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Exposição sobre faraós na Gulbenkian reflete sobre noção de celebridade

Uma exposição dedicada à arte egípcia e aos faraós, que questiona a noção de celebridade em torno destas figuras históricas que ocupam o imaginário mundial há 5 mil anos, abre ao público na sexta-feira, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.

Exposição sobre faraós na Gulbenkian reflete sobre noção de celebridade
Notícias ao Minuto

18:24 - 24/11/22 por Lusa

Cultura Fundação Gulbenkian

Intitulada 'Faraós Superstars', a mostra vai estar patente até 06 de março de 2023 e celebra os 100 anos da descoberta do túmulo de Tutankhamon, no Vale dos Reis, pelo egiptólogo britânico Howard Carter, e os 200 anos da decifração dos hieróglifos, por Jean-François Champollion.

A exposição está dividida em três partes - 'Três mil anos de História, alguns reinados memoráveis', 'O que resta dos faraós? A história e as lendas' e 'O regresso dos faraós' -- e reúne cerca de 250 obras de importantes coleções europeias, entre antiguidades egípcias, iluminuras medievais, pinturas clássicas, documentos, obras históricas, mas também vídeos, música pop, bens de consumo e publicidade do nosso tempo.

Este conjunto variado convida a uma reflexão sobre a popularidade destas personagens históricas, e por vezes míticas, questionando a razão por que alguns faraós se tornaram celebridades, enquanto a memória de outros se perdeu.

"A exposição, ao longo do percurso, vai sinalizar momentos que tem a ver com notoriedade: como é que alguns faraós conseguem perdurar ao tempo, a cinco mil anos de história em que, ainda hoje, são recordados e utilizados", explicou o curador do Museu Calouste Gulbenkian João Carvalho Dias aos jornalistas, durante uma visita guiada.

Este foi o ponto de partida do curador Frédéric Mougenot, do Palais des Beaux-Arts de Lille, para a construção da exposição: "Como é que a partir do contemporâneo conseguimos construir uma história que tenha sentido e em que a presença do faraó continua a ser sentida".

Esta noção foi percecionada pelo próprio Frédéric Mougenot através da publicidade e de uma série de outros meios, como o cinema, em que estas figuras estavam lá.

O curador questionou-se por que é que estavam lá e porque é que perduraram ao tempo.

Há outras questões que se colocam, que são as do próprio esquecimento: "Porque é que nestes 314 faraós mais ou menos conhecidos, alguns continuam vivos e outros desapareceram completamente da memória? O que é que aconteceu?", destaca João Carvalho Dias.

"Há um momento em que isso é notório, que tem a ver com tentativa de chamar a uma nova ordem religiosa do monoteísmo, o período de Akhenaton e Nefertiti e o sucessor Tutankhamon, e que a seguir vai sofrer represálias por essa ideia que não estava no princípio da formação do mundo", prossegue o curador.

Há uma linha egípcia que dá continuidade a uma "espécie de verdade absoluta que se constrói no momento em que o mundo é criado" e perdura durante toda a realeza que os faraós vão construindo.

"Essa interrupção merece ser punida, estes nomes são erradicados e a própria arte vai encarregar-se de o fazer porque os seus sucessores vão riscar os seus nomes".

A natureza efémera da popularidade, nem sempre associada ao reconhecimento histórico, é outro tema explorado nesta exposição. Khufu (Quéops, em grego), Nefertiti, Tutankhamon, Ramsés e Cleópatra continuam a ser nomes reconhecidos milhares de anos após a sua morte. Mas, atualmente, quem se lembra de Teti, de Senuseret ou de Nectanebo?

No primeiro núcleo expositivo, as fontes antigas dão amplo testemunho da popularidade póstuma de alguns faraós, porque para os antigos egípcios, um indivíduo sobrevivia depois da morte enquanto o seu nome fosse escrito e pronunciado, e as suas imagens preservadas, no mundo dos vivos.

Assim, cada soberano preparava o seu próprio culto funerário, mandando erigir templos e estátuas com os seus nomes inscritos em cartelas oblongas.

Logo no início do percurso é possível ver uma tapeçaria alusiva à história de Moisés, datada de 1665 e baseada numa pintura de Nicolas Poussin, que ilustra um episódio do Êxodo, em que a vara de Aarão (irmão de Moisés) é transformada numa serpente.

Deste núcleo, os curadores destacaram também uma mesa de oferendas dedicada a 18 eis e rainhas do passado. A peça em calcário, coberta de gravuras, data de 1279 a 1202 a.c., apanhando o reinado de Ramsés II.

João Carvalho Dias destacou também duas pequenas cabeças esculpidas em obsidiana e pasta de vidro, representativas dos faraós Senuseret III e Amen-hotep III, numa alusão à importância que estas figuras tiveram na manutenção da ordem no Egito.

Os monumentos reais -- templos, pirâmides e colossos --, a sucessão da monarquia faraónica, os fundadores do Império Novo e os reis malditos são outros dos temas explorados neste primeiro núcleo.

O segundo núcleo aborda já as relações regulares que os faraós dos séculos VII e VI a.C. mantiveram com os gregos, razão por que são frequentemente citados na literatura clássica.

Outras personalidades históricas são lembradas nesta galeria que explora a cristianização do Egito e o consequente fim da civilização faraónica.

Uma das figuras evocadas é Cleópatra, a "única famosa", "no ocidente vista como uma mulher fatal, mas para o mundo árabe uma rainha que construiu".

Há várias peças alusivas a Cleópatra, desde quadros a esculturas, de que é exemplo um busto em mármore, da autoria de Claude Bertin, datado de antes de 1697.

O terceiro núcleo é dedicado ao regresso dos faraós, quando, a partir de 1822, os egiptólogos começaram a compreender o significado dos hieróglifos e, por conseguinte, a resgatá-los do esquecimento.

Ramsés, Akhenaton, Nefertiti e Tutankhamon juntaram-se a Khufu e Cleópatra e foram elevados ao estatuto de vedetas internacionais que refletiam o fascínio pelo Egito.

A imagem dos faraós foi disseminada numa variedade de meios, como imprensa, filmes, fotografia, publicidade, bens de consumo, imagens populares e obras de arte.

Uma parte da exposição mostra cartazes, livros de banda desenhada, filmes ou peças de teatro sobre a temática, assim como bens de consumo, de que são exemplo uma moto francesa Kéops ou um whisky Cleópatra.

A fechar a exposição encontra-se uma escultura de Joana Vasconcelos, uma viúva negra a que a artista chamou Cleópatra, e finalmente um punho de faraó, em granito vermelho.

Trata-se do punho esquerdo de um colosso de Ramsés II (1279 a 212 a.c.), que deveria medir cerca de 15 metros de altura e que se erguia nas proximidades do grande templo de Ptah em Mênfis, uma das capitais do Egito.

Apresentada recentemente no Mucem, em Marselha, esta exposição contempla obras vindas das coleções do British Museum (Londres), do Museu do Louvre (Paris), do Museo Egizio (Turim), do Ashmolean Museum (Oxford), do Musée d'Orsay (Paris), do Mucem -- Musée des Civilisations de l'Europe et de la Méditerranée (Marselha) e da Biblioteca Nacional de Portugal (Lisboa), entre outras.

Em foco estarão também peças do núcleo de arte egípcia do Museu Gulbenkian, ponto de partida para uma reflexão sobre a relação que Calouste Gulbenkian estabeleceu com Howard Carter, conselheiro para a maioria das suas aquisições.

A exposição conta também com um vídeo de Sarah Nagaty, produzido especificamente para a exposição em Lisboa, intitulado 'Egito: A Longínqua Terra Próxima'.

As atividades paralelas a esta exposição incluem 'workshops', oficinas de férias, vídeos e curso 'online', um colóquio internacional, um ciclo de cinema e uma exposição bibliográfica.

Para as famílias, foi criado o jogo 'A Cartela do Faraó', que permite a pequenos e adultos explorar a exposição de um modo divertido e criativo.

Foi também desenhado um programa de acessibilidade visual, que contempla várias estações táteis localizadas ao longo da exposição. Os textos sobre as obras são disponibilizados 'online' em formato ampliado.

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