Numa curta conversa com a Lusa, antes de fazer o teste de som para o concerto de mais logo, às 22:15, no castelo de Sines, Lila Downs recordou que os povos indígenas foram "silenciados durante centenas de anos".
"Não temos podido falar da nossa realidade, nem tão pouco fomos muito escutados, sempre estivemos à margem", realça uma das cabeças de cartaz da 23.ª edição do Músicas do Mundo, que prossegue até sábado.
Nascida em Oaxaca, filha de mãe do grupo indígena mixteco, Lila Downs acredita que, "politicamente falando", a situação dos povos indígenas está melhor, mas é preciso ainda "resolver a igualdade".
O mesmo se passa em relação à discriminação das mulheres.
Lila Downs vê com satisfação que este seja um tema abordado por artistas da nova geração -- a jovem mexicana Silvana Estrada, que atuou no primeiro dia do Festival Músicas do Mundo, em Porto Covo, assumiu o combate contra essa "pandemia".
Elogiando que as artistas jovens abordem o assunto "de frente agora", Lila Downs compromete-se "a continuar compondo canções e a dizer as coisas, honestamente, como deve ser".
No passado, "não se podia falar de temas de violência [contra mulheres], porque era um tema privado", lembra.
"É muito importante que todas as mulheres, de diferentes idades, estejam unidas sobre este tema [da violência de género]", vinca.
Vencedora de um Grammy e seis Grammy Latinos, Lila Downs trará ao Festival Músicas do Mundo o seu novo álbum, "La Sánchez", com canções que denunciam a injustiça social, os problemas da imigração e a defesa das mulheres, especialmente das indígenas e trabalhadoras.
"'La Sánchez' é uma pessoa que é um pouco eu. É uma personagem que se fez dos maus-tratos da vida, da morte, da força da família", explica, mencionando a importância de ser acompanhada por acordeão, baixo acústico e baixo sexto, um instrumento que descende do alaúde.
A célebre cantora Chavela Vargas, nascida na Costa Rica mas que fugiu para o México quando era jovem, disse um dia que Lila Downs era a sua sucessora.
"É um cumprimento muito grande. Agradeço-o. É uma grande responsabilidade também, como não?", reage.
Mas, ressalva, "cada uma tem o seu tempo e a sua realidade". E, na verdade, com a ajuda da música -- e do público -- "quem decide [o que será] é a herdeira".
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