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Teatro recorda soldado português do século XVI convertido ao islamismo

A história de um soldado português da baixa nobreza que, em 1506, partiu com Afonso de Albuquerque para a Índia, onde se converteu ao islamismo, está na base da peça "Ouvidor geral", que se estreia na quarta-feira, dia 09, em Lisboa.

Teatro recorda soldado português do século XVI convertido ao islamismo
Notícias ao Minuto

11:18 - 07/02/22 por Lusa

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Em comum com Fernão Lopes, o famoso cronista do século XV, tinha o soldado português o nome. Chegado a Goa, aqui acabaria por cometer o crime de apostasia, convertendo-se ao islamismo, e revoltando-se contra Afonso de Albuquerque que, para se vingar, o manda torturar e mutilar, acabando Fernão Lopes, o guerreiro, por se tornar um indigente nas ruas de Goa durante a primeira conquista dos portugueses na Índia.

No regresso a Portugal, já após a morte de Afonso de Albuquerque, em 1515, Fernão Lopes acaba por fugir do barco onde viajava, escondendo-se na então deserta ilha de Santa Helena, onde viveu sozinho durante cerca de uma década, explicou à Lusa o ator Manuel Wiborg, que encena o espetáculo e o protagoniza.

Passados os primeiros 10 anos, é descoberto pelo comandante de um navio português, pois as caravelas portuguesas abasteciam-se de água naquela ilha do Atlântico Sul, que fica impressionado com a história do único habitante que ali encontra, e a narra a comandantes de outros navios, que depois seguem a rota, para lhe deixarem víveres, sementes, cabras e galinhas, com que Fernão Lopes acaba por povoar o território, permanecendo na ilha mais dez anos, disse Wiborg.

A história do renegado acaba por chegar à corte portuguesa. Fernão Lopes é trazido então para Portugal, onde foi perdoado por João III. Viaja igualmente para Roma, sendo também perdoado pelo crime de apostasia pelo Papa Clemente VII que decidiu facultar-lhe a realização de um desejo, que Fernão Lopes lhe pede: regressar a Santa Helena, onde viria a morar mais vinte anos e a morrer.

Para Manuel Wiborg, a história do soldado Fernão Lopes chamou-lhe "muito à atenção", por ser "muito peculiar" e por se tratar de uma personagem que, "no fundo, é o primeiro Robinson Crusoé da História".

Além disso, trata-se de uma personagem que "foi muitas coisas ao longo da vida, inclusive um ambientalista, porque ele cultiva a ilha com produtos vindos do mundo todo", referiu.

"Aquela ilha [onde mais tarde Napoleão viria a morrer], no tempo de Fernão Lopes, foi uma espécie de um primeiro sinal de globalização do mundo, mas através das plantas e das sementes", já que Fernão Lopes cultivava produtos de todo o lado que obtinha do navios que ali passavam, acrescentou Manuel Wiborg.

A história de Miguel Castro Caldas foi baseada na obra 'O outro exílio', do escritor egípcio A. R. Azzam, que narra a história de Fernão Lopes que já deu origem a uma série e está "na base de uma grande produção que está a ser feita em Hollywood".

O que fascina Manuel Wiborg, na personagem de Fernão Lopes, é o facto de se tratar de um "homem muito humanista para o seu tempo", já que se converteu ao Islamismo, "por discordar da forma brutal como os colonizados eram tratados pelos portugueses na Índia".

"E, por outro lado, é um ser humano que adquire várias facetas ao longo da sua vida, sendo a última delas esta forma de cultivar a ilha e abastecer as caravelas portuguesas, como uma forma de redenção do seu crime de apostasia", concluiu.

'Ouvidor geral' tem cenografia de Ana Tomé, figurinos de Lucha d´Orey, música de Adriano Sérgio, sonoplastia de André Pires e luz de Cárin Geada.

Encenada e com direção de produção de Manuel Wiborg, 'Ouvidor geral' é uma produção do Teatro do Interior e vai estar em cena no Teatro da Politécnica até 19 de fevereiro, com sessões de sexta-feira a sábado, às 19:00.

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