Luís Mestre leva 'Vânia' de Tchekhov ao Teatro Carlos Alberto em junho

O encenador Luís Mestre apresenta entre 01 e 04 de junho, no Teatro Carlos Aberto, no Porto, a peça "Vânia", um drama íntimo, que recria um texto de Tchekhov, conjugando a realidade atual e a intemporalidade da obra.

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Lusa
30/05/2023 20:31 ‧ 30/05/2023 por Lusa

Cultura

Teatro

Em "Vânia", o dramaturgo recria uma das mais icónicas peças da dramaturgia universal -- "O Tio Vânia", de Anton Tchekhov, "atravessando o século XX", passando pelas variações de David Mamet e de Howard Barker.

"A primeira parte são duetos, depois há um final em que as personagens se juntam e acabam naquilo que eu chamo a catástrofe íntima. As personagens são as suas próprias testemunhas e isso é que o drama da peça: é chegarmos a um ponto da nossa vida e percebermos que todas as grandes ações que projetamos no passado não são cumpridas e que já não somos o herói épico que os clássicos tinham e que muito provavelmente a nossa vida não vai mudar", explicou, em conversa com Lusa, o encenador e ensaísta.

Luís Mestre compara o drama íntimo do seu espetáculo ao mito de Sísifo, personagem da mitologia grega que foi condenada a repetir eternamente a tarefa de empurrar uma pedra até o topo de uma montanha e que, sucessivamente, se viu confrontada com o mesmo desfecho: a pedra rolava novamente montanha abaixo até o ponto de partida, invalidando o esforço.

"Todas as pausas, silêncios e momentos íntimos destas personagens são descidas à planície em que as personagens percebem que a sua vida não está a ser, nem vai acabar como projetaram, tal como Sísifo", afirmou.

Desenvolvido em torno de cinco personagens, Luís Mestre reconhece que o seu espetáculo conjuga a realidade social e política do presente com a intemporalidade da obra de Tchekhov, num diálogo íntimo sobre as questões como isolamento, ou do diálogo versus comunicação

"As personagens dialogam, mas não comunicam. Estão sempre a falar para si próprias e isso tem muito a ver com os dias de hoje. Há diálogo, mas não comunicação", exemplificou, reconhecendo do contágio "do mundo de hoje" neste diálogo com o clássico de Anton Tchekhov.

Ana Moreira (Elena), Ana Sampaio e Maia (Vânia), Belisa Branças (Sónia), João Oliveira (Serebriakov) e Sílvia Santos (Astrov) compõem o elenco de "Vânia".

Na recriação de Luís Mestre, Astrov, que no original de Tchekhov é interpretado por um homem, é assumido por Sílvia Santos, oferecendo uma visão diferente e despojada das questões de género.

Ao longo da peça, nos vários diálogos, são ainda abordados temas como o amor, a perda, a frustração ou o autorretrato, suscitando reflexões contemporâneas como o impacto das redes sociais na autoimagem e da dismorfia corporal - um transtorno psicológico caracterizado por uma preocupação desproporcionada com um detalhe na aparência da própria pessoa.

Recusando assumir como um ato de coragem a recriação de um dos grandes clássicos do século XX, Luís Mestre vê o seu trabalho em "Vânia" como "natural" dada a sua ligação aos clássicos desde novo, assumindo como uma continuidade da sua carreira que conta com outras recriações.

Como dramaturgo, Luís Mestre recebeu vários prémios e distinções nacionais e internacionais, tendo diversas publicações em português, francês e castelhano.

Desde 2004, o encenador, dramaturgo, ensaísta, investigador e docente assumiu também o cargo de diretor artístico do Teatro Nova Europa.

Criação do Teatro Nova Europa em coprodução com o Teatro Nacional São João e a Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão, onde se estreou em 2020, "Vânia" está em cena no Teatro Carlos Alberto entre quinta-feira e domingo.

"O Tio Vânia", de Anton Tchekhov, em que se baseia a peça em cena, centra a personagem de Ivan (tio Vânia) no seio de uma família que habita uma decadente propriedade rural russa nos finais do século XIX e que serve de pano de fundo para a frustração da personagem por uma vida passada em que não foi capaz de concretizar os seus sonhos.

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