Em declarações à Lusa, Israel Campos, que se encontra no Reino Unido a tirar o Doutoramento em Comunicação, na Universidade de Leeds, disse sentir-se "muito feliz e lisonjeado" com a atribuição deste prémio.
"É emocionante ser reconhecido por um trabalho, no meu caso, que serve primariamente para lidar com as nossas frustrações, sonhos e idealismos", disse.
O júri do Prémio, composto por Aníbal João Ribeiro (presidente), Ondjaki e Jorge Reis-Sá, justificou a distinção do trabalho "por abordar a memória nas suas mais diversas facetas, ressaltando questões como a identidade e os conflitos internos tão próprios do homem. No fundo, o autor, através de uma escrita original, faz uma reflexão pessoal, explora as dinâmicas familiares, sociais e históricas, dentro de um contexto individual e coletivo".
Questionado sobre a importância e o poder da memória, Israel Campos afirmou: "tenho, e penso que desde cedo, um interesse particular no estudo e preservação dessa memória familiar coletiva porque, quer queiramos ou não, é ela que nos informa quem somos, de onde viemos, para onde podemos ir".
Referindo que cresceu num ambiente familiar de muitas conversas, "foi a partir dessas conversas, em meio à música popular angolana que se aguçou" o seu interesse sobre a história de Angola, a luta de libertação nacional, os seus intervenientes, o país após 1975.
Para Israel Campos, esse interesse "influencia bastante" o seu trabalho, "quer no jornalismo quer na ficção", referindo que numa altura em que que Angola está prestes a celebrar os 50 anos de independência, "toda a reflexão coletiva que isso impõe, nunca fez tanto sentido a relevância da preservação da memória como meio de nos relembrar sobre os ideais da liberdade e do país que nunca mais queremos ser".
Israel Campos, que nasceu em 5 de março de 2000 em Luanda, Angola, é licenciado em Jornalismo pela City University of London e mestre em Comunicação Estratégica e Liderança pela Universidade Católica Portuguesa.
Tendo iniciado a sua carreira como locutor de programas infantis na Rádio Nacional de Angola aos 12 anos, é jornalista freelancer, com trabalho publicado na imprensa internacional em órgãos como a BBC, VOA, Al Jazeera e Wall Street Journal.
No mundo do jornalismo, em maio de 2024, foi o vencedor da primeira edição do "Prémio Liberdade de Imprensa", atribuído pelo Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJC).
Em termos literários, publicou o seu romance de estreia, em 2023, com 'E o Céu Mudou de Cor' (Kacimbo, 2023).
Em 2021, o escritor foi considerado como uma das 100 personalidades negras mais influentes da lusofonia (BantuMen, 2021). No mesmo ano, foi vencedor do prémio 'EU GCCA+ Youth Awards for the best climate storytelling', da União Europeia.
Um ano depois, em 2022, foi nomeado finalista dos prémios 'Free Press Award' e 'Amnesty Media Award' e, em 2023, foi convidado para integrar o 'Grupo de Reflexão O Futuro Já Começou' do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa.
Israel Campos, que concorreu ao Prémio de Literatura INCM/Angola, com o pseudónimo Ngangula, verá a sua obra publicada sob a chancela da Imprensa Nacional e receberá uma componente pecuniária de 5 mil euros a título de prémio.
O Prémio de literatura INCM/Angola visa distinguir trabalhos inéditos no domínio da prosa da autoria de cidadãos angolanos ou a residir em Angola há pelo menos cinco anos.
Além do vencedor, o júri distinguiu, por unanimidade com uma menção honrosa, o angolano Fábio Kintosh, autor de 'A Felicidade é como uma Barata na Cozinha'.
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