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Pianoforte "regressa à cena" na abertura da Temporada de Música

O pianoforte Clementi do Palácio de Queluz "regressa oficialmente à cena" no próximo sábado, na abertura da Temporada de Música, sob o mote "Tempestade e Galenterie", disse à Lusa o maestro e diretor artístico deste ciclo, Massimo Mazzeo.

Pianoforte "regressa à cena" na abertura da Temporada de Música
Notícias ao Minuto

14:29 - 06/03/14 por Lusa

Cultura Queluz

QO pianoforte regressa "depois de um extenso trabalho de reconstituição", explicou o maestro, que referiu que o instrumento "tinha sido restaurado bastante bem há 15 anos, mas ficou parado nos últimos dez anos".

"O pianoforte encontra-se na sala de música do palácio, que é lindíssima, mas imprópria para a manutenção de um instrumento desta fragilidade. A sala atinge no inverno uma humidade à volta dos 90% com uma temperatura a rondar os 12 graus, o que afeta muito um instrumento como o Clementi", disse o maestro.

O pianoforte, numa estrutura toda em madeira (mogno, pau-santo e casquinha), foi construído em Inglaterra por Muzio Clementi, em 1810, seu inventor, e pertence ao palácio por doação de Guilherme Possolo.

O Clementi de Queluz foi alvo de um "processo de recuperação e reconstituição de todas as partes físicas e mecânicas, do qual foi feito um relatório, o que aliás, não existia relativamente ao anterior restauro, feito há 15 anos", contou.

"O pianoforte, relativamente ao de hoje, que é uma máquina praticamente perfeita, tem um teclado de cinco oitavas e meia e os de hoje chegam às sete e oito oitavas, e a sua extensão é menor do que os de hoje, e até as teclas são menores que as atuais. O pianoforte é totalmente feito em madeira, quando hoje usam já ligas especiais", explicou o maestro.

O plano de recuperação do pianoforte, cuja diferença dos pianos atuais das salas concerto "é como entre um Ferrari e um carro de época", como afirma Mazzeo, inclui "uma monitorização semanal, com medições de humidade e temperatura", e é regularmente "tocado, mesmo que não em concerto, cabendo ao cravista e pianista José Carlos Araújo, semanalmente, tocar o Clementi", explicou, de modo a garantir a sua manutenção.

A temporada abre no sábado, com o pianista holandês Ronald Brautigam, que irá interpretar, entre outras, peças de Haydn, Mozart e do próprio Muzio Clementi.

Além de Brautigam, o cartaz da Temporada de Carnaval inclui o pianista de origem sul-africana Kristian Bezuidenhout, cujas gravações têm vindo a ser distinguidas pelas revistas da especialidade, como a Diapason ou a Gramophone, e Pedro Burmester e a Orquestra Divino Sospiro, da qual Massimo Mazzeo é maestro titular.

"Os pianistas escolhidos, por estatuto, são os mais importantes que tocam instrumentos históricos, e conhecem muito bem o que é o trabalho num instrumento destes que é muito diferente dos modernos", disse Mazzeo, adiantando que "conhecem também todos os critérios da interpretação historicamente informada".

Trata-se de uma escolha de intérpretes "ao mais alto nível", argumentou o maestro, que defendeu que só esse pode ser o critério para se usufruir a música e a cultura.

Os critérios da temporada tiveram ainda em conta, segundo Mazzeo, "o património português, recriando-se por exemplo as famosas assembleias de Lisboa, e a participação de músicos jovens, designadamente o Thalia Ensemble, que integra o fagotista José Rodrigues Gomes", vencedor, no ano passado, do Concurso Internacional de Iorque, em Inglaterra.

Relativamente à escolha de repertório dos recitais, Mazzeo afirmou que "o filão principal tem a ver com o período de vida do Palácio de Queluz, isto é, finais do século XVIII e princípios do XIX, que, na História da Música, corresponde ao chamado período galante". O diretor artístico da temporada garante ainda não se limitar "aos grandes compositores como Haydn, Mozart e Beethoven".

A temporada recria ainda "as famosas assembleias de Lisboa, onde se jogava e cantava".

A que vai ser recriada no dia 16 de março, na sala dos embaixadores do palácio, "é um projeto da musicóloga Cristina Fernandes, e será utilizado um baralho de cartas musicais do século XVIII, do espólio de José do Espírito Santo e Oliveira, que, além dos signos, cada carta tem a indicação de uma partitura, e quem ganhava depois tocava a partitura especificada na carta", explicou.

Segundo a investigação de Cristina Fernandes, é "recorrente, nos relatos setecentistas dos viajantes estrangeiros que visitavam Lisboa, na literatura e na iconografia", falar das assembleias musicais da capital portuguesa, que abrangiam "quer os espaços domésticos quer as assembleias semiprivadas e públicas, ou seja, com entrada paga, como a famosa Assembleia das Nações Estrangeiras, do violinista e compositor Pedro António Avondano".

Esta recriação conta com a participação da orquestra Divino Sospiro, que interpretará peças de David Perez, Pedro António Avondano, Antonio Rodil, Policarpo José da Silva, Luigi Boccherini, Franz Joseph Haydn e Carl Stamitz, e serão executadas coreografias a partir de Feuillet, Pécour, Kinsky, Malpied e Magri.

À recriação histórica, no calendário da temporada, segue-se, no dia 22 de março, na sala da música, um recital por Alexander Lonquich, em pianoforte, e Christophe Coin, em violoncelo, encerrando, no dia 29, com a dupla estreia de Pedro Burmester, ao tocar, pela primeira vez, o pianoforte Clementi e atuando com a Divino Sospiro.

Do programa consta, entre outras obras, o derradeiro Concerto para piano e orquestra de Mozart, o Concerto n.º 27, KV.595.

A Temporada de Música regressa ao Palácio de Queluz, antiga residência régia de veraneio, em outubro, com a violinista Midori Seiler e o pianista Jos van Immerseel, na abertura do novo ciclo de concertos.

Desse cartaz faz também parte o Trio Desassossego, vencedor, no ano passado, do Prémio Jovens Músicos na categoria Música de Câmara, e a Orquestra Gulbenkian, sob a direção de Leonardo Garcia Alarcón.

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