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World Press Photo lamenta 'apagão' em Macau de exposição sobre protestos

A Fundação World Press Photo lamentou hoje o 'apagão' em Macau da exposição que exibia imagens dos protestos em Hong Kong.

World Press Photo lamenta 'apagão' em Macau de exposição sobre protestos
Notícias ao Minuto

13:42 - 08/10/20 por Lusa

Cultura Hong Kong

Numa resposta enviada à Lusa, o diretor de Exposições da Fundação World Press Photo, sediada em Amsterdão, Holanda, adiantou que vários dias depois de a exposição ter sido encerrada de forma prematura, sem aviso prévio, continuam a não ser claras as razões que levaram ao fecho da mostra organizada localmente pela Casa de Portugal e sublinhou a importância da liberdade de expressão no trabalho que a fundação realiza.

"Embora as razões para o encerramento permaneçam pouco claras, estamos a acompanhar as notícias dos 'media' locais nas quais se sugere que pode ser o resultado de pressão externa sobre o conteúdo da exposição" que reúne "o melhor do jornalismo visual do ano passado", afirmou Laurens Korteweg.

"Apoiar as condições para a liberdade de expressão, liberdade de investigação e liberdade de imprensa é uma parte fundamental do nosso trabalho. Lamentamos o encerramento prematuro da nossa exposição anual em Macau. A nossa colaboração com a Casa de Portugal Macau sempre foi positiva e esperamos poder regressar a Macau", acrescentou o mesmo responsável.

A fundação sublinhou ainda que "todas as fotografias premiadas nas categorias individuais são exibidas e uma seleção de imagens é feita para todas as histórias premiadas" e que "o conteúdo da exposição anual World Press Photo é o mesmo para todos os locais de exibição e os parceiros não podem escolher quais imagens a ser incluídas na exposição".

A exposição em causa foi inaugurada a 25 de setembro e deveria decorrer até 18 de outubro, mas no passado fim de semana as portas já estavam fechadas, sem aviso prévio.

A presidente da Casa de Portugal, a associação que organiza há anos a mostra em Macau, contactada pela Lusa, escusou-se a explicar as razões para o encerramento da mostra. Amélia António limitou-se a dizer que "questões de gestão interna não são para discutir em público".

A Associação de Imprensa em Língua Inglesa e Portuguesa de Macau (AIPIM) também lamentou o encerramento antecipado da exposição da World Press Photo em Macau "por motivos ainda por esclarecer".

"Se o encerramento estiver relacionado com pressões em torno de algumas fotografias da exposição, a AIPIM considera que estaremos perante algo de grave e um episódio preocupante que sinaliza uma erosão do espaço de liberdade de expressão", assinalou a associação, salientando que "a exposição da World Press Photo reúne o melhor fotojornalismo a nível mundial e que a presença desta exposição em Macau ao longo dos últimos anos tem sido prestigiante para a cidade, valorizando a projeção do fotojornalismo de qualidade e da liberdade de imprensa".

O único deputado português da Assembleia Legislativa (AL), José Pereira Coutinho, disse em declarações à Lusa, que "é evidente que a presidente da Casa de Portugal sofreu pressões para acabar com a exibição" e "é evidente que foi por causa das imagens dos protestos de Hong Kong".

Para outro deputado, Sulu Sou, também do campo pró-democracia na AL, o caso levanta muitas interrogações que, caso não sejam respondidas pelo Governo, podem levar o público a questionar se não se tratou de censura política.

Aquele que é o deputado mais novo na AL salientou ainda que em Macau tem sido palco de algumas 'coincidências', como o caso da proibição da exposição sobre o massacre de Tiananmen.

"Não queremos ver mais atividades destas a serem travadas em Macau", disse, defendendo ainda: "A liberdade e direitos humanos são como o ar, se o perdemos morremos".

Já o deputado Au Kam San disse à Lusa que "se o encerramento do exibição tem uma relação com as fotos alusivas aos protestos em Hong Kong" então tal "absolutamente não deveria acontecer".

O membro da AL, que viu este ano a exposição sobre o massacre de Tiananmen a ser proibida pelas autoridades, que alegaram o risco pandémico associado, defendeu que "o Governo tem a responsabilidade de esclarecer o público" e que, tendo em conta o princípio 'Um País, Dois Sistemas' que vigora no território, "isso vai afetar a imagem de Macau".

A Fundação Macau, através da qual o Governo patrocinou a exposição, limitou-se a afirmar, numa resposta à Lusa, que teve conhecimento do fecho antecipado da exposição "por causa de um problema de gestão interna da Casa de Portugal".

À semelhança de Hong Kong em 1997, para Macau foi acordado em 1999 um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário. A fórmula 'um país, dois sistemas' foi originalmente proposta pelo líder chinês Deng Xiaoping, no final dos anos 1970, como solução para reunificar Taiwan.

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