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Prodigy rebentam com os céus de Lisboa à boleia da nostalgia dos Blur

Os dois veteranos conjuntos britânicos fecharam com chave de ouro o primeiro dia do MEO Kalorama, com as lendas do big beat a prestarem uma emocionante homenagem ao antigo vocalista, Keith Flint.

Notícias ao Minuto

09:55 - 01/09/23 por Daniela Filipe e Hélio Carvalho

Cultura Meo Kalorama

A nostalgia por vezes tolda-nos a memória, leva-nos a sobrevalorizar, a criar expectativas. Mas para os The Prodigy e os Blur - que voltaram ambos a Portugal após passagens recentes -, as memórias de atuações de décadas passadas vão sendo substituídas por uma nova vida, fresca e renovada, e no primeiro dia do MEO Kalorama foi recordado que há bandas que dão grandes concertos como quem anda de bicicleta.

Passaram meros oito dias desde a última presença dos The Prodigy em palcos nacionais, ainda há pouco estiveram no Vilar de Mouros, no Alto Minho. Em Lisboa, o lendário conjunto entrou 'a partir tudo', com o aclamado tema 'Breathe', os ritmos explosivos e a presença do imparável Maxim a unirem-se a um espetáculo de luzes que furou pelos céus de Lisboa até tocar numa Lua que ficou ainda mais 'super'.

A noite já ia longa, uma boa parte do público já se ia dirigindo para a saída, mas quem ficou para o concerto de quase hora e meia assistiu a uma verdadeira viagem, desde os grandes êxitos dos anos 90, do aclamado 'The Fat of the Land', dos temas 'Voodoo People', 'Climbatize', entre muitos outros.

Os lasers verdes que iam perfurando o recinto apontaram, a certa altura, para o palco e os ecrãs, desenhando a figura de Keith Flint, o histórico líder da banda que morreu em 2019. Foi bonita a homenagem, e o público agradeceu com uma grande ovação e muita entrega para ouvir 'Firestarter'.

Os britânicos foram os únicos a dar-se ao luxo de fazer um encore, voltando para uma vénia final, para os seus "guerreiros de Lisboa", ao som de 'Take Me to the Hospital' e 'Invaders Must Die'. Ficou feita a poderosa festa dos The Prodigy, que vão e deixam saudades. E nós cá os aguardaremos, com a pista sempre aberta.

Notícias ao Minuto Maxim, o maestro da caótica orquestra dos The Prodigy© Hélio Carvalho/Notícias ao Minuto  

Antes, o palco principal do MEO Kalorama acolheu o voo de volta dos Blur, quase três meses depois da visita ao Primavera Sound, no Porto. Se o Norte assistiu a uma bomba de nostalgia e de 'brit-pop' puro e duro, Lisboa teve direito a uma prestação mais desafiante, com um álbum novinho em folha.

Apesar da viagem conter os sons mais conhecidos da banda, como 'Country House', 'Girls & Boys' e 'Song 2', o concerto desta vez teve um maior ênfase nos temas de 'The Ballad of Darren', que dá uma nova vida a um 'reunion act' que se consolidou num dos melhores atos da música atual. No entanto, ao contrário do Porto, o público do Kalorama mostrou-se mais frouxo - talvez pelo vento, pela nuvem de pó que já queimava ao fim de tantas horas, ou pelo recinto que não deixa passar muita energia para lá da régie.

Ainda assim, tivemos Damon Albarn, e quem tem Damon Albarn tem tudo: há poucas coisas que a icónica voz de Essex não sabe fazer e, a fechar uma longa digressão europeia (que contou com um enorme espetáculo em Wembley), Albarn decidiu brincar. "Fomos visitar o Museu das Marionetas. Obrigado por terem um museu como aquele", disse.

Enquanto os Blur cantavam, os Shame berravam. À entrada do pequeno palco Samsung, iamo-nos lembrando do valente mosh em Paredes de Coura, em 2018, e as memórias não saíram defraudadas, com o grupo, embalado pela energia contagiante de Charlie Steen, a criar uma massa humana que deu muito trabalho aos seguranças. E durante Shame, os franceses The Blaze demonstraram porque é que nunca devemos descurar duos de eletrónica, oferecendo um belíssimo espetáculo de projeções no palco San Miguel, o maior dos palcos secundários.

Amyl and the Sniffers trouxeram o ‘vento’. Yeah Yeah Yeahs levantaram ‘poeira’

Há uns bons anos que os Yeah Yeah Yeahs não metiam os pés em território nacional. Com uma plateia já composta, e umas boas-vindas de um público já com saudades, a efervescente Karen O não deixou passar esse facto ao lado, tendo recordado que o trio norte-americano não atuava em Lisboa “desde 2006”.

“É muito tempo, mas estamos muito felizes por estarmos aqui agora”, assegurou, e assim o provou. Em modo ‘best of’, a banda ‘levantou a poeira’ com temas como ‘Spitting off the Edge of The World’, ‘Lovebomb’, e até mesmo ‘Y Control’, dedicada a “quem amaram e perderam, a quem amaram mais do que a própria vida e, acima de tudo, a todos os amantes em Lisboa”.

Notícias ao Minuto Karen O é reconhecida internacionalmente como uma mais impactantes e importantes mulheres do rock alternativo© Hélio Carvalho/Notícias ao Minuto  

Se desta vez não houve duche de sumo de ananás, tal como aconteceu no festival de Paredes de Coura no longínquo ano de 2003, houve, ao invés, proezas com o microfone. Fingindo que se decapitava, Karen O levou a plateia ao rubro com ‘Heads Will Roll’, deixando marcada na cabeça dos festivaleiros o momento em que colocou o microfone nas calças, que nem pénis ereto.

Antes, a tarde ainda se avizinhava longa quando os australianos Amyl and the Sniffers pisaram o palco principal. Com uma plateia morna, sintomas da hora em dia de semana e, para muitos, de trabalho, a vocalista Amy Taylor dedicou ‘I’m Not a Loser’ aos “gays e sapos”, cumprimentando os festivaleiros que se acumulavam nas primeiras filas bem de perto, no fosso.

“Olá! Vocês têm uma bela cidade. Temos andado a comer, a comer e a comer”, brincou, antes de meter os festivaleiros a saltar ao som de ‘Shake Ya’.

A crescente intensidade do vento no Parque da Bela Vista ecoou o ‘fogo’ da vocalista, que entoou ‘Guided by Angels’ e transportou o mar de gente para um espetáculo de culturismo. O clímax, esse, chegou com a última música, ‘Knifey’, que foi dedicada às “mulheres, pessoas não binárias e a toda a gente que já foi abusada sexualmente”.

Depois do punk rock seguiu-se o ‘grande êxodo’ até ao lado oposto do recinto, onde os M83 aguardavam os festivaleiros ladeira acima, que nem cenário de guerra. Os temas instrumentais da banda francesa embalaram a multidão já o sol estava a ir embora, ainda que muitos não tenham arredado pé do palco principal, provavelmente na ambição de ver Blur e The Prodigy num lugar digno da designação VIP. O grupo de música eletrónica teve, no entanto, casa cheia, que vibrou ao som dos temas mais (e menos) conhecidos até ao último segundo.

O MEO Kalorama volta a trazer música ao Parque da Bela Vista já esta sexta-feira, contando com nomes como Florence + The Machine, Aphex Twin, Arca, Belle & Sebastian, Ethel Cain, e muitos outros.

Leia Também: "MEO Kalorama funciona como o último grande festival de verão europeu"

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