A ex-líder do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, e o sociólogo João Teixeira Lopes, lançaram o livro 'Portugal Esquecido - Retratos de um País Desigual', no passado dia 22 de fevereiro.
O livro, coordenado pela bloquista e pelo sociólogo, responsável pelo Observatório Social de Gaia, conta com mais de uma centena de depoimentos, recolhidos por cerca de duas dezenas de autores.
Em entrevista ao Notícias ao Minuto, João Teixeira Lopes explicou que este é um "livro de combate", como descreveu também recentemente Catarina Martins na rede social X (antigo Twitter), que pretende dar a conhecer casos de pessoas em "sofrimento social", com o objetivo de dar o "primeiro passo para a resolução dos problemas".
Entre os depoimentos recolhidos estão testemunhos de estafetas, de internamentos sociais, de pessoas que vivem só, de pessoas em risco de se tornarem sem-abrigo, de doentes mentais. Estão, essencialmente, pessoas que sofrem de "invisibilidade social" e cujas vidas só são debatidas, normalmente, nas vésperas das eleições.
'Portugal Esquecido' é assim, como descreveu o sociólogo em entrevista ao Notícias ao Minuto, "um apelo para que se pensem soluções para a vida destas pessoas".
Como surgiu o livro 'Portugal Esquecido'? Quem teve a ideia e quem convidou quem?
João Teixeira Lopes - O livro surgiu de uma necessidade comum de dar a conhecer as múltiplas realidades das pessoas em sofrimento social. Não se trata de dar-lhes voz, porque toda a gente a tem, mas de a amplificar e de partilhar as suas vivências. Eu, que sou sociólogo e professor universitário, desafiei a Catarina Martins, que tinha deixado de ser deputada, para organizarmos uma equipa e irmos para o terreno! A Catarina nem hesitou e num instante já estávamos a planear a estrutura do livro.
O que é que os leitores podem encontrar nele?
JTL - Os leitores vão encontrar cerca de uma centena de depoimentos recolhidos pelos autores sobre casos de sofrimento e invisibilidade sociais: os estafetas das entregas; os internamentos sociais; as mulheres que vivem sós; as pessoas forçadas a coabitar e com medo de se tornarem sem abrigo; as comunidades nepalesas de Arroios; as migrantes brasileiras; os caboverdianos que vivem no Grande Porto; as pessoas com doença mental e sem apoios; os territórios sem serviços públicos; os estudantes que não conseguem pagar as suas propinas; os jovens que vivem em bairros sociais; as associações de moradores; os cuidadores informais; as pessoas LGBTI+; etc. Em suma: dar a conhecer estas situações e estas "vozes" é um incentivo a que se identifiquem as causas do sofrimento, passo primeiro para a resolução dos problemas.
A experiência como deputada na Assembleia da República e como líder do BE de Catarina Martins foi essencial para este livro?
JTL - Sem dúvida. Como deputada, a Catarina conhece muitas destas situações e sabe que, amiúde, não passam nas notícias nem são tema de debate. Assim, meteu mãos à obra, aproveitando a sua ampla rede de contactos!
E o que trouxe a experiência de João Teixeira Lopes como sociólogo e responsável pelo Observatório Social de Gaia?
JTL - Eu estou habituado a recolher informação, a analisá-la e a interpretá-la. Além disso, envolvi um conjunto de investigadores e de estudantes que comigo trabalham e que partilham a autoria deste livro. Como o leitor se aperceberá, além das "vozes" das pessoas através dos seus depoimentos na primeira pessoa, construímos infografias com dados estatístcos que nos dão a conhecer o Portugal esquecido.
'Portugal Esquecido' foi escrito a muitas mãos, com testemunhos recolhidos por todo o pais. Quantas pessoas dão o seu testemunho neste livro? Há algum testemunho que destaquem?
São cerca de 100 depoimentos. Destaco o relato de uma médica, a Francisca, desesperada por não conseguir ajudar os idosos que têm alta médica, mas que ninguém vem buscar, e que ficam nos hospitais como "internamentos sociais", perdendo aos poucos a sua autonomia, a mobilidade, as capacidades cognitivas, esquecidos.
Recentemente, Catarina Martins chamou a 'Portugal Esquecido' um livro de "combate". O que quis dizer com isso?
É um livro que não quer ser apenas um trabalho académico, nem ficar pelo bolor das prateleiras. É um apelo a que se pensem soluções para a vida destas pessoas. É uma ponte com a intervenção e a vontade de mudar este "país" esquecido.
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