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"Entendo o conceito de ficção primeiro como uma arte laica"

Uma arte laica e desvinculada que transita entre linguagens, esta é a direção que o escritor brasileiro Cristóvão Tezza tomará ao falar sobre literatura num evento 'online' da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, (PUC-PR), que começa hoje.

"Entendo o conceito de ficção primeiro como uma arte laica"
Notícias ao Minuto

23:17 - 26/10/20 por Lusa

Cultura Cristóvão Tezza

"Entendo o conceito de ficção primeiro como uma arte laica, ela é desvinculada, transita sobre todas as linguagens pragmáticas da vida, linguagem da ciência, da fé, da psicologia, da história, dos modos de perceção do mundo. A literatura se apropria de todas as linguagens, mas não se identifica com nenhuma delas", disse Tezza à Lusa.

O autor foi convidado a falar sobre literatura, ficção e imaginário na Semana Literária da PUC-PR 2020, que reunirá através de encontros e debates virtuais outros autores renomados como o moçambicano Mia Couto, Conceição Evaristo, Eliane Brum,?Milton Hatoum, Eliane Potiguara, Ana Maria Machado, Nádia Battella, Juliana Souza entre outros.

Um dos principais escritores em atividade no Brasil, autor de mais de 20 livros entre títulos como "Trapo", "Um Erro Emocional" e "O Filho Eterno" e "A Tirania do Amor", Tezza recebeu inúmeros prémios por seu trabalho.

Questionado sobre a importância de encontros literários em meio a pandemia de covid-19, o brasileiro primeiro frisou que o "evento [é] muito importante assim como tudo que diz respeito a leitura, ao livro, a civilização e a arte num ano muito difícil como esse no Brasil e no mundo porque é um ponto de encontro possível através da internet".

Ao ser perguntado sobre temas de interesse no Brasil atual, mergulhado na pandemia, envolto em crises sucessivas no campo da economia e política, o autor avaliou que não era possível prever a crise atual, mas já havia um sensação no ar muito pesada no que chamou de "era Bolsonaro" e no andamento do Governo de Donald Trump na Presidência dos Estados Unidos.

"A era Bolsonaro, o Trump nos Estados Unidos, trouxeram a falta de referência, o estado de barbárie. O desprezo a inteligência e o desprezo a ciência, passou a ser uma norma e isto é um processo traumatizante e teremos consequências", destacou Tezza.

"Todo este processo vai ter consequência. [...] Do ponto de vista pessoal nunca estive tão dispersivo como agora. A gente sente que tem alguma coisa fora do eixo, alguma coisa muito fora do eixo no momento histórico brasileiro, na vida pessoal", acrescentou.

O autor brasileiro também comentou que percebeu um certo afastamento dos leitores em relação ao que se produz no Brasil, citando o facto de que atualmente os brasileiros leem muito mais produção de autores portugueses do que o contrário.

"O leitor brasileiro gosta e lê muito os autores lusitanos. O Brasil historicamente sempre teve uma receção muito boa em Portugal e isto se perdeu um pouco. Hoje em dia é mais uma relação de uma via só, o Brasil está lendo muito mais os portugueses do que os portugueses lendo os brasileiros", avaliou Tezza.

"A literatura brasileira tem uma presença pequena em Portugal hoje, mas nem sempre foi assim, na década de 1950 e 1960 com o Jorge Amado o Brasil tinha uma presença muito forte em Portugal. [...] Acho que são ciclos", acrescentou.

Tezza falará sobre literatura na próxima quarta-feira numa conversa com Alex Villas Boas, professor da PUC-PR e da Universidade Católica de Portugal, e Liliane Vasconcelos, professora da Universidade Católica do Salvador.

Na abertura da semana, Mia Couto conversa com dois convidados sobre as raízes mitológicas de Moçambique que apresenta aos leitores estrangeiros na sua obra.

O autor também falará sobre o entrelaçamento de histórias, memórias e narrativas.

O evento que começa hoje, tem inscrição gratuita na internet e termina na sexta-feira.

O público poderá participar nos debates via plataforma Zoom em ligações de acesso que serão disponibilizadas diariamente aos inscritos.

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