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"No princípio era a ilha" marca a estreia do poeta Tolentino Mendonça

A poesia do vencedor do Prémio Pessoa 2023, José Tolentino de Mendonça, começou com o verso 'No princípio era a ilha', sob o título 'A infância de Herberto Helder', marcando o início de uma vida literária multipremiada.

"No princípio era a ilha" marca a estreia do poeta Tolentino Mendonça
Notícias ao Minuto

13:08 - 14/12/23 por Lusa

Cultura Prémio Pessoa

O seu "princípio como poeta" deu-se naquele momento, como o próprio explicou numa entrevista dada ao jornal Público em 2012: "Foi o meu primeiro encontro poético com a palavra. Mas já antes escrevia. Foi muito importante a figura da minha avó materna, uma contadora de histórias. Ela sabia alguns romances orais de cor".

"No princípio era a ilha/embora se diga/o Espírito de Deus/abraçava as águas", pode ler-se em 'A infância de Herberto Helder', poema no qual Tolentino escreveu ainda: "Não sabia que todo o poema/é um tumulto/que pode abalar/a ordem do universo agora/acredito".

Nascido na ilha da Madeira em 1965, José Tolentino de Mendonça lançou o primeiro livro de poesia, 'Os Dias Contados', em 1990, embora já antes publicasse no DN/Jovem, um suplemento literário do Diário de Notícias, com o pseudónimo de Tiago Hulssen, "21 anos, estudante universitário, Lisboa".

A par de Herberto Helder, que considerou uma "grande descoberta" quando o leu pela primeira vez aos 16 anos, José Tolentino de Mendonça encontrou em Ruy Belo outra das suas referências poéticas.

"Escolhi fazer a tese de licenciatura em Teologia sobre a saudade de Deus em Ruy Belo. Foi uma aprendizagem. Os poemas iam acontecendo, não sei bem se à maneira do nadador que suprime a respiração ou daquele que finalmente respira", escreveu, em 2015, para o Jornal de Letras.

Desde então, a escrita de Tolentino de Mendonça tem sido elogiada pela crítica e premiada: venceu o Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoais (2015), com 'A noite abre os meus olhos', e em 2016 voltou a conquistar um galardão da Associação Portuguesa de Escritores, neste caso dedicado a crónicas, com 'Que coisas são as nuvens'.

Em 2010 venceu o prémio Fundação Inês de Castro com "O viajante sem sono', tendo dito, aquando da entrega da distinção, que 'o poema é uma inevitabilidade da experiência humana".

Mais recentemente, em 2020, o professor, arquivista e bibliotecário da Santa Sé foi distinguido com o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural, e em 2022 venceu o Prémio D. Diniz pelo mais recente livro de poesia, "Introdução à pintura rupestre" (2021).

Numa entrevista para a revista Ler, em 2009, Tolentino de Mendonça elaborou sobre uma frase sua muitas vezes replicada, segundo a qual "A poesia é a arte de resistir ao seu tempo".

Questionado sobre esta ideia, respondeu que "a poesia é uma ciência de resistência. [...] É a única maneira de iluminar [o tempo em que se vive]".

Tolentino de Mendonça, elevado a cardeal em 2019, editou um ano antes "Elogio da sede", pela Quetzal, que reuniu os textos "que serviram de guião às reflexões conduzidas pelo poeta, teólogo e sacerdote português junto do Papa Francisco e dos cardeais da cúria romana".

Em 2016, na conferência de abertura do encontro literário Correntes d'Escritas, na Póvoa de Varzim, Tolentino de Mendonça disse que gostaria, um dia, de ver o silêncio ser classificado como Património Imaterial da Humanidade.

"Um sonho meu, que aqui partilho, é ver um dia o silêncio declarado Património Imaterial da Humanidade. Porque nós declaramos património as grandes construções, o canto, todas as coisas associadas à expressão, e esquecemo-nos que o silêncio também é uma forma de expressão extraordinária e que, no silêncio, experimentamos muitas vezes uma comunhão, uma proximidade, que nenhuma palavra do mundo é capaz de nos fazer sentir", disse, então.

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