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Festival de Música volta aos Capuchos dirigido por Filipe Pinto-Ribeiro

O Festival de Música dos Capuchos regressa em junho, sob a direção artística do pianista Filipe Pinto-Ribeiro, 20 anos após a última edição, com uma homenagem a Alfred Brendel, a evocação de Astor Piazzolla e o pianista Stephen Kovacevich.

Festival de Música volta aos Capuchos dirigido por Filipe Pinto-Ribeiro
Notícias ao Minuto

10:53 - 01/04/21 por Lusa

Cultura Festival

A programação adiantada à agência Lusa pelo diretor artístico prevê ainda atuações do alaudista Hopkinson Smith, do trompetista Sergei Nakariakov, do bandoneonista Marcelo Nisinman, das violinistas Viviane Hagner e Karen Gomyo, assim como de músicos e agrupamentos portugueses, como o Officium Ensemble, com o objetivo de atravessar cinco séculos de música, tantos como os de vida do convento, que acolherá ainda O "Cântico do Sol", obra-prima da compositora russa Sofia Gubaidulina.

O Festival foi fundado por José Adelino Tacanho, em 1981, que morreu em setembro de 2004, e que assumiu a sua direção artística até 2001, altura em que realizou a derradeira edição, suspendendo o projeto, por falta de financiamento. Em 2005, a Câmara de Almada tentou reativar o festival, com o maestro Victor Roque Amaro (1950-2015), que reconheceu, numa entrevista à imprensa, ser "uma herança muito difícil de aguentar".

Em declarações à agência Lusa, Filipe Pinto-Ribeiro sublinhou que o Festival, sob a direção de Tacanho, foi "uma referência de qualidade", e é "a partir das 21 edições anteriores do Festival que, nas décadas de 1980 e 1990, se tornou uma referência dentro e fora de portas", que o pianista parte para um "renascimento" que considera "uma iniciativa louvável da Câmara de Almada, em contraciclo com as grandes dificuldades por que passa o país e, especialmente, o setor cultural".

O "novo" Festival tem como conceito "Cinco Séculos de História e Cinco Séculos de Música", refletindo os 500 anos de história do Convento dos Capuchos, mandado erigir em 1558 por Lourenço Pires de Távora.

"A ideia é abordar a história da música, desde a construção do Convento, em meados do século XVI até aos nossos dias. Cinco extraordinários séculos de criação e interpretação musicais, desde o Renascimento até à música contemporânea", acrescentou.

O Festival, explicou à Lusa Pinto-Ribeiro, assume cinco "eixos programáticos".

Os primeiros assentam em "sustentabilidade, ambiente e cultura", "em conformidade com a espiritualidade 'ambiental' franciscana [ordem religiosa que o ocupou], refletida no próprio Convento e considerando a urgência da mensagem ecológica".

Outro eixo é o "repertório musical dos séculos XVI a XVIII: Renascimento, Barroco, Classicismo, correspondendo ao período 'ativo' do Convento, desde a construção ao declínio, com a queda da Casa dos Távoras e a extinção das ordens religiosas" em 1834.

O "Repertório musical dos séculos XIX a XXI: do Romantismo à música contemporânea" constitui outro eixo, a que se junta um quarto, com os "cruzamentos disciplinares da música com outras artes, como a literatura, a dança, a pintura, a escultura, o cinema e fotografia".

Finalmente, "outras linguagens musicais, como o jazz e músicas do mundo" sustentam o quinto eixo do festival.

Pinto-Ribeiro disse que o jazz marcará presença com um concerto da cantora portuguesa Sofia Ribeiro, com o seu quarteto. Sofia Ribeiro está radicada fora de Portugal há vários anos e "tem sido premiada em diversas ocasiões", assinalou.

"O Festival de Música dos Capuchos assume-se, assim, como uma iniciativa cultural de excelência, aberta a todos os públicos, em linha com o referente de qualidade do seu passado e projetando um futuro em que assuma não só a anterior posição de referência em Portugal, mas também um lugar de relevo no exigente panorama internacional", declarou o pianista e programador à Lusa.

O Festival revela "motivos de sobra" para se estar atento ao seu "renascimento", referindo-se Pinto-Ribeiro ao "novo" Festival de Música dos Capuchos, como "um ato de resiliência e esperança".

O "renascido" Festival dos Capuchos realiza-se entre 11 de junho e 03 de julho, no Convento dos Capuchos, na área da zona protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica, em Almada, com um programa com "músicos e ensembles de referência mundial".

O lendário pianista austríaco Alfred Brendel, de 90 anos, "o último monstro sagrado do piano", será alvo de uma grande homenagem.

O trompetista russo Sergei Nakariakov, de 43 anos, "apelidado de Caruso e Paganini do trompete", e o alaudista norte-americano Hopkinson Smith, de 74 anos, "mestre incontestado dos instrumentos de cordas dedilhadas do Renascimento e do Barroco e uma figura fundamental do movimento da música antiga e das práticas de execução históricas", são dois nomes em destaque na programação.

Hopkinson Smith, um dos músicos formados com os precursores da corrente de interpretação historicamente informada, foi aliás mestre de José Adelino Tacanho, e regressa ao Festival após mais de duas décadas de presença no programa.

A programação do Festival assinala o centenário do nascimento compositor argentino Astor Piazzolla, com um concerto dedicado ao seu "Nuevo Tango", e a apresentação da sua ópera "María de Buenos Aires" (1968). O programa contará com a presença do bandoneonista e compositor Marcelo Nisinman, o "único discípulo de Piazzolla", e Ana Karina Rossi, no papel de María de Buenos Aires.

Da programação, Pinto-Ribeiro destacou o concerto "Cântico do Sol", obra-prima da compositora russa Sofia Gubaidulina, que Pinto-Ribeiro apontou como "uma das maiores criadoras dos últimos 50 anos".

A compositora russa inspirou-se no "Cântico das Criaturas", de S. Francisco de Assis, que será interpretada em contraponto com obras de compositores portugueses do Renascimento, período da construção do Convento dos Capuchos.

Da programação do "renascido" Festival dos Capuchos, Pinto-Ribeiro realçou a participação das violinistas Viviane Hagner e Karen Gomyo, ambas com os seus violinos Stradivarius, um recital do pianista Stephen Kovacevich, de 80 anos, os concertos pela orquestra polaca NFM Leopoldinum, de Wroclaw, e de músicos e agrupamentos portugueses, como o Officium Ensemble, e de solistas da Orquestra Gulbenkian.

Criado em 1981, o Festival dos Capuchos transformou-se de imediato numa das propostas de referência no contexto musical português, combinando concertos e conferências, em função de uma linha temática, que cruzava artes de palco, como o teatro e a dança.

A música erudita, e em particular pré-romântica, ocupava grande parte da programação, que, em simultâneo, não deixava de prestar atenção a expressões como o fado, o jazz e a música étnica.

Gustav Leonhardt, Anner Bylsma e L'Archibudelli, Jordi Savall e Hèsperion XX, Teresa Berganza, Andreas Scholl, Jean Marc Luisada, Artur Pizarro e António Rosado, Mário Laginha e Pedro Burmester, Jan Garbarek, Hilliard Ensemble, Doulce Mémoire, Sonatori de La Gioisa Marca, Akademie für Alte Musik Berlin, Opus Ensemble, Segréis de Lisboa são apenas alguns dos nomes que colocaram o Festival dos Capuchos entre os mais esperados festivais de verão, dedicados a (mais do que) música erudita.

Os cortes de financiamento do projeto, pelo antigo Instituto Português das Artes do Espetáculo, antepassado da atual Direção-Geral das Artes, acabaram por determinar o seu fim, em 2001.

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