam a lei islâmica; e 'Beirut Hold'em', do franco-libanês Michel Kammoun, passado num bairro decadente de classe média de Beirute.
'Frantz Fanon', de Abdenour Zahzah, sobre o psiquiatra e filósofo pan-africanista, pioneiro dos estudos pós-coloniais, é outro filme da Secção Principal.
A obra dramatiza a vida do autor de 'Em Defesa da Revolução Africana', quando era médico-chefe do Hospital Blida-Joinville e se deparava com patologias específicas resultantes da opressão e do racismo, no início da década de 1950, em vésperas da guerra pela independência da Argélia.
O LAFF tem por objetivo promover "o diálogo intercultural através da linguagem universal do cinema", e mostrar "a realidade, complexidade e riqueza do mundo árabe", ultrapassando "ideias pré-concebidas, através de uma rica seleção de filmes", "numa época em que a diversidade cultural e a compreensão são mais cruciais do que nunca".
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