'Um Simples Acidente' de Jafar Panahi conquista Palma de Ouro de Cannes

O cineasta e dissidente iraniano Jafar Panahi foi hoje galardoado com a Palma de Ouro no Festival Internacional de Cinema de Cannes pelo filme 'Um Simples Acidente', rodado em segredo, anunciou a organização.

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Lusa
24/05/2025 19:17 ‧ há 2 horas por Lusa

Cultura

Cannes

O cineasta, de 64 anos, conseguiu deslocar-se a Cannes pela primeira vez, em 15 anos, para receber o seu prémio, entregue pela atriz Juliette Binoche, que presidiu a um júri composto pela atriz americana Halle Berry, a realizador a indiana Payal Kapadia e a atriz italiana Alba Rohrwacher.

 

O realizador e produtor congolês Dieudo Hamadi, o realizador sul-coreano Hong Sangsoo, o realizador mexicano Carlos Reygadas, o ator norte-americano Jeremy Strong e a escritora franco-marroquina Leïla Slimani também integraram o júri.

'Un Simple Accident' ('Um Simples Acidente') é um ´thriller´moral que examina o dilema de antigos detidos tentados a vingar-se do seu torturador, num ataque direto à arbitrariedade das forças de segurança.

O filme é também uma reflexão sobre a justiça e a vingança perante a arbitrariedade.

Na cerimónia de atribuição dos prémios, o realizador iraniano apelou à "liberdade" do seu país: "Penso que este é o momento de pedir a todas as pessoas, a todos os iranianos, com todas as opiniões diferentes, em qualquer parte do mundo, que ponham de lado (...) todos os problemas, todas as diferenças. O mais importante neste momento é o nosso país e a liberdade do nosso país", declarou em farsi, de acordo com a tradução fornecida pelo festival.

Panahi, que esteve preso duas vezes no Irão - uma delas seis anos e vinte anos proibido de filmar -, país de onde não podia sair até há pouco tempo, prometeu regressar depois de Cannes, apesar do risco de represálias, pois ninguém sabe que destino as autoridades lhe reservam depois desta décima primeira longa-metragem agora premiada internacionalmente.

"O mais importante é o facto de o filme ter sido feito. Não tive tempo para pensar no que poderia acontecer. Estou vivo enquanto fizer filmes", afirmou à AFP esta semana.

Ao entregar-lhe a Palma de Ouro, a presidente do júri, Juliette Binoche, falou da vocação dos artistas para "transformar a escuridão em perdão".

A longa-metragem foi rodada clandestinamente, tendo o realizador recusado pedir autorização para filmar, desafiando as leis da República Islâmica, ao mesmo tempo que várias das suas atrizes aparecem sem véu.

É o segundo iraniano a ganhar a Palma de Ouro, depois de Abbas Kiarostami com 'O Gosto da Cereja' (1997), e, em 2024, um outro iraniano, Mohammad Rasoulof, ganhou um prémio especial por 'The Seeds of the Wild Fig Tree'.

O filme 'O Agente Secreto', do realizador brasileiro Kleber Mendonça Filho, ganhou três prémios: Melhor Realização, Melhor Ator para Wagner Moura, de 48 anos - conhecido fora do Brasil pela sua interpretação de Pablo Escobar na série da Netflix 'Narcos' - e ainda o prémio Fipresci da crítica internacional de cinema.

A francesa Nadia Melliti, de 23 anos, recebeu o Prémio de Melhor Atriz em Cannes pelo seu primeiro papel no cinema em 'La petite dernière', do compatriota Hafsia Herzi, adaptado do romance autobiográfico de Fatima Daas, publicado em 2020.

Nadia Melliti interpreta Fátima, de 17 anos, uma jovem muçulmana que descobre a sua homossexualidade.

O Grande Prémio do júri foi atribuído ao norueguês Joachim Trier por 'Sentimental Value', enquanto os irmãos Luc e Jean-Pierre Dardenne, que já ganharam duas Palmas de Ouro na história de Cannes, levaram um novo troféu, o prémio de argumento, por 'Jeunes Mères'. É a segunda vez na sua carreira que ganham este prémio, depois de 'Le silence de Lorna' (2008).

O franco-espanhol Oliver Laxe venceu o Prémio do Júri com 'Sirat', um mergulho numa festa ´rave´ alucinante e apocalíptica no país de 'Mad Max', protagonizada por Sergi Lopez.

Este prémio foi partilhado com o realizador alemão Mascha Schilinski, que explora cem anos de traumas familiares através dos destinos de quatro mulheres em 'Sound of Falling'.

Quanto ao prémio especial do júri, foi para 'Resurretion', do realizador chinês Bi Gan, um filme de ficção científica e drama, com os atores Jackson Yee e Shu Qi.

Na competição oficial para a Palma de Ouro de melhor curta-metragem estavam os filmes portugueses 'A Solidão dos Lagartos', de Inês Nunes, e 'Argumentos a favor do amor', de Gabriel Abrantes.

A atriz Cleo Diára foi distinguida com o prémio de Melhor Atriz na secção Un Certain Regard do Festival de Cinema de Cannes pela sua interpretação em 'O Riso e a Faca', a mais recente longa-metragem de Pedro Pinho.

Na competição figurava também a animação 'Fille de l'eau', da realizadora e ilustradora Sandra Desmazières, sobre as memórias de Mia, uma antiga mergulhadora. O filme tem coprodução de França, Países Baixos e Portugal, através da produtora de animação Animais.

Em 2009, o festival atribuiu a Palma de Ouro de melhor curta-metragem ao filme 'Arena', do realizador português João Salaviza.

Em 2024, nas longas-metragens, Miguel Gomes venceu o prémio de melhor realização com 'Grand Tour', e o realizador Daniel Soares obteve uma menção especial com a curta-metragem 'Bad for a moment', na competição oficial.

O 78.º Festival de Cinema de Cannes fez eco das guerras no Médio Oriente e na Ucrânia, e também de algumas declarações empenhadas, a começar pelo ataque de Robert De Niro a Donald Trump na cerimónia de abertura.

O dia do encerramento do festival foi marcado por dois cortes da eletricidade que aconteceram durante o dia, estando as autoridades francesas a investigar a possibilidade de sabotagem.

No entanto, a organização manteve a cerimónia oficial com recurso a geradores independentes, embora as sessões previstas fora do Palácio dos Festivais tenham sido canceladas.

O restabelecimento da eletricidade está a ser feito gradualmente na região, com 60 mil habitações já reabastecidas até ao meio da tarde, segundo as autoridades.

Leia Também: Prémio de Melhor Ator atribuído ao brasileiro Wagner Moura em Cannes

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