Escrita e encenada pelo ator e encenador a convite do Teatro do Bairro para assinalar os 50 anos do 25 de Abril, Hugo Mestre Amaro "não queria fazer uma coisa baladeira nem de cravo ao peito", nem uma "homenagem folclórica sobre a efeméride", disse à agência Lusa.
Ao aceitar o convite impôs-se construir algo que fosse "mordaz, sarcástico e cáustico", frisou.
O autor argumentou que, além de a liberdade ser "um direito que é universal e tantas vezes difícil de obter", como foi em Portugal, nos tempos que correm o ator e encenador vê "muito pouco respeito" por ela, em Portugal e no mundo.
Hugo Mestre Amaro optou, então, por elaborar uma narrativa "que evidenciasse três vetores do que são os herdeiros do que politicamente aconteceu".
Ou seja, "criando três personagens-caricaturas, com um ponto em comum: todas se chamam Liberdade, e que são as personagens centrais da peça", afirmou.
As três personagens são Maria da Liberdade, uma freira doroteia "de centro católica, basicamente, e praticamente reacionária", Liberdade Maria, uma "mulher de esquerda, comunista, casada com o camarada", e Aurora da Liberdade, "uma estrela de televisão em decadência, que começou por ser modelo, passou a atriz e a partir daí teve uma carreira muito mediática em televisão" e que se vai "perceber que é da esquerda caviar e do PS (Partido Socialista)".
Aurora, que se enquadra mais no "contexto histórico português dos últimos 15 anos", tem outra particularidade: é casada com um ex-presidente de Câmara que se encontra preso por corrupção e peculato no Estabelecimento Prisional de Évora.
Questionado pela Lusa sobre se esta personagem foi "inspirada" em políticos portugueses, Hugo Mestre Amaro admitiu que embora na peça "nunca se fale de partidos", o espetáculo é "uma mistura de tudo".
"Esta gente está toda a viver na casa da Mãe das Liberdades, a senhora que pariu estas três mulheres em pleno Largo do Carmo enquanto Marcelo Caetano se estava a entregar, às 18:30, de 25 de Abril de 1974", acrescentou o autor e encenador.
"A liberdade é uma maluca" é também "uma parábola de três mulheres que são todas Liberdade qualquer coisa, filhas de uma repórter do Diário de Notícias, de 20 anos e grávida de trigémeos, que estava no Largo do Carmo, a cobrir os acontecimentos, a cobrir a revolução", acrescentou.
"Brincar com o milagre da liberdade, que é uma coisa mágica" foi um dos objetivos da peça, observou o autor da peça que menciona no texto uma série de acontecimentos da história recente de Portugal, como o desaparecimento de Madeleine McCann (2007), a Expo´98 ou uma feijoada gigante servida, nesse ano, na Ponte Vasco da Gama, em Lisboa.
A peça está em cena até 21 de abril, com récitas de quarta-feira a sexta, às 21:30, e ao sábado e ao domingo, às 18:00.
A interpretar estão Cátia Nunes, Francisco Vistas, João Araújo, Paula Só e Vera Alves.
A cenografia e figurinos são de Tânia Franco, o desenho de luz Hugo Mestre Amaro e João Veloso, a música de Francisco Vistas e o desenho de som de Paulo Abelho.
A peça é uma produção da Ar de Filmes/Teatro do Bairro, em coprodução com a Câmara Municipal de Olhão.
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