Edmundo Inácio saltou para o estrelato ao participar no The Voice, com re-interpreções originais de temas tão conhecidos como a 'Comunhão de Bens' de Ágata.
Prestes a lançar um trabalho em nome próprio, o artista, que conta com mais de 4 milhões de visualizações no vídeos das suas atuações, no Youtube, vai participar no Festival da Canção, com o tema 'A Festa', escrito em parceria com Brisa e coproduzido por Left.
Antes de começar o Festival da Canção, o Notícias ao Minuto esteve à conversa com o jovem natural de Portimão para saber em que se inspirou para escrever o tema, se sonha chegar à Eurovisão e até para perceber qual o seu nível de nervosismo.
Como surgiu a oportunidade de participar no Festival da Canção?
Ainda durante o The Voice, recebi inúmeras mensagens e comentários sobre a vontade que as pessoas tinham de me ver representar Portugal na Eurovisão. As pessoas quase nem falavam do Festival, parece que, de alguma forma, saltavam essa etapa e viam-me logo na Eurovisão [risos]. Claro que eu também pensava nisto, mas queria esperar um pouco antes de participar. Como a vontade do público era grande e persistente, e a minha vontade também, pensei que seria uma boa opção participar este ano. Tentei escrever várias vezes uma música a pensar no Festival da Canção, mas essa canção nunca surgiu. Em simultâneo, andava em estúdio a gravar o potencial primeiro single. O Left, que coproduziu o tema, insistiu que este seria perfeito para participar. Inicialmente não confiei, mas à medida que a produção foi avançando vi o potencial da canção neste formato televisivo. Acabei por submetê-la e a RTP ligou-me. E agora estamos aqui a falar sobre isto [risos].
Sempre foi algo com que sonhou?
Há muitos anos que acompanho o Festival da Canção e, por consequência, a Eurovisão. Até há pouco tempo, nunca me tinha imaginado neste formato, mas o amor das pessoas durante e após o The Voice enalteceu esta opção. Acredito que tenho a coragem e a capacidade para assumir esta tão grande responsabilidade e representar a nossa musicalidade da melhor forma.
'A Festa' foi coescrita com Brisa. Esta canção teve como inspiração algum momento da sua vida?
Claro que sim. A arte recria a vida, assim como a vida recria a arte. Eu gosto muito de criar sobre algo que tenha vivido, depois opto por ser fiel ou acrescentar detalhes ficcionais. Tenho formação em cinema e isso nota-se. 'A Festa' tem duas inspirações, uma mais 'social' e outra mais "profissional'. A ‘social’ fala sobre a forma e a tendência que a sociedade tem em marginalizar quem não teve a sorte de nascer num berço de ouro. Estas pessoas são colocadas de lado por serem um peso económico para as carteiras do país. A outra inspiração, e a principal, é o facto dos novos profissionais não terem nem espaço, nem oportunidades seguras para entrar na indústria. Eu não falo da falta de talento, falo do mercado ter os seus vícios. Acho que todos temos direito a ter um pouco desta 'festa'.
O tema tem fundido em si sonoridades contemporâneas de rock, pop alternativo e música eletrónica. Mas também raízes tradicionais como o fado. Como chegou a esta musicalidade?
Esta canção tem várias influências tradicionais, principalmente o fado, a nossa música tradicional, flamenco e as musicalidades do Médio Oriente. Na realidade, eu não cheguei a esta musicalidade, a musicalidade é que chegou até mim. Estudei três anos no Reino Unido e durante este tempo fui-me apaixonando pelas sonoridades do mundo. Passei muitas horas a ouvir os discos da Amália, discos folclóricos, chorei a ouvir flamenco e música Árabe. Tudo isto marcou-me imenso e senti que estas influências tinham algo que me deixava expressar o que sentia. Isto é Portugal e Espanha! Somos fruto do mesmo. O fado e o flamenco nasceram da música Árabe. Resumindo tudo…[risos] juntei tudo aquilo que gostava de representar e fui refinando até ter esta mistura de estilos.
A primeira semifinal acontece a 25 fevereiro e o Edmundo atua na segunda, a 4 de março. O que vai fazer até lá para garantir que chega ao pódio?
Eu acho que os artistas nunca podem deixar de ser aquilo que querem ser. Isso sou eu e sempre serei eu. Dou sempre tudo de mim e trabalho muito para aperfeiçoar. Subirei a palco com confiança no meu trabalho e canto sempre de peito aberto, com muito sentimento e verdade. 'Ser eu' é meio caminho para que as pessoas sintam tanto o momento como eu. Depois, acrescento tudo aquilo que aprendi nestes anos de estudos artísticos. Estou confiante do que vamos apresentar e do facto de ser algo nunca antes visto no Festival [da Canção]. Haverá alaúde e uma experiência visual diferente… Se revelar muito estrago a surpresa [risos].
E está nervoso?
Não sinto qualquer nervosismo nem pressão nenhuma. Sinto-me tranquilo e confiante no meu trabalho. A minha equipa também confia em mim. A única coisa que tenho que pensar é que será o meu momento de brilhar e tenho que aproveitar ao máximo. Gosto do que faço e trabalho muito para melhorar. Estaria nervoso se não confiasse no projeto. Apenas estou ansioso para que chegue esse momento.
Participou no The Voice em 2021/2022. Como correu essa experiência?
Foi uma experiência muito enriquecedora. Trabalhávamos à velocidade da luz e foram meses sem descanso. Isso deu-me um bom ritmo de trabalho e muita confiança. Superou as minhas expectativas. Fui um participante marcante e original, e isso fez de mim um artista que as pessoas exigissem um álbum, singles, espetáculos,… no fundo, as pessoas querem ver mais de mim para além do The Voice. O meu trabalho e originalidade levaram-me à final e isso é um sonho para todos. Não podia ter corrido melhor.
Chegou à gala final e tornou-se num dos concorrentes com uma das passagens mais marcantes pelo programa, sobretudo pela forma original como reinterpretou temas tão conhecidos como 'Comunhão de Bens', de Ágata’. Os vídeos das suas atuações no programa têm até mais de 4 milhões de visualizações no Youtube. Depois de tamanho sucesso, sente pressão para primar pela originalidade também no Festival da Canção?
Acho que sentir pressão para ser original, é meio caminho andado para nos convertermos num produto mais pensado que sentido. Sinto que o que trago é um produto original, com referências não convencionais em Portugal, e toda a apresentação também será original. Claro que as pessoas têm sempre coisas a dizer. Haverá quem gostasse de ver, ou ouvir, algo mais experimental, outros que gostariam mais de ouvir Pop puro. Todos nós temos uma palavra a dizer, mas nunca vamos conseguir agradar a todos. Se formos fiéis a nós, as pessoas também irão apreciar o momento. Este será um momento musical, mas haverá um álbum a caminho com muito mais espaço criativo.
Que portas espera que o Festival da Canção lhe possa abrir?
O Festival é uma ótima montra para os artistas nacionais. Temos que aproveitar esse momento e dar continuidade ao trabalho. Acredito que este é o momento certo para me afirmar como compositor/intérprete e ganhar ainda mais a confiança dos portugueses.
Ganhar a Eurovisão é uma tarefa árdua que só aconteceu uma vez a Portugal. Porque é que acha que só vimos isso acontecer uma vez?
Não sei ao certo o porquê, mas acho que não vencer tantas vezes é um bom sinal. É sinal que Portugal tem artistas que não se convertem tão facilmente às fórmulas musicais que a indústria internacional tenta incutir. Nós temos tradições distintas e uma musicalidade única. Claro que as influências chegam de fora do país, mas somos bons a filtrar o que queremos. Talvez este seja o principal ponto para não termos mais que uma vitória. Isto não significa que não haja qualidade, apenas não deixamos de o ser! Até ao Salvador Sobral não éramos vistos como favoritos, depois disso tudo mudou. Temos uma Europa de olho em nós. Somos sempre o país que leva algo fora do 'ideal' e isso é a nossa vantagem. Todas as turmas têm o seu 'Dark Horse' e eu gosto do facto de o sermos [Risos].
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