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Jornalistas resgatam "Os Rapazes dos Tanques" do 25 de Abril

Dois jornalistas que fizeram a cobertura do 25 de Abril passaram um ano em busca dos que participaram na revolução há 40 anos, alguns que nunca tinham falado, e lançam na terça-feira o livro "Os Rapazes dos Tanques".

Jornalistas resgatam "Os Rapazes dos Tanques" do 25 de Abril
Notícias ao Minuto

10:26 - 23/03/14 por Lusa

Cultura Livros

Alfredo Cunha e Adelino Gomes, fotógrafo e redator, estavam no Terreiro do Paço e no Largo do Carmo, em Lisboa, quando foi derrubada a ditadura. O primeiro fotografou e agora, os dois foram dar corpo às caras a preto e branco das "chapas" dessa altura.

"O livro parte das fotografias do Alfredo. E as fotografias nestes dois sítios que são essenciais para a revolução começar, no Terreiro do Paço, onde há uma disputa eminentemente militar, e no Carmo, onde há uma disputa militar mas já com os revoltosos consagrados porque têm poder de fogo superior à GNR e com o apoio do povo", explicou à Agência Lusa o jornalista Adelino Gomes.

Procurar as pessoas que estão nas fotografias não foi fácil, um trabalho que os levou, disseram, de Braga à Amareleja, de Vila Real de Santo António à Madeira. O resultado é 32 entrevistas, 30 delas a homens que estiveram nos Tanques, a fazer a revolução ou contra ela, oficiais sim mas também furriéis e cabos, hoje generais ou homens anónimos, que naquela manhã receberam ordens em vez de as dar.

Através das fotografias de Alfredo Cunha, que começara a trabalhar em 1971 no jornal Notícias da Amadora e que em 1974 estava no Século (viria a trabalhar depois nomeadamente na Agência Lusa e no jornal Público), os dois chegaram aos que estavam nos carros de combate e ouviram as suas histórias, sobre quem mandou disparar contra o Terreiro do Paço, sobre quem se recusou.

Adelino Gomes, que foi jornalista no Rádio Clube Português, Rádio Renascença e RDP e depois também na RTP e no jornal Público, destaca por exemplo o depoimento de um "cabo apontador" a quem foi dada ordem para disparar contra o grupo de Salgueiro Maia. "Toda a gente andava à procura dele e nós descobrimo-lo. Mas descobrimos também e falámos com outros cabos. Este cabo, nem o presidente da junta dele sabe que ele recebeu ordens para arrasar o Terreiro do Paço".

Mas aos homens dos regimentos de cavalaria 3, 4 e 7 os dois jornalistas pediram também, além das suas histórias de vida, uma visão sobre o Portugal atual e sobre os seus heróis. Diz Adelino Gomes: "estive a fazer as contas, há 43 heróis, do Ronaldo ao Salgueiro Maia".

O livro (Porto Editora) será apresentado no Torreão Poente da Praça do Comércio, em Lisboa, o local onde Alfredo Cunha, diz, tirou a primeira fotografia da revolução que estava a começar. Agora, 40 anos passados, está lá para mostrar as fotografias mas também os protagonistas, agora já com a cor das suas palavras.

"De um lado e do outro, porque afinal os bons e os maus eram os mesmos, os rapazes dos tanques, que se conheciam todos. E foi por isso que as coisas não correram mal nesse dia e não houve uma grande desgraça", diz Alfredo Cunha.

E porquê? Ele mesmo responde: "porque tudo se passou entre os rapazes dos tanques".

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