Colson Whitehead volta às questões raciais num novo policial
O escritor norte-americano Colson Whitehead, duas vezes prémio Pulitzer, regressa com um novo romance sobre desigualdade e injustiça, "Ao ritmo do Harlem", e vai estar hoje e terça-feira em Portugal para lançar o livro e conversar com os leitores.
© Marilla Sicilia/Mondadori Portfolio via Getty Images
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Com "Ao ritmo do Harlem", Colson Whitehead volta a colocar o dedo no que a editora classifica como a "grande ferida da América", como já fez com "A estrada subterrânea", ao abordar o racismo e a escravatura no século XIX, tema que considera permanecer atual numa "América muito racista", e com "Os rapazes de Nickel", baseado em factos verídicos, sobre os abusos dentro de uma casa de correção para jovens, nos Estados Unidos, onde a cor da pele "determina demasiado".
Os dois romances valeram ao autor dois prémios Pulitzer de ficção, o primeiro em 2017 e o segundo em 2020.
Agora, lança um novo romance que volta a abordar a profunda desigualdade histórica que separa negros e brancos nos Estados Unidos, mas enquanto os anteriores tratavam temas como a escravatura e o sistema de justiça juvenil, "Ao ritmo de Harlem" é um romance policial divertido sobre raça, poder e a história do Harlem, constituindo simultaneamente, uma carta de amor do autor àquele bairro nova-iorquino, segundo a editora Alfaguara, que tem a partir de hoje o livro disponível nas livrarias portuguesas.
A narrativa entrelaça um mistério policial com a história de uma família comum, sobre o cenário do fervilhante Harlem dos anos 1960, transportando o leitor para o centro do movimento dos direitos civis, numa época em que os tumultos começaram a transformar a cena política e acabariam por mudar para sempre o mundo.
Colson Whitehead -- "voz literária fundamental na história da cultura negra -- oferece-nos uma narrativa de crimes e castigos, episódios tragicómicos, pequenas vinganças e grandes disfarces", num romance que toca "os temas fulcrais da obra deste escritor", acrescenta a editora.
O protagonista do enredo é Ray Carney, que tem uma história semelhante à de várias outras do seu bairro: é vendedor de mobília, pai de família, homem pacato.
Pouca gente sabe que ele descende de uma linhagem de rufiões e que, sob a aparência de normalidade, há várias pontas soltas no seu caminho.
Como o dinheiro nem sempre chega, Ray desenrasca-se com esquemas trapaceiros e biscates pouco recomendáveis, à boleia das atividades ilícitas do primo Freddie.
Mas há um dia em que os planos correm mal e Ray cai numa teia de corrupção, crime e pornografia, a que não faltam polícias duvidosos e arruaceiros sem escrúpulos, marcando aqui o início da sua vida dupla.
Segundo o The New York Times, Whitehead oferece aqui "a sua magnífica eloquência", numa trama que enreda história urbana com estratificação racial, enquanto a The Atlantic considera que o autor "dá continuidade a uma longa linhagem de escritores negros que usam de modo subversivo o romance policial, expondo as hipocrisias da justiça, os falsos argumentos morais do capitalismo e o facto de a América ter tido origem num saque de que todos somos cúmplices".
Para o The Observer, "este é também um romance social, que questiona a natureza do preconceito e a forma como o lugar de onde vimos impõem limites ao nosso futuro".
"Ao ritmo de Harlem" está construído em três atos -- "A carrinha" (1959), "Dorvay" (1961) e "Calma, meu" (1964) -- para investigar se Ray Carney conseguirá escapar à vida que lhe foi destinada sem que ele quisesse.
Colson Whitehead está em Portugal hoje e terça-feira, para o lançamento deste livro e para participar no programa "Meet the Author", promovido pela Fundação Luso-Americana (FLAD) que visa promover o contacto entre leitores portugueses e autores conceituados norte-americanos.
O encontro com o autor está marcado para dia 27 de setembro, às 18:00, no auditório da FLAD, em Lisboa, e é de entrada gratuita e aberto ao público em geral, mediante confirmação de presença para fladport@flad.pt.
A iniciativa, que começa com Colson Whitehead, trará a Portugal um novo escritor a cada mês, estando já confirmados cinco nomes para as próximas edições.
O convidado seguinte será Anthony Marra, autor de "O Czar do Amor e do Tecno", editado pela Teorema, a que se seguirá Hanya Yanagihara, autora do romance "A Little Life", que será publicado em Portugal, em novembro, pela Editorial Presença.
Seguem-se Valeria Luiselli, autora de "Lost Children Archive", livro publicado em Portugal pela editora Bazarov, com o título "Deserto sonoro", e Brit Bennett, autora de "A Outra Metade", editado também pela Alfaguara.
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