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Murais carregam "dores" e ampliam quotidiano de Moçambique

Os traumas provocados pela violência em Cabo Delgado estão entre os principais temas das pinturas que agora dão cor a becos e ruelas de construções precárias da capital moçambicana.

Murais carregam "dores" e ampliam quotidiano de Moçambique
Notícias ao Minuto

06:26 - 15/10/22 por Lusa

Cultura Cabo Delgado

"Estamos a tentar ilustrar um pouco de tudo que está a acontecer", explica à Lusa AfroIvan, 34 anos, artista moçambicano fundador da iniciativa Maputo Street Art, de pincel na mão e de olho em mais um mural.

Hoje estamos no bairro Unidade Sete, mas a tinta dá corpo a mensagens em toda a periferia de Maputo.

O conceito da iniciativa que junta vários jovens artistas moçambicanos é simples: levar arte à periferia, expondo em becos e ruelas temas de interesse público e denunciando as "febres sociais".

Na Machava-Bunhiça, uma pessoa é retratada com correntes ao pescoço e cinco cadeados na cabeça, que lhe fecham a boca, olhos e ouvidos: o título é "O Estado do Cidadão", num país em que várias Organizações Não-Governamentais (ONG) se queixam de limitações às liberdades.

Mulheres de alguidar debaixo do braço, mulheres com bebés às costas, são outras cenas de um quotidiano vivido a custo que impressiona ainda mais quando é transposto para as paredes.

"É mais fácil pintar nos bairros, na medida em que não estamos reféns de burocracias administrativas do município. Quando pedimos para pintar no muro de uma residência, as pessoas estão sempre recetivas, porque normalmente não têm condições para pintar com fundos próprios", diz AfroIvan.

Há a intensidade das cores, há tristeza e alegria, descreve, tudo concentrado numa arte de rua que ainda está marginalizada em Moçambique, mas que tem encantado novas gerações, diz o autor.

Eduardo Miguel, 17 anos, estudante, viu e quis juntar-se ao movimento.

"Eu estava a passar pela rua e encantei-me com a arte. Pedi para participar. Vejo que estão a fazer um trabalho muito revolucionário, comunicar as pessoas pela arte", justifica.

"Poucos têm essa coragem, [mas] a partir do momento em que alguém toma a iniciativa, juntamo-nos a eles para também fazer dessa causa a nossa", acrescenta o estudante.

Os murais com tintas ou grafite saem do bolso dos próprios artistas, que também têm realizado encontros de poesia, música e fotografia, bem como visitas guiadas, tudo com a ambição de levar aos subúrbios de Maputo a "missão da cultura urbana": a intervenção social.

Ildefonso Colaço, 23 anos, é um fotógrafo que também abraçou a iniciativa Maputo Street Art e agora expõe fotos ao lado das pinturas, mantendo sempre em mente a "responsabilidade de denunciar as febres da sociedade".

Pretende pegar em "elementos fragmentados" e "contar histórias".

"Cabo Delgado, como província, é um exemplo. Ninguém fala das riquezas que a província tem. Todos falam desta mancha que é a guerra, mas existem várias outras coisas para contar", diz à Lusa.

É hora de seguir caminho para outro muro, noutro bairro.

A rota está registada nas páginas da Maputo Street Art nas redes sociais Facebook e Instagram.

Leia Também: Polícia moçambicana interceta 14 suspeitos de recrutamento para insurgentes

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