Meteorologia

  • 29 ABRIL 2024
Tempo
13º
MIN 11º MÁX 18º

Historiador britânico diz que editoras anulam rebeldia dos jovens músicos

As empresas estão a absorver a música de caráter político dos mais jovens em nome do lucro, disse à agência Lusa o historiador britânico Rick Blackman, autor do livro "Babylon's Burning", que vai ser apresentado no Porto.

Historiador britânico diz que editoras anulam rebeldia dos jovens músicos
Notícias ao Minuto

12:26 - 16/04/24 por Lusa

Cultura Música

Segundo o investigador, o interesse pela música com consciência política e social depende, em grande parte, da idade e da geografia. E dá como exemplo que "não há um único país no mundo onde não exista 'hip-hop'" com marcas políticas e sociais, embora nem sempre incólumes a linhas domimantes impostas pelo mercado.

Blackman, 60 anos, professor de História Moderna na London School of Economics, refere o 'hip-hop' como "caso que deve ser estudado", considerando que se trata provavelmente do maior género musical atualmente a nível mundial, altamente politizado, mas exposto "como sempre" às movimentações das grandes companhias eficazes na absorção da rebeldia dos jovens.

"Há dez anos o tema de Gil Scott-Heron 'The Revolution Will Not be Televised' foi usado num anúncio comercial de sapatilhas 'Nike'. Gil Scott-Heron [1949-2011] deu voltas na tumba de certeza. O sistema e as grandes companhias, com o intuito do lucro, anulam quase sempre as ideias e a expressão dos mais novos", lamenta Blackman.

"Aprendam as lições dos anos 1960 e 1970 e, sem dúvida, do [movimento] Punk, e deixem os jovens expressarem novas formas de arte e ideias, através do 'hip-hop' - ou do que quer que seja. Se falarmos com jovens de 18 ou 19 anos que se manifestam nas ruas sobre o genocídio em Gaza apercebemo-nos que são pessoas que ouvem música com caráter político", frisa o historiador.

"Está tudo lá, mas a forma como se ouve música mudou. Não há grandes movimentos como foi até aos anos 1980, mas a consciência ainda existe entre os mais jovens", referindo que por toda a Grã-Bretanha, por exemplo, nos últimos 15 anos muitos locais de espetáculos fecharam e, por isso, as novas gerações deixaram de ter a "oferta" que existia há 30 ou há 40 anos.

A investigação de Blackman sobre movimentos musicais que confrontaram o aumento de organizações fascistas no Reino Unido, nos últimos 60 anos, conclui que a música e a subcultura urbana contribuíram para uma consciência política que ainda perdura, apesar da pressão das grandes empresas e do sistema capitalista.

O livro "Babylon's Burning - Music, Subcultures and Anti-Fascism in Britain 1958-2020", que vai ser apresentado pelo autor na loja de discos Porto Calling, no próximo sábado, pormenoriza os acontecimentos iniciais relacionados com as agressões de organizações fascistas contra a primeira vaga de imigração das Caraíbas, sobretudo da Jamaica, em Notting Hill, Londres, em 1956.

O estudo trata igualmente o movimento Rock Against Racism entre 1976 e 1981, que envolveu diretamente, "lado a lado, a 'subcultura' Punk e New Wave e a força dos músicos de Reggae" contra o aumento da força organizativa dos "neonazis" da National Front.

Também são tratadas as ações da campanha Love Music, Hate Racism, entre 2002 e 2019, em todo o país, pela tolerância e oposição ao racismo demonstrado pela nova extrema-direita britânica contra os emigrantes das Caraíbas, de vários países de África e do continente asiático. 

"Os falhanços do neoliberalismo, o agravamento das condições materiais das classes trabalhadoras na Europa e a forma como os fluxos migratórios são tratados pela comunicação social e, sobretudo, pela extrema-direita, agravam a situação. Ironicamente, quem provocou as guerras no Afeganistão, Iraque, Síria ou Líbia nas últimas duas décadas foram, em grande parte, os países europeus", lamenta Blackman. 

De acordo com Pedro Branco, responsável pelo estabelecimento de discos de vinil, livros e revistas Porto Calling (nome inspirado no álbum "London Calling", de 1979. da banda britânica Clash), diz que as preocupações políticas e sociais e os movimentos contra o racismo "são temas, desde sempre, presentes e importantes para quem gosta de música".

A Porto Calling organiza regularmente encontros com músicos e autores como o realizador de cinema e músico britânico de origem jamaicana Don Lets e Billy Childish, músico, poeta e pintor.

Leia Também: “A Xbox está em apuros enquanto fabricante de consolas”

Recomendados para si

;
Campo obrigatório