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Livro de Natanael Santos reflete história de superação e conquistas

É uma história de superação e conquistas, com traços autobiográficos, a que Natanael Santos conta em 'Rumo', primeiro livro do autor cigano que, a partir de Zebreira, no concelho de Idanha-a-Nova, vê preocupado a extrema-direita crescer em Portugal.

Livro de Natanael Santos reflete história de superação e conquistas
Notícias ao Minuto

11:30 - 04/03/24 por Lusa

Cultura Natanael Santos

Editado em 2023, mas ainda sem lançamento oficial, 'Rumo' é mais uma etapa na vida do jovem que venceu preconceitos pessoais, da sociedade e da própria comunidade.

Aos 24 anos, é licenciado em Gestão e Gestão de Recursos Humanos - área em que trabalha -, mestrando em Gestão de Empresas e já pensa no doutoramento.

"O meu objetivo a longo prazo é ser professor universitário", contou à agência Lusa. Essa ambição insinua-se, de certa forma, em 'Rumo', onde a biografia do autor inspira a ficção. "Há claramente pontos de contacto".

O protagonista é um rapaz de um bairro social numa cidade fictícia, baseada em Castelo Branco e em Moura, no Alentejo - onde Natanael morou antes - e que "está a tentar sair dali". Não é dito que é cigano - "não gosto nada da vitimização" -, mas sentem-se "muitas limitações, não só físicas, mas também mentais, que ele tenta superar".

O livro explora "a estranheza entre o indivíduo e o mundo" e é assumidamente influenciado por "O estrangeiro", de Albert Camus.

Após o 11.º ano, deixou de estudar. "Não era normal um cigano estudar". Os pais insistiram que voltasse à escola e hoje tem a dupla licenciatura. Mas, no processo, teve de lidar com a desconfiança da comunidade cigana: "Dentro da comunidade cigana existe muito essa barreira entre aquilo que é cigano e aquilo que não é". Apesar da formação superior e do livro, "obviamente eu continuo a ser a mesma pessoa, com as mesmas origens".

Em "Rumo" fala-se de filosofia, religião, preconceito ou política, sendo que o autor integra desde 2021 a Juventude Socialista (JS) de Idanha-a-Nova.

"Não basta dizermos que as coisas estão mal. Temos de dar ideias para que a situação fique melhor, não só no país, mas também aqui no meu concelho e na região", afirmou.

Atualmente, vê com agrado outros ciganos entrarem na política ativa, para que se façam ouvir e defender as causas que lhes estão mais próximas.

"Já temos um candidato a deputado por Lisboa, que também faz parte da JS, o Israel Paródia". Outros há, "uma maioria [em partidos] de esquerda, mas até alguns jovens no PSD e na JP [Juventude Popular]". "É importante termos voz e participação", reforçou.

Falar de política e de ciganos implica falar do Chega, partido que ganhou projeção pelas posições contra esta comunidade. Natanael Santos admite preocupação com o crescimento do partido de extrema-direita, "até mais do que como cigano, como português", associando-o "aos índices de analfabetismo funcional" em Portugal, "infelizmente dos mais altos da Europa".

"Há muito mais preconceito no 'Zé' que está na tasca do que numa pessoa com estudos", frisa, recorrendo à experiência pessoal.

Em Portugal, "as pessoas estão muito fechadas, têm uma literacia muito baixa e vivem numa situação de crise" pelo que, quando "aparece alguém a dar muito às mãos, muito convencido, de peito para a frente, a dizer que 'vamos fazer isto e aquilo', isso simplifica as questões".

Na comunidade cigana, que sofre de "um abandono escolar tão alto e um nível de iliteracia ainda maior do que o da sociedade em geral", o Chega "encontrou o bode expiatório perfeito", diz Natanael, que compara os métodos do líder do partido, André Ventura, aos de Donald Trump ou Javier Milei, ecoando a análise de múltiplos politólogos.

O crescimento da extrema-direita, antecipa, "vai ser mau não apenas para um grupo específico de pessoas, mas para todos", recordando "o exemplo de Bolsonaro", com "o desastre ambiental que causou" e "o desastre social do Brasil, com mais de 30 milhões de pessoas em pobreza extrema".

Como contraponto, o "Rumo" de Natanael Santos deixa "uma mensagem de ânimo e de que é preciso 'chutar a bola para a frente'": "Não basta acreditar, mas não vale a pena desistir. Temos é de fazer por nós, continuar em frente, mesmo que as coisas não corram exatamente como nós queremos. Dando o nosso melhor, as coisas vão melhorar".

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